Spectro

Brasil
http://www.rockprogressivo.com.br/canais/bio/alphaIII.htm

Titulo: Spectro
Ano de Lançamento: 1974
Gênero:
Gravadora: Label n�o informado
Número de catálogo:
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  Revisto por: Gibran Felippe Nota:8.5
Nos anos 70 o Brasil teve um certo destaque no cen�rio progressivo, principalmente pela fus�o do rock mais elaborado com doses elevadas da nossa boa MPB, fato que atestava originalidade �s bandas, agradando o p�blico externo. Os grandes dessa �poca foram os Mutantes, O Ter�o e Secos e Molhados. Tivemos tantos outros trabalhos nesse per�odo �ureo do rock progressivo mundial, muitos reeditados nos �ltimos anos por gravadoras nacionais em resgates definitivamente digno de aplausos, mas nenhum deles teve o impacto e a penetra��o que as tr�s supra citadas tiveram. E como conta-se nos dedos os trabalhos progressivos brasileiros nessa ocasi�o, acabamos ficando bem atr�s da Argentina, apenas para citar outro pa�s da Am�rica do Sul como padr�o comparativo.

N�o raro � observar debates calorosos a respeito do estilo e direcionamento musical desses tr�s gigantes brasileiros dos anos 70, aut�nticos precursores do rock mais elaborado no pa�s. Muitos questionam se esses grupos s�o realmente progressivos. Particularmente acredito que sim, mas em contrapartida tamb�m os vejo com caracter�sticas muito peculiares e distintas do aut�ntico rock progressivo europeu, n�o entrarei no m�rito se isso � virtude ou defeito, apenas � um fato que possibilita as observa��es cr�ticas de que aquele tipo de som n�o estava intimamente ligado ao progressivo. Os Mutantes, em sua sonoridade tinham uma grande acentua��o da Tropic�lia, chegaram a gravar com Gilberto Gil, �cone do movimento. Mais tarde, com a sa�da da vocalista Rita Lee, a banda realmente enveredou para trabalhos progressivos, ainda assim, sem abandonar por completo os trejeitos da Tropic�lia. O Ter�o possu�a outra fonte de inspira��o, primeiramente ligada � Jovem Guarda, respons�vel por trazer o rock ing�nuo americano e ingl�s para o Brasil e posteriormente, com a entrada de Fl�vio Venturini, passou a ter uma forte acentua��o mineira, da MBP do Clube da Esquina e de nomes como Milton Nascimento, Wagner Tiso e Beto Guedes, que tamb�m estavam na estrada na mesma ocasi�o. Secos e Molhados talvez tenha sido o grupo mais inusitado de todos, banda de dif�cil classifica��o, com um vocalista soberbo e estupidamente sinest�sico. A banda fez tanto sucesso que se apresentou diversas vezes no exterior e at� os dias atuais deixa grandes saudades, mesmo assim n�o est� naquele grupo que podemos classificar como rock progressivo de forma literal.

Em meio a esse panorama, no ano de 1974, oriunda da cidade de Campinas, nasce uma banda que infelizmente n�o chegou a ficar conhecida ou a gravar um trabalho de forma plena, devido a diversos incidentes, denominada simplesmente de Spectro. O grupo tomou corpo ap�s uma "jam-session", como bem sabemos, uma das caracter�sticas eminentes do rock progressivo e realmente aqui a sonoridade � o puro rock progressivo, sem qualquer tipo de afeta��o. Por esse motivo, posso afirmar com certeza que o Spectro, mesmo sem ter qualquer tipo de reconhecimento ou cr�dito, produziu uma sonoridade que realmente se aproxima por completo do que bandas inglesas e alem�es faziam nos anos 70 no que tange rock progressivo. Portanto, posso apontar com tranquilidade que o Spectro foi um grupo super original para o Brasil, porque o seu trabalho que fora desenvolvido e tamb�m esquecido nos anos 70, n�o possui reflexos na cena brasileira, � �nico! � quase imposs�vel ouvir o som do grupo e pensar em algo criado no Brasil na d�cada setentista, principalmente se levarmos na mente bandas como Mutantes, O Ter�o e Secos e Molhados. A sonoridade e arranjos s�o completamente distintos. O Spectro possui uma �nfase muito grande no trabalho de teclados e percurss�o, praticamente n�o utiliza guitarras e segue uma linha elpiana, algo que realmente n�o se via e at� hoje n�o se v� em terras tupiniquins. E mais, o �lbum � integralmente instrumental e repleto de longos solos de teclados que nos remetem ao saudoso Rick Van Der Linden, que nos deixou ano passado.

O trabalho se inicia com uma composi��o introspectiva, extremamente lis�rgica e espacial, relembrando passagens do "Alpha Centauri" do Tangerine Dream, onde j� podemos antever a personalidade da banda, invadindo um campo que ainda n�o era t�o afeito aos brasileiros nos idos de 74. A m�sica chama-se "Momentos do Universo", como podemos notar, um tema largamente utilizado pelo rock progressivo de uma maneira geral. Em seguida, temos a sinf�nica "Reverberes ao Spectro", com �nfase em �rg�o e diversos sintetizadores muito bem conduzidos pelo multim�sico Amyr Cant�sio, j� podemos enumerar os elementos do grupo encabe�ados pelo pr�prio Amyr � teclados, Duppermel Jr. - percuss�o, Adilson Samuel � bateria e Mario Jorge � baixo. "Reverberes ao Spectro" j� se distancia do Tangerine e se aproxima do space rock psicod�lico, t�pico dos melhores momentos do Hawkwind.

A partir da terceira m�sica, "Meson K", a banda apresenta todas as suas armas, simplesmente um arraso, quebradeira geral, deixando pra tr�s o lado psicod�lico e enfatizando longos momentos de teclados, combinando perfeitamente com o trabalho de percuss�o do Adilson, que faz uma introdu��o de arrassar quarteir�o. Vale destacar a linha de baixo extremamente criativa de Mario Jorge. O �nico fato que pesa contra essa m�sica � a sua baixa dura��o, passando-nos a sensa��o de que poderia ter evolu�do para uma su�te alcan�ando outras esferas sonoras, entretanto a m�sica se encerra abruptamente nos seus quatro minutos e meio.

Na sequ�ncia temos "Casa Branca" e a quebradeira continua, com destaques para as linhas de baixo instigantes, fazendo contrapontos primorosos � evolu��o dos teclados de Amyr. Aten��o para os acordes iniciais, s�o bel�ssimos e provavelmente inspirados por temas eruditos, tendo em vista ser Amyr um pianista com grande acentua��o cl�ssica. Em seguida temos a levada que tanto agrada a ala progressiva que admira nomes como ELP, Trace e Tritonus. Essa � a minha preferida do �lbum, por�m os problemas de mixagem complicam um pouco a qualidade sonora e tamb�m acaba por sofrer o mesmo corte abrupto da m�sica anterior, n�o permitindo um desfecho merecido para essa bela pe�a musical.

"Spectro" se encerra com o tema "Lince Negro" em que Amyr cria um interessante ostinato no sintetizador com grande agilidade e voltando ao perfil sonoro, espacial e exot�rico das duas m�sicas iniciais, apresentando-nos um anti-cl�max para a quebradeira anterior. � poss�vel em "Lince Negro" notar passagens similares � fase inicial do Eloy, principalmente em m�sicas como �Land Of No Body� do �lbum "Inside". Essa m�sica poderia ter sido melhor se a bateria n�o ficasse um tanto burocr�tica, ao contr�rio das m�sicas anteriores, tem momentos que pedia viradas mais fortes que n�o se concretizaram.

O som do Spectro pode ter servido de base para alguns trabalhos do Alpha III, mas no geral, possui um estilo distinto, tendo uma sonoridade mais quebrada e super progressiva. Enquanto o Alpha III � mais eletr�nico e sinf�nico, Spectro � mais visceral, seguindo o trajeto dos power trios setentistas com �nfase em teclados. Sinceramente, n�o conhe�o nada parecido em termos de Brasil, � um trabalho �mpar! Por isso a import�ncia de se conhecer essa obra nascida do auge da d�cada gloriosa do rock progressivo, cabendo meu elogio ao grande trabalho de resgate desse brocado na discografia brasileira. Infelizmente a qualidade do som n�o � das melhores, mas aceit�vel, ainda mais em se tratando de material que estava at� mesmo sujeito � deteriora��o do tempo.

Deixo agradecimento especial a Renato Glaessel, pela grande colabora��o na concep��o dessa resenha.