Klaus Schulze |
Alemanha |
|
Clique aqui para Ficha Tecnica |
Revisto por: Gustavo Jobim | Nota:6.0 |
"Kontinuum", �lbum de 2007 de Klaus Schulze, foi lan�ado no ano em que o compositor completou 60 anos de idade. Talvez por isso o �lbum carrega um t�tulo pomposo e suas faixas parecem dispostas a mudar o mundo: "Sequencer (From 70 to 07)", "Euro Caravan" e "Thor (Thunder)". Mas mudar o mundo o Schulze j� fez, ainda nos anos 70, e infelizmente este � mais um disco manchado pela mesma sequ�ncia de acordes que assombra a maior parte da produ��o schulziana desde 1995, diluindo sua qualidade.
A primeira faixa mostra o que pode ser o t�tulo mais megaloman�aco que j� vi numa obra de Schulze - "Sequencer (From 70 to 07)". "70" representa o in�cio da carreira de Schulze, haja vista que participou do primeiro �lbum do Tangerine Dream, "Electronic Meditation", lan�ado em 1970. E "07" � o ano 2007 de "Kontinuum". Por�m a m�sica em si nunca se levanta dum patamar introdut�rio. � uma bela sequ�ncia que na sua qualidade transparente lembra "Crystal Lake" da obra-prima "Mirage" (1977), mas esta sequ�ncia n�o vai a lugar nenhum e, pra piorar, na segunda metade da faixa vai dando lugar � temida sequ�ncia de acordes mencionada antes. Parece algo que Schulze programou num computador durante 5 minutos e mandou executar. Tudo � de uma beleza fr�gil, � como observar durante 25 minutos uma pir�mide de cristal girando na ponta de um dos v�rtices. A decep��o � da magnitude do t�tulo que esta m�sica carrega. Este t�tulo �, sim, digno de v�rias pe�as que o mesmo Schulze criou nos anos 70, como "Bayreuth Return", de "Timewind" (1975). J� a segunda, "Euro Caravan", � a mais interessante e dram�tica, e digna da tradi��o que o mestre representa. Tem diversos elementos que v�o se combinando em diferentes arranjos. Cada elemento deste leva alguns minutos pra se apresentar, quando ent�o chama outro, enriquecendo o arranjo. Estas varia��es s�o igualmente divididas ao longo dos 20 minutos da pe�a. O disco come�a aqui. A terceira, "Thor (Thunder)", novamente um t�tulo pesado, come�a com uma assinatura: � uma nova inst�ncia do mesmo solo que Schulze vem tocando ao longo de toda a carreira. � quase como que o m�sico piscasse um olho pra quem o acompanhou at� aqui. � como ouvir J.S.Bach: com 10 segundos j� se sabe quem � o m�sico. Mas lamentavelmente "Thor (Thunder)" tamb�m decepciona pois apresenta uma evolu��o semelhante � faixa anterior, sem acrescentar algo que a torne �nica dentro do disco. O ouvinte habituado com o estilo Schulziano espera que ele toque um solo ao longo da se��o central, de andamento mais r�pido, que dura 12 minutos com varia��es t�o extremamente sutis que na verdade talvez nem existam. � verdade que a m�sica "Ludwig II von Bayern", da obra-prima "X", de 1978, tem exatamente a mesma coisa, uma se��o central que fica apenas repetindo sem qualquer evolu��o. Em "Ludwig" ainda tem o diferencial deste trecho ser pontuado por efeitos sonoros. Por�m esta se��o central � apenas o recheio de uma m�sica que, na sua mistura de orquestra com sons eletr�nicos, � uma das maiores obras-primas da m�sica eletr�nica de todos os tempos. No caso de "Ludwig" a soma � muito maior que as partes, mas isto n�o acontece em "Thor (Thunder)". Na marca de 23 minutos o arranjo se desfaz para os 7 minutos finais, onde ouve-se, para meu desespero, a mesma velha sequ�ncia de acordes, uma verdadeira praga, e os outros sons dando suas declara��es finais. Talvez seja injusto comparar as obras de um mesmo m�sico em per�odos t�o distantes, mas a escolha dos t�tulos deste �lbum leva inevitavelmente a isso. Ele evidentemente faz refer�ncia a essa hist�ria, nos t�tulos e nas m�sicas. O �lbum tem qualidades e mostra que seu compositor realmente � um mestre da forma e de texturas sonoras, como sempre foi, mas os elementos mel�dicos e harm�nicos que ele costumava tamb�m apresentar para enriquecer suas obras est�o se esvaindo. Antes Schulze apresentava grandes mudan�as dram�ticas e chocantes ao longo de suas pe�as, como nos primeiros acordes de �rg�o em "Mindphaser" de "Moondawn" (1976), ou at� mesmo em "Yen" de "Royal Festival Hall Vol.1" (1993), pra n�o ficar nos exemplos dos anos 70. Mas onde antes era assim, agora tudo � de uma suavidade t�o homog�nea e sem cor que muito facilmente cai pra m�sica de fundo. "Kontinuum", de qualidade sonora cristalina, realmente n�o esconde o que �: mostra um compositor muito prol�fico que, ap�s quase 40 anos de trabalho incans�vel, j� entrando na terceira idade, mostra sinais de esgotamento, mesmo enquanto � capaz de produzir obras dignas de sua hist�ria - no caso da faixa central, "Euro Caravan". |