O Ter�o |
Brasil |
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Revisto por: Gibran Felippe | Nota:9.5 |
Obra-prima, irretoc�vel Esse trabalho � emblem�tico na carreira do O Ter�o, depois de conceberem verdadeiras preciosidades com forma��es distintas e principalmente o trabalho 'Criaturas da Noite', disco prestigiado com destaque inclusive no exterior, o grupo novamente estava reunido com outra forma��o, dessa vez sem um dos seus principais integrantes, o tecladista e compositor Fl�vio Venturini, respons�vel pela cria��o de grandes m�sicas dos �lbuns anteriores, mais notadamente '1974', a obra-prima do grupo. Sem a presen�a do m�sico mineiro, muitas d�vidas pairavam no ar sobre a continuidade do trabalho da banda e se a mesma teria f�lego para a manuten��o da sua grande qualidade musical, por�m da mesma forma que diversos grupos importantes dos anos setenta, a perda de um elemento fundamental n�o acarretou na perda de sua identidade sonora j� estabelecida, at� porque os outros membros permaneceram e com essa forma��o s�lida: S�rgio Hinds - guitarra e vocal, S�rgio Magr�o - baixo, S�rgio Caffa - teclados e baixo, Cezar de Merc�s - guitarra, viol�o, flauta e vocais e Lu�s Moreno - bateria e vocais o grupo lan�ou 'Mudan�a de Tempo'. Os arranjos ainda contaram com a presen�a do mestre Rog�rio Duprat, pe�a imprescind�vel nas engrenagens do grupo. A faixa inicial 'N�o Sei N�o' j� apresenta o leque de varia��es que O Ter�o ainda dispunha para mostrar, com uma introdu��o bem interessante atrav�s de uma sequ�ncia vibrante nos teclados, sendo acompanhada no fundo por uma guitarra matadora e a bateria do Moreno impressiona pela categoria e eleg�ncia, quebrando o tempo inteiro. Depois temos um cl�ssico desse �lbum, a esplendorosa e pungente 'Gente do Interior', em que ritmo e letra casam com rara harmonia. Para aqueles que vivem ou j� viveram no interior, essa m�sica emociona de fato, pois a sensibilidade da letra remete � simplicidade, ingenuidade e liberdade da vida longe das metr�poles: 'Quem tem o sol das manh�es e os p�s descal�os no ch�o / Conhece a hora certa na luz da porta aberta / Tem sempre aberto o cora��o.' Mas n�o � apenas a letra que � inspirada, o instrumental dessa can��o � divino, a combina��o dos teclados com violinos orquestrais � magn�fica, o dedilhado da viola encanta e as interven��es da guitarra do Hinds arrepiam, aqui vale uma observa��o, pois se em termos de composi��o S�rgio Hinds n�o teve presen�a marcante, ficando praticamente todas as composi��es a cargo do Cezar de Merc�s, em termos instrumentais trata-se de um dos seus melhores desempenhos durante todo disco e por que n�o, um dos melhores trabalhos de um guitarrista brasileiro, j� que sua t�cnica n�o perde nem um pouco para o seu feeling que � exacerbado. Outra curiosidade a se atentar � que em 'Gente do Interior' n�o h� bateria e praticamente n�o se percebe a aus�ncia da mesma diante da qualidade instrumental verificada. 'Ter�as e Quintas' � o set instrumental do disco onde mais uma vez o trabalho de guitarras � muito criativo e os teclados executados pelo Caffa s�o vibrantes, esse � outro aspecto que diferencia 'Mudan�a de Tempo' para os anteriores, a poderosa energia dos teclados de Caffa que mostra personalidade ao suprir a aus�ncia do Venturini. 'Minha F�' possui uma introdu��o instigante nos baixos do Magr�o que at� ent�o estava somente marcando, mas aqui a timidez fica de lado e a partir desse ponto finalmente temos as linhas de baixo marcantes desse grande m�sico. A curiosidade fica por conta da presen�a da Rosa Maria nos vocais e nos minutos finais um solo matador do Hinds para n�o passar em branco. A m�sica t�tulo chega na sequ�ncia e a vejo como uma das melhores m�sicas de todo o rock progressivo brasileiro. 'Mudan�a de Tempo' � respons�vel direta por elevar o conceito desse �lbum acima da nota nove, pois uma composi��o dessa envergadura n�o surge a todo momento. As linhas de baixo est�o formid�veis, a quebrada da bateria � hiper criativa, os viol�es est�o �timos e as interven��es incidentais da guitarra durante os vocais d�o um toque todo especial. Pra fechar segue um set instrumental de quatro minutos em que as varia��es e altern�ncias impostas pelos teclados est�o alucinantes, criando uma atmosfera �nica para a guitarra do Hinds. Depois mais uma vez S�rgio Caffa mostra sua personalidade atrav�s da obten��o do seu espa�o junto ao grupo para uma composi��o pr�pria, a quebrad�ssima 'Descolada' em que o nome casa perfeitamente com o instrumental, aten��o para a flauta do Merc�s. A seguir 'Pela Rua' apresenta uma linha mais tradicional do rock progressivo ingl�s, principalmente pela influ�ncia do Yes, o coro dos vocais lembra muito algumas composi��es do quinteto ingl�s, ali�s, � poss�vel perceber ecos do Yes por toda carreira do grupo, desde os prim�rdios at� os dias atuais, por�m essa influ�ncia fora sempre acrescentada de diversos outros elementos que formaram a malha original do O Ter�o. Exemplo disso � 'Blues Do Adeus', quebrando compassos para um blues tradicional, com a marca��o caracter�stica dos teclados que tanto fizeram parte da carreira de nomes como Eric Clapton e BB King. Os destaques aqui s�o algumas interven��es sutis nos sintetizadores e o solo de guitarra final do Hinds que � maravilhoso, por�m acredito que essa m�sica poderia ser reduzida, para as caracter�sticas do disco, ela acabou destoando por ser longa demais numa mesma sequ�ncia sonora. O �lbum se encerra com 'Hoje � Domingo' mantendo o n�vel elevado, sinceramente essa can��o � ador�vel. A letra � muito boa e assim como 'Mudan�a De Tempo' tem estreita rela��o com o per�odo que o pa�s vivia, com a ditadura militar tolhindo a liberdade das pessoas, o direito de ir e vir e censurando textos, arte e atitudes. A mistura de viol�es com guitarras � sensacional e a bateria do Moreno est� deslumbrante, aqui temos outro solo do Hinds de arrepiar e o disco termina dessa forma, justamente num solo de guitarra, at� porque n�o podia ser de outra maneira pra coroar a estupenda performance desse grande guitarrista. Uma pena que o relacionamento tisnado entre Hinds e Merc�s, com desaven�as pendentes at� os dias atuais, fizeram com que a maiorias das m�sicas desse belo trabalho ficassem esquecidas nas apresenta��es ao vivo ao longo dos anos, j� que praticamente todas s�o composi��es de autoria do Cezar de Merc�s. O detalhe da capa � outro ponto positivo a se destacar, apresentando os integrantes do grupo com express�es apreensivas, ladeados pelas grades de uma janela diante de um tempo ruim do lado de fora, esperando justamente a mudan�a de tempo que sempre est� por vir, podendo ser interpretada tanto para o contexto pol�tico por qual o pa�s passava, como para a pr�pria trajet�ria da banda que necessitava de revitaliza��o ap�s a sa�da de Venturini... mesmo sem obter o mesmo sucesso e admira��o da cr�tica e p�blico com rela��o aos trabalhos anteriores, � ineg�vel que essa obra tamb�m engrandece a trajet�ria do O Ter�o pela qualidade musical aqui demonstrada. |