Anekdoten

Suecia
http://www.anekdoten.se/

Titulo: A Time Of Day
Ano de Lançamento: 2007
Gênero: N�o informado
Gravadora: Label n�o informado
Número de catálogo:
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  Revisto por: Gustavo Jobim Nota:10.0
Apesar de eu n�o conhecer a maior parte das bandas chamadas "progressivas" da atualidade, n�o tenho medo de arriscar que o Anekdoten � uma das melhores atuando no momento, n�o s� na �rea do chamado "rock progressivo". Na minha opini�o o Anekdoten deveria estar se colocando como post-rock ou qualquer outra etiqueta que a m�dia esteja dando, j� que o termo "progressivo" hoje � cercado de preconceitos, para que assim eles pudessem alcan�ar com mais facilidade um p�blico mais amplo.

O Anekdoten est� como envelhecendo como vinho - apesar de eu n�o gostar de vinho. Eles est�o cada vez melhores. A cada disco evoluem mais um pouco, mantendo sempre uma certa sonoridade, qualidade, estilo. Quem acompanhar a
discografia poder� observar esta evolu��o cont�nua. Neste �lbum a banda demonstra plena maturidade e uma identidade pr�pria consolidada, que come�ou a se definir no terceiro �lbum (From Within), ap�s seus dois primeiros �lbuns ainda bem enraizados nas sonoridades progressivas dos anos 70.

Come�amos com a can��o The Great Unknown em que se ouve desde os primeiros
segundos as caracter�sticas do som destes geniais suecos. Letras introspectivas cantadas em ingl�s, se��o instrumental equilibrada, s�lida e en�rgica, a presen�a freq�ente dos sons de cordas do teclado Mellotron, um timbre que � �cone deste formato alternativo de rock conhecido, nos anos 70, como progressivo. Por�m o Anekdoten se apropriou deste timbre de tal forma que hoje, quando pensamos nele, pensamos na banda. Os vocais s�o cantados num ingl�s claro, sem falhas de pron�ncia ou escrita; as letras s�o inclu�das na �ntegra no encarte. O vocalista, de timbre suave, tamb�m veio se aperfei�oando ao longo da carreira do grupo: os vocais s�o emocionados por�m sem exageros, mel�dicos e afinados. H� um perfeito equil�brio entre a voz e os instrumentos.

A primeira can��o evoca id�ias de uma viagem interna, associando essa introspec��o com imagens c�smicas. Em portugu�s, eles dizem "Finalmente, estamos indo / aonde nenhum homem foi / mergulhando profundamente no grande desconhecido. / Espa�o e tempo v�o passando, / mas o mundo l� fora / � engolido pelo o c�u sem estrelas." A m�sica continua mencionando abertura de portas, longas aus�ncias, "isto est� s� come�ando" e, finalmente, somos transportados para o cosmo com "todas as for�as do cosmo me levam / conforme n�s cruzamos a gal�xia / estou chegando em casa!" Ainda nesta primeira m�sica, temos o som de flauta, um instrumento at� ent�o in�dito no Anekdoten.

A pr�xima can��o, 30 Pieces (30 Peda�os), retoma a assuntos melanc�licos, outra marca deste grupo. O instrumental � cristalino com a forte presen�a de uma batida simples mas eficiente, e presen�a constante mas sutil do som de �rg�o el�trico. A letra � pontuada por riffs de baixo e guitarra tamb�m econ�micos e eficazes. O personagem desta can��o se sente perdido e abandonado, conforme este trecho: "estou com frio e faminto / diga-me por que eu deveria acreditar / eu vejo morte e vejo voc� e eu / q escurid�o cai sobre mim / a trai��o fez uma profunda marca de queimadura (...)". No final da m�sica, ao personagem ainda resta um fio amargo de esperan�a: "O que seria necess�rio para tornar todos os meus sonhos realidade? / s� uma palavra, / me d� s� um sinal, / s� uma pequena mentira..."

No meio da m�sica temos uma passagem instrumental com a primeira grande participa��o da flauta, que volta no trecho final, tamb�m instrumental, desta vez acompanhada do piano. O clima �, como sempre, melanc�lico por�m altamente en�rgico, combina��o que � a marca registrada do Anekdoten.

Chegamos � terceira can��o, King Oblivion, que remete a imagens do livro b�blico do Apocalipse. Novamente, estas imagens est�o associadas a quest�es existenciais: "as 7 trompas chamam, / gafanhotos surgem, escurecendo o c�u e o sol,/ a cabe�a da serpente surge / das profundezas, dos rec�nditos da sua mente, / j� imaginou por qu�? / o que � mais uma mentira / numa sombria floresta de nega��es?"

Novamente, temos nesta terceira can��o mais inova��es no som do Anekdoten, sempre sutis por�m marcantes. Os interl�dios instrumentais s�o marcados por longos tons de sintetizador combinados com tons distorcidos de guitarra. Esta combina��o d� um clima marcante � m�sica.

A pr�xima can��o, A Sky About to Rain (A chuva est� prestes a cair) � o cl�max que fecha a trilogia sobre mentiras deste �lbum. "Como chegou a este ponto? / N�o posso mais fingir que nada mudou. / Eu afoguei as d�vidas e mastiguei as mentiras, / Ignorei os espa�os entre as linhas. / N�o aja com tanta surpresa / quando voc� sabia de tudo o tempo todo. / Cada uma de todas essas mentiras / queima um buraco na minha alma. / A chuva est� prestes a cair."

Esta � uma das mais pungentes can��es do Anekdoten. Ap�s este refr�o, que fecha com o t�tulo da m�sica, somos levados por uma grandiosa, triste melodia tocada nas cordas do Mellotron, seguida por nervosas passagens de guitarra. O sintetizador tamb�m se faz presente novamente.

N�o � toa, dada sua evidente relev�ncia e posi��o central no �lbum, esta m�sica � prolongada pela faixa instrumental Every Step I Take (Cada Passo Que Dou). Numa eterna ascen��o com longos acordes e feedbacks de guitarra levados por uma bateria s�lida e constante, esta m�sica faz lembrar a faixas mais pesadas do Sigur R�s. Com um �ltimo longo acorde, encerramos a primeira metade deste �lbum.

Um solit�rio viol�o ac�stico abre a segunda metade, na tranq�ila e surreal�stica can��o Stardust and Sand (O P� das Estrelas e a Areia). Uma faixa mais calma, apenas viol�o, sintetizador - desta vez, com um papel mais relevante -, cordas (sempre do Mellotron) e raras pontua��es percussivas. A letra desta vez � mais enigm�tica e nebulosa. No meio do caminho, o arranjo muda para algo com um leve sabor folk, guiado por um violoncelo ao fundo, com um saboroso trabalho percussivo, uma passagem bastante peculiar. As imagens on�ricas desta m�sica se encerram com "te vi na dist�ncia, / que droga, estes p�s de chumbo, / tentei me levantar, / mas nem consegui dizer teu nome. / dormi com um olho aberto / o sonho segurei firme na m�o / acordei, e o encontrei quebrado / entre o p� das estrelas e a areia."

Voltamos ao rock caracter�stico do Anekdoten para a faixa mais en�rgica do �lbum, In For A Ride. Esta � a que mais remete aos discos anteriores, que mais se aproxima de um "progressivo tradicional". Ao mesmo tempo, este som tradicional � enquadrado na atual maturidade estil�stica do grupo. Neste ponto do �lbum, n�o h� mais novos sons a serem apresentados. Eles s�o colocados � prova na m�sica mais agitada do disco, com grande efeito.

A hist�ria do nosso personagem continua, conforme ele hesita diante de novos horizontes: "e se for por isso que eu estive esperando? / ent�o, o que ser� de mim? / (...) sinais de p�nico... / mas eu comprei o ingresso e vou entrar nessa viagem / (...) n�o pense no amanh�, / n�o fique pensando nos erros que voc� cometeu. / esta � a hora, este � o lugar / e quando todas as luzes estiverem apagado / voc� vai ver s� que viagem."

Finalmente, chegamos � �ltima, lenta m�sica, Prince of the Ocean (Pr�ncipe do Oceano). O personagem continua em d�vidas sobre seu futuro, sua exist�ncia: "Examinando mem�rias, dissecando sonhos / procurando por vis�es de grandes esquemas perdidos / id�ias mal-realizadas foi tudo o que encontrei / nenhum guia para meu futuro, nenhuma chave para aquilo em que me tornei / Eu sou uma ilha, um navio no mar / estou � deriva ao sabor dos ventos, para onde as correntes levarem / Eu sou uma ilha, uma estrela na noite / eu procuro no horizonte por far�is, / longas s�o as horas, / parado � o mar."

Finalmente, uma voz superior o incentiva a se libertar e assim em tons maiores e esperan�osos terminamos esta viagem: "Quando voc� tiver passado pelos perdidos e achados, / quais foram as coisas que ficaram na sua mente? / quando voc� estava se remexendo na cama, / quais foram os pensamentos passaram pela sua cabe�a? / Eu sei que voc� est� ansioso por um plano maior, / um porto que o receba bem, um porto seguro. / Abandone a �ncora, ice as velas, / amarrado ao mastro, siga em frente!"

Em A Time of Day, o Anekdoten n�o desperdi�a nenhum dos 45 minutos de dura��o do disco. Letras interessantes, musicalidade impec�vel, encarte de 12 p�ginas em papel de excelente qualidade, contendo reprodu��o da capa e outros gr�ficos, as letras do disco e informa��es t�cnicas. Digipack tamb�m de �tima qualidade com foto da banda no est�dio. Um pacote sem defeitos. � imposs�vel dar nota menor que 10 neste que � um dos grandes �lbuns de 2007!