Cactus Peyotes |
Brasil |
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Revisto por: Gibran Felippe | Nota:7.5 |
Bom, mas com ressalvas. O grupo carioca Cactus Peyotes surgiu como um raio na cena progressiva nacional e desapareceu da mesma forma. Antes mesmo do lan�amento oficial do seu trabalho debutante, a banda j� estava escalada para fazer parte do tradicional festival progressivo RARF no ano de 2001, fazendo show de abertura para nada mais, nada menos que o lend�rio grupo italiano Le Orme. A apresenta��o naquela ocasi�o deixou muito a desejar, pois o desajuste dos equipamentos foi total, al�m do nervosismo caracter�stico de uma exibi��o que demandava extrema responsabilidade devido ao n�vel de exig�ncia do p�blico presente, uma aut�ntica prova de fogo. No palco a tens�o reinava e os m�sicos n�o conseguiram ficar a vontade um instante sequer, talvez por antever os problemas, ou simplesmente diante da rea��o fria ap�s o primeiro n�mero, que fora executado com um peso desproporcional para a ocasi�o. O fato � que aquela m� impress�o, de certa forma, se dissipou ap�s o lan�amento do �lbum 'Cactus Peyotes', pois numa audi��o preliminar j� se tornava poss�vel perceber que a sonoridade do grupo era bem diferente do que foi apresentado ao vivo no Garden Hall. Uma pena que o estrago j� estava feito e n�o se sabe atualmente, quase dez anos depois, qual o paradeiro dos integrantes do grupo e se ainda est�o tentando navegar nas �guas progressivas. A banda flerta com o hard rock cl�ssico, t�pico dos anos setenta, imortalizado por nomes como Uriah Heep, Captain Beyond e Scorpions, em que as guitarras n�o s�o violentas, possuindo a desenvoltura necess�ria com for�a, mas sem agredir os ouvidos. Os teclados s�o dignos de destaque, executando bases e solos com timbres interessantes. A forma��o do grupo para esse trabalho � composta por Daniel Lamas - teclados e viol�o, Christian Pierini - guitarras, Jorge Silveira - bateria, Ives Pierini - baixo e flauta e Marcus Fernandez - vocais. 'Hamurabi Code' abre o disco com um belo pren�ncio nos teclados, fazendo um fundo para a entrada da guitarra altamente suingada e os vocais do Marcus, o instrumental chega ao auge no contraponto em meados da m�sica entre a guitarra e o teclado com a pausa necess�ria para a virada da bateria. Esta sequencia tamb�m � respons�vel por encerrar a mesma, se aproximando bastante do Rush, os breves solos de guitarra e teclados proporcionam uma bela textura harm�nica nesta boa introdu��o. O hard cl�ssico permanece em 'Labyrinths Of The Mind', agora com profus�o de viol�es, algo que n�o foi percebido no show. A linha de baixo � de uma vivacidade atraente, respons�vel pela condu��o de uma base bem criativa, a pausa para o solo de teclado � um dos melhores movimentos do disco, alterando completamente o ritmo introdut�rio, at� a chegada de mais um belo solo de guitarra que cessa para um derradeiro movimento clim�tico e bem progressivo. O grupo deixa um pouco de lado a linha hard setentista para uma execu��o mais alinhada com a cena n�rdica dos anos noventa em 'Sdruwz', com todos aquelas caracter�sticas neur�ticas t�o marcantes naqueles grupos influenciados pela segunda e terceira fase do King Crimson, o problema detectado aqui est� relacionado � curta dura��o da mesma, passando a ligeira impress�o que o desenvolvimento sofreu um corte abrupto, quando seria poss�vel atingir uma esfera um pouco mais elevada, abrindo para solos variados dos instrumentistas e at� mesmo uma poss�vel jam, mas infelizmente isso n�o ocorreu. 'Spirit Of The Forest' � a balada do �lbum, afinal de contas, qualquer grupo de hard que se preze deve ter uma boa balada em suas fileiras, nesse ponto temos um bel�ssimo solo de flauta que casa perfeitamente com os viol�es a la Jimmy Page. Entretanto, algo sai do prumo e incomoda um pouco, mas isso ficar� claro mais � frente. A quebradeira da guitarra com a bateria em 'Magar�a' deixa claro que o �lbum realmente � bem superior ao observado no show de estr�ia do grupo. Os teclados est�o consistentes e nervosos utilizando-se de v�rios timbres e o melhor solo de baixo em toda obra encerra a contento esse bom n�mero instrumental, provavelmente a melhor m�sica do �lbum, j� que o talento dos m�sicos aflora perfeitamente. Em 'Toadstool Tea' o calcanhar de Aquiles do Cactus Peyotes fica n�tido e reside nos vocais. O instrumental se desenvolve com muito vigor e boa t�cnica, mas quando o vocalista salta a voz, realmente a desafina��o � perene e de fato incomoda, principalmente nos movimentos mais pesados e r�pidos, atingindo uma neurastenia ao ouvinte que poderia ser contida ou ajustada em est�dio, este fato tamb�m ficou �bvio no show. Ao chegarmos em 'Soul's Flight', j� se torna poss�vel tecer a compara��o sobre essa quest�o dos vocais com um dos maiores medalh�es de todos os tempos, o venerado Rush. J� que esta m�sica � mais suave e se desenvolve sem muita intensidade, tendo sua base aos viol�es e com teclados menos agressivos, pois bem, nesse contexto mais leve os vocais soam razo�veis, n�o prejudicando o andamento da composi��o, exatamente a percep��o e sentimento quanto aos vocais do Geddy Lee que nos andamentos mais tranquilos s�o agrad�veis, mas sempre que o Rush engrena num hard�o daqueles e ele abre o canto... precisa estar muito sintonizado e absorvido para n�o optar por retirar o disco do player. O show de teclados a cargo do Daniel Lamas toma forma nos dois n�meros seguintes 'The Right To Death' e 'Sacred Blaze', justamente nessas ocasi�es que a sonoridade do grupo se aproxima do Uriah Heep, fazendo com que o trabalho em quest�o possa ser de interesse de todos aqueles que curtam essa linha musical. � poss�vel perceber tamb�m um qu� do prog metal assinado pelo Dream Theater nos anos noventa. O �lbum se encerra com a diminuta 'And I Wait...', t�pica balada na linha dos grupos de grunge da d�cada de noventa, mais notadamente Pearl Jam, os viol�es s�o bem interessantes. Em se tratando de disco de estr�ia, pode-se dizer que o Cactus Peyotes passou no teste e o percal�o durante o RARF n�o pode configurar como uma m�cula que desqualifique o trabalho de est�dio realizado pelos integrantes da banda. Infelizmente ficamos privados de conferir uma poss�vel evolu��o do grupo atrav�s de um segundo �lbum, j� que tudo indica o t�rmino das atividades por parte do mesmo logo ap�s a exibi��o no RARF. Uma outra qualidade importante neste 'Cactus Peyotes' est� na dura��o cl�ssica (40 min.), t�pica de vinil, algo incomum no inicio da d�cada para a m�dia cd, j� que boa parte dos grupos debutantes estava utilizando uma f�rmula menos enxuta em trabalhos de longo f�lego, onde muitos passavam a impress�o da necessidade de se preencher todo o tempo da m�dia (80 min.) muito mais do que se concentrando propriamente na dura��o natural que cada m�sica exige, tornando-se enfadonhos, onde se afirma com tranq�ilidade que poucos realmente atingiram o louvor dos grupos dos anos 90. O disco do Cactus Peyotes com relativa curta dura��o � uma exce��o a esse contexto, na tentativa de mostrar que n�o h� necessidade de se produzir obras de longa dura��o apenas porque a m�dia de grava��o oferece tal op��o, nesse ponto acertaram em cheio. |