Entrevistas

Jones J�nior (Index) (2009-11-14)

Conduzida por Gibran Felippe




Foto tirada por David Zoutendyk, no festival Bajaprog (M�xico)

ProgBrasil: Fale um pouco do in�cio de sua carreira, como tudo come�ou?
Quais s�o as suas principais influ�ncias?


Jones: Minhas primeiras aulas de viol�o foram aos 11 anos, e estudei teoria e viol�o cl�ssico na Escola de M�sica Villa-Lobos no Rio de Janeiro. Considero este in�cio com a professora Mara Lucia Ribeiro decisivo na minha forma��o, pois al�m de ser algu�m jovem na �poca, e que profissionalmente j� dispensava coment�rios, ela tem a cabe�a aberta e permitiu que meu interesse pelo trabalho do Steve Howe e Jan Akkerman convivesse pacificamente com Leo Brower e Villa Lobos. O estudo da guitarra veio posteriormente, quando decidi que queria mais do que adaptar a t�cnica do viol�o � guitarra. Minhas refer�ncias iniciais foram Yes e Focus, e mesmo hoje continuam sendo. E o lado "compositor" foi abastecido com uma forma��o em harmonia tradicional ( mais ligada a musica cl�ssica ) que � fundamental no meu trabalho de composi��o.

O Rock Progressivo especificamente entrou na minha vida atrav�s dos discos de um primo, que tinha uma cole��o invej�vel pra �poca, no Brasil. Foi ele quem me falou pela primeira vez em Yes, ELP, genesis, Deep Purple, e na EldoPop do Rio dos anos 70, que tocava tudo aquilo e muito mais... a� sim a ficha caiu de vez.



ProgBrasil: O timbre � geralmente associado como marca registrada de muitos guitarristas, como funciona essa busca por um determinado timbre dentro da concep��o sonora de uma composi��o, de um arranjo, de uma base ou solo?


Jones: Sempre que come�o uma composi��o ou arranjo, eu tenho na cabe�a os timbres enquanto vou montando a id�ia. No Index a coisa vai at� mais longe, todos palpitam nos timbres de todos, embora a �ltima palavra seja sempre do pr�prio instrumentista. Eu cresci admirando caras como Santana, Ritchie Blackmore e Jan Akkerman, cujos timbres parecem impress�o digital... mudam o equipamento, a guitarra, mas o timbre est� dentro da cabe�a e debaixo dos dedos.

Todo guitarrista tem suas prefer�ncias, eu gosto dos timbres mais org�nicos e naturais, j� outros gostam de usar muitos efeitos em cascata, compressores, oitavadores, "trituradores", etc... minha opini�o � que a imensa maioria se perde no meio da parafern�lia eletr�nica, � raro encontrar caras como o David Gilmour, que mesmo no meio de toda aquela parafern�lia, ainda encontra o som natural da sua Stratocaster. O que existe no mercado hoje, aquelas pedaleiras compactas com trilh�es de efeitos, conseguem a incr�vel fa�anha de fazer uma Stratocaster pr�-CBS soar igual a uma Giannini Stratosonic... tudo nivelado por baixo, est�o mais pra buzina em engarrafamento de tr�nsito do que pra instrumento musical.

A beleza do timbre est� diretamente ligada a simplicidade, n�o existe beleza sem preservar as caracter�sticas naturais do timbre do instrumento, pois em �ltima inst�ncia a guitarra � mesmo um instrumento simples. Boas madeiras do corpo, bra�o e escala, boas cordas e captadores, s�o mais importantes que pedaleiras e efeitos mirabolantes lan�ados anualmente pela industria.



ProgBrasil: Como foi fazer parte no processo de constru��o ativa para uma das obras m�ximas do progressivo nacional, o venerado ''Velha Gravura'', do grupo Quaterna R�quiem?


Jones: O Quaterna foi uma das p�ginas mais importantes da minha vida, musicalmente e pessoalmente. Era uma �poca em que a cena progressiva carioca j� n�o tinha mais o Bacamarte, e que raros eram os shows de bandas que tinham qualquer elemento progressivo. Na verdade, lembro que qualquer coisa que remotamente lembrasse progressivo j� merecia nossa aten��o, e �amos a shows onde 99,99% eram rock'n roll ou MPB. Se algo lembrasse remotamente progressivo, j� teria valido a pena.

Montamos o Quaterna R�quiem motivados em fazer um progressivo que pra n�s, naquela �poca, fosse genuino. E foi depois de algumas "fitas demo" e alguns shows que as coisas come�aram a acontecer de forma natural. Minha lembran�a mais remota desta �poca era que muitos dos nossos amigos, mesmo os mais chegados, iam assistir os ensaios na Penha ( sub�rbio do Rio ) e se surpreendiam com as composi��es. �quela altura, nos parecia imposs�vel termos tomado o caminho errado, est�vamos convictos do trabalho e motivados, e foi isto em �ltima an�lise que desenbocou no Velha Gravura alguns anos depois.

Naquela �poca nossos shows eram compostos das m�sicas do Velha Gravura, 3 que viriam a fazer parte do primeiro album do Index, e 2 do album do Kaizen. Era uma �poca de grandes conquistas e muitos sonhos, e embora as dificuldades pra se alcan�ar o t�o sonhado "primeiro disco" fossem literalmente estratosf�ricas, tinhamos f� que conseguir�amos chegar nele.

Lembro que fui incentivado por um amigo pessoal, que conhecia tecnicamente o processo de fabrica��o do vinil e tamb�m o nosso trabalho, e era um dos entusiastas do Quaterna R�quiem naqueles tempos. Depois da conversa que tive com ele, sa� t�o entusiasmado que cheguei pra ensaiar convicto que t�nhamos que gravar o material de qualquer jeito, lembro at� da conversa que tivemos naquele dia. O plano seria gravar, depois ver�amos como arrumar algu�m pra prensar o Velha Gravura j� que no or�amento ( leia-se "no nosso bolso" ) mal cabiam os custos da grava��o. E a grava��o do Velha Gravura foi uma verdadeira catarse, n�s 5 dentro de um est�dio no Meyer, no Rio de Janeiro, e mais um t�cnico de grava��o que acabou se tornando um amigo fraterno, recentemente falecido, Paulinho Palhares.

Em m�sica, quando as coisas d�o muito certo, � porque v�rias condi��es est�o presentes. Al�m de talento, � necess�rio ter amizade e companheirismo, e ningu�m era mero coadjuvante na banda naqueles tempos. E existe ainda uma quest�o muito importante, o momento certo. Aquele era o nosso momento, por sorte tinhamos amadurecido o repert�rio todo e chegado ao ponto de grav�-lo no melhor momento da banda. �ramos dedicados, e compartilh�vamos uma enorme ansiedade de ver o trabalho ganhar o mundo, algo que s� seria poss�vel se pud�ssemos grav�-lo.



ProgBrasil: Quais os motivos para deixar o Quaterna, assim como o Rio de Janeiro e rumar em dire��o ao sul do pa�s, local onde se deu a forma��o do Index?


Jones: As duas coisas tiveram a mesma motiva��o, a mesma raz�o. Antes do profissional existe o ser humano, e naquela �poca eu passava por problemas particulares que me atrapalharam a concentra��o, e me impediam de atuar com a dedica��o que a banda e meus amigos mereciam. Por mais doloroso que tenha sido pra todos n�s, e efetivamente foi muito doloroso, eu achei que precisava sair pra que tivesse um tempo pra colocar a cabe�a no lugar. Hoje, com a maturidade que tenho, sei que poderia ter administrado melhor as quest�es emocionais, sem precisar abandonar algo que fundei e que tanto amava. Mas tamb�m sei que � f�cil analisar as coisas quando as olhamos de fora, al�m de que ningu�m vive por n�s as coisas que n�s precisamos viver. Sempre fomos amigos, e tendo sido o primeiro a sair mesmo antes do Marco e do Kl�ber, que sairam logo depois por n�o conseguirem conciliar a banda com suas obriga��es profissionais, d� pra imaginar a ruptura que foi pra todos n�s aquele momento.

A parte boa � que acabei decidindo sair do Rio de Janeiro tamb�m, esta sim uma decis�o madura e a mais acertada que j� tomei na vida, e que em nenhum momento me arrependi ou pensei em voltar atr�s. Embora tenha muito orgulho das minhas ra�zes cariocas, sair do Rio me permitiu olhar a vida por uma outra perspectiva, melhor e mais saud�vel.



ProgBrasil: O Index j� nasceu com uma grande obra hom�nima em 1999(devidamente esgotada), provando que a chama progressiva estava mais acesa que nunca em ti, como foi o desenvolvimento de um trablho com uma nova equipe de m�sicos, bem como a recep��o do p�bico naquela ocasi�o?


Jones: A recep��o ao primeiro album do Index n�o poderia ter sido melhor. Meu projeto inicial era reunir m�sicos e gravar minhas composi��es da �poca do Quaterna, pra que houvesse um registro delas. Como havia pouco tempo que estava no sul, tive aquela natural dificuldade no in�cio de encontrar as pessoas certas. Foi quando conheci o Otaviano Kury, e a� meu projeto inicial mudou completamente. Minha impress�o inicial estava correta, tratava-se de um grande m�sico e algu�m com quem poderia efetivamente montar uma banda, compartilhar id�ias e fazer mais do que um �nico album. Desta percep��o nasceu o Index como banda, e embora o primeiro �lbum tenha nascido da heran�a de repert�rio do Quaterna, jamais teria tido o brilho que teve sem a m�o do Otaviano nos arranjos e na produ��o. Enfim, havia encontrado um amigo, com um talento enorme, e disto nasceu o Index.



ProgBrasil: Os trabalhos subsequentes, ''Liber Secundus (2001)'' e ''Identidade''(2004) tamb�m j� se esgotaram, ainda assim, algumas
cr�ticas negativas surgiram, principalmente na compara��o ao primeiro disco, como conviver com essas cr�ticas num segmento t�o restrito?


Jones: Considero natural e leg�timo que as pessoas tenham uma opini�o, eu mesmo as tenho em rela��o ao meu pr�prio trabalho. Todas as cr�ticas, positivas e negativas, s�o sempre bem vindas. Prefiro uma cr�tica embasada, que te faz crescer profissionalmente, do que um tapinha nas costas.

Pela minha experi�ncia, acho que existe uma dificuldade no artista em saber quando dar aten��o a determinada observa��o, e separ�-la daquelas que vem calcadas puramente no gosto pessoal. � mais f�cil ser refrat�rio a tudo, por�m identificar e dar aten��o a determinadas observa��es pertinentes nos fazem crescer. Meu professor de composi��o certa vez fez coment�rios pertinentes em rela��o � harmoniza��o de uma m�sica do Velha Gravura, eu poderia discordar cegamente, mas dei aten��o ao que ele dizia e aprendi com isto. J� a opini�o de algu�m que s� goste de progressivo sinf�nico, por exemplo, n�o deve ser elemento de transforma��o do trabalho do Magma ou do Henry Cow. O que quero dizer � que n�o existem verdades absolutas, por isso ou�o o que falam do meu trabalho com aten��o e respeito, embora nem tudo eu leve realmente em considera��o.

Quanto aos albuns, obviamente gosto de tudo o que fiz, mas tenho minha pr�pria opini�o sobre eles e cada um tem uma hist�ria diferente. O per�odo imediatamente anterior � grava��o do Liber Secundus, foi sem d�vida o momento mais dif�cil da banda devido a transi��o desde a sa�da da Eliane. O processo de recomposi��o foi extremamente complicado e desgastante, tivemos muitos problemas com os m�sicos que entravam e saiam, foi uma �poca terr�vel. Isto at� encontrar o L�o e o Ronaldo, que deram uma oxigenada no trabalho e nos fez renascer, e a fam�lia que at� ent�o era de 2 pessoas, passou a ser de 4. A cr�tica que tenho ao Liber Secundos � em rela��o � sonoridade final dele, um tanto "modernosa" demais pra proposta do Index. Foi nossa primeira e �ltima experi�ncia com aquilo que, pra mim, se tornou o inimigo n�mero 1 do Index: o ProTools!!!

J� no Identidade, devido a isto, enquanto iamos ensaiando e compondo o repert�rio, nossa �nica certeza era que a sonoridade do album fosse diametralmente oposta ao album anterior. Conseguimos comprar um gravador anal�gico ( fita ), uma m�quina de 16 canais e com isto fizemos tudo do nosso jeito, como a gente queria e sem concess�es. Embora as pessoas tenham suas predile��es e eu as respeite, o album que eu sempre quis gravar na vida � o Identidade, desde a primeira nota que coloquei no pentagrama at� o �ltimo "stop" do gravador de rolo. � o trabalho que mais gosto dentre todos os que fiz at� hoje.



ProgBrasil: Como foi a experi�ncia de se apresentar no RARF, voltando a tocar para uma plat�ia carioca?


Jones: Foi muito gratificante, e pro Otaviano, pro Ronaldo e pro Leonardo uma experi�ncia inesquec�vel pois foi a primeira vez que os tr�s tocavam para um p�blico composto somente de f�s de rock progressivo, j� que o p�blico ga�cho � mais ecl�tico no universo do rock em geral. Embora a situa��o ca�tica da produ��o do show, incluindo uma inacredit�vel passagem de som que nos deixou ainda mais apreensivos, n�o tinhamos vindo de t�o longe pra morrer na praia. Mas acho que muito do sucesso daquele show de deveu a nossa exper��ncia como m�sicos, por isso inclusive lamentei o ocorrido com o Octophera pois foram prejudicados.



ProgBrasil: E a apresenta��o no M�xico? Quais foram os pontos marcantes daquele hist�rico show? Como foi a rea��o do p�blico ap�s o evento?


Jones: Bom, este foi sim o �pice do Index e da minha carreira! Nada se compara ao que vivemos e sentimos l� naquela semana. Vendemos todos os CDs que levamos, e se tivessemos conseguido levar na bagagem o triplo da quantidade, ainda assim ter�amos vendido tudo. Pessoas de todos os lugares vindo nos parabenizar, demos mais entrevistas l� que nos 11 anos em atividade aqui no Brasil, e autografei mais camisetas com a estampa do Velha Gravura que na �poca que tocava no Quaterna R�quiem. Foram dias m�gicos, e uma promo��o pro nosso trabalho que n�o ter�amos como fazer sem a ajuda do Leonardo Nahoum e da Rock Symphony, nosso produtor na �poca.

E do show em si, fomos muito bem. Voltando �quilo que falei antes sobre as criticas, a gente sabe quando os elogios s�o espont�neos e sinceros, e quando s�o somente educados. O Leo tocou demais, tanto que foi escolhido o baterista do festival por uma destas revistas especializadas que fazem reviews. Mas o mais emocionante foi o epis�dio do Ronaldo com o Bill Kopecky que acompanhava o Par Lindh. Ao final do nosso show, o Kopecky foi cumprimentar o Ronaldo, e teceu enormes elogios a ele. Ao final do show do Par Lindh, o Ronaldo meio t�mido foi retribuir a gentileza e cometeu a besteira de dizer que ele ( Kopecky ) era o grande baixista do festival. O cara virou pro Ronaldo e disse "n�o..n�o... voc� foi o melhor, realmente!! ". Por mais que eu deteste compara��es, muito menos esta coisa de "melhor X pior", n�o tivemos como evitar que a situa��o inusitada nos enchesse de orgulho, e obviamente o Ronaldo n�o cabia dentro de si.

Se musicalmente o show foi fant�stico, pessoalmente o mais marcante foi ter podido conversar com um dos meus grandes mestres na m�sica, o grande Thjis Van Leer. Al�m do m�sico e do compositor genial que �, que pessoa fant�stica aquele sujeito. Ele � a reafirma��o de uma coisa que aprendi cedo na m�sica: quem conhece seu pr�prio valor n�o precisa de estrelismos, n�o precisa de pedestal, nem manter dist�ncia das pessoas que gostam do seu trabalho. T�o importante quanto ter seu trabalho reconhecido pelas pessoas, � saber respeitar as mesmas pessoas que gostam dele.



ProgBrasil: Ap�s o renascimento do rock progressivo nos anos noventa, estamos vivendo um momento de entre-safra, como anda, na sua vis�o, o panorama do rock progressivo no Brasil ? E no exterior?


Jones: Gostos � parte, acho que os artistas continuam produzindo um rock progressivo de qualidade, tanto aqui no Brasil quanto no exterior. Temo que o nosso problema atual n�o esteja propriamente ligado aos ciclos de altos e de baixos, �pocas de entresafra e de retomada que o progressivo sempre experimentou ao longo dos anos. O paradoxo dos dias de hoje � a veicula��o do trabalho.

Por isso, acho que a sobreviv�ncia n�o s� do rock progressivo, mas da m�sica enquanto produto, passa necessariamente pela solu��o disto, que se tornou um problema. Embora felizmente o Index n�o tenha tido problemas pra vender os trabalhos, n�o vivemos numa ilha deserta e percebo o que acontece a minha volta. Sem uma forma de gravar o trabalho, e que este se pague, cada vez mais crescer�o as dificuldades dos artistas e menos trabalhos ser�o lan�ados. O que antes era caro por�m vendia, hoje se tornou mais barato mas muitas vezes nem se paga. Fazer um investimento no passado pra gravar um LP era caro, mas havia retorno e garantia o trabalho seguinte. Hoje se tornou mais barato lan�ar um CD, s� que n�o vende e muitas vezes nem se paga.

Ent�o como esperar um pr�ximo trabalho? Vejam que n�o me refiro � modelos de mega-sucessos da ind�stria do entretenimento, apenas gostaria que todo artista pudesse garantir a continuidade do seu trabalho com recursos captados dentro da pr�pria cadeia musical, um album gerando recursos que garantissem o pr�ximo. Esta � a quest�o a ser resolvida.



ProgBrasil: � poss�vel tra�ar uma estimativa positiva para o estilo na pr�xima d�cada?


Jones: N�o identifico problemas de criatividade, acho que tudo passa pelo que comentei na pergunta anterior, depende de como ser� equacionado o problema da veicula��o do trabalho. Sinceramente, se continuar o panorama atual, acho que cada vez mais teremos verdadeiras obras-primas engavetadas, que jamais ver�o a luz do dia. � quase como que voltar � �poca de Bach, Vivaldi e Mozart em que s� existia m�sica executada ao vivo, e o �nico registro poss�vel era a escrita em partitura.



ProgBrasil: Quais grupos e artistas nacionais, que est�o na ativa, fazem por merecer uma aten��o especial do p�blico?


Jones: Gosto muito de 3 bandas, Tempus Fugit, Wejah e Po�os e Nuvens. A Tempus nem precisaria comentar por raz�es �bvias, mas acho que o Chessboard a colocou novamente no olho do furac�o, � dos lan�amentos recentes o que mais gosto. O Wejah tem uma interessante mistura harm�nica, nada �bvia, que o diferencia e chama bastante a minha aten��o, particularmente o trabalho harm�nico de guitarra do Nelson. E a Po�os e Nuvens com sua mistura de progressivo sinf�nico com m�sica nativista do sul do Brasil, � tamb�m um trabalho singular e do qual gosto muito.



ProgBrasil: As novas tecnologias, principalmente as m�dias e internet, s�o aliadas ou inimigas dos m�sicos?


Jones: Independente da minha predile��o pelo mundo anal�gico, acho que alguns elementos que a era digital trouxe, que a princ�pio seriam facilitadores, foram subvertidos e se voltaram contra os m�sicos. N�o creio que exista uma solu��o simples, pois isto � de certa forma, uma consequ�ncia da mudan�a de comportamento das pessoas.
Outro dia um amigo me contava sobre o fim do mercado de rel�gios de pulso, pois a mudan�a de comportamento das novas gera��es, que olham a hora no celular, praticamente a tend�ncia a medio prazo seria acabar o mercado como existe hoje, e os rel�gios de pulso tenderiam a passar a ser vendidos para poucas pessoas, e como j�ias.

Acho que a quest�o da m�sica � semelhante, o mp3 que poderia servir como facilitador na divulga��o, se tornou para o consumidor "o pr�prio produto" em si, a ponto das pessoas acharem que um amontoado de arquivos num HD representa uma cole��o de alguma coisa. Pior ainda, muitos ouvem naquelas caixinhas multimidia de computador.
Vejam bem onde chegamos... cole��o de algo intang�vel, ouvida em algo que n�o � equipamento de audio. � neste mundo que estamos vivendo, e por ser algo comportamental, n�o creio que exista uma solu��o simples.



ProgBrasil: A tecnologia digital foi capaz, ao longo dos anos, de suplantar as grava��es anal�gicas?


Jones: De forma alguma! Se formos analisar a natureza f�sica de um sinal de audio, ela � anal�gica. Tudo o que o universo digital faz � simular, pra muitas aplica��es de forma at� fiel, a natureza deste sinal de audio que nasceu anal�gico. Portanto, de cara j� estar�amos diante de uma grande contradi��o, como poderia a simula��o de alguma coisa suplantar a mesma em "estado bruto"?
Al�m disto, h� que se levar em conta que o CD nasceu com um formato extremamente limitado, na �poca por raz�es do alto custo dos conversores, mas inevitavelmente se tornou o padr�o. Mesmo com taxas maiores como as do DVD-Audio e SACD, tudo isto s�o codifica��es e decodifica��es de algo cujo estado bruto � essencialmente anal�gico.

Ainda assim, � muita "qu�mica" adicionada... imaginem que em grava��es digitais, quando a din�mica da m�sica a leva para volumes muito baixos, � necess�rio somar um ru�do � musica pra transformar os erros de quantiza��o da convers�o do sinal anal�gico em informa��o digital, em algo mais aleat�rio e assim fazer parecer um ru�do de fundo ( Dithering). Como pode algo em que at� o ru�do de fundo � fabricado, suplantar o gravador de rolo?

Como j� disse anteriormente, tenho restri��es a sonoridade do Liber Secundus, que foi o �nico de todos os meus trabalhos que foi gravado digitalmente, com ProTools / Macintosh. Todos os outros - Velha Gravura, Index e Identidade, foram gravados em rolo anal�gico.

A �nica discuss�o pertinente no que se refere ao "analogico versus digital" est� no fato dos LPs de vinil, principalmente os de baixa qualidade, trazerem chiados e ru�dos que os CDs n�o t�m. Por�m os LPs est�o em processo de franca evolu��o, onde os recentes LPs de 180 e 200 gramas praticamente n�o apresentam mais ru�dos de fundo nem clics.



ProgBrasil: Como foi a experi�ncia de produ��o relativa ao DVD do Index e a parceria com o selo carioca Masque?


Jones: Embora complexa, a produ��o do DVD foi uma experi�ncia nova e muito gratificante pra todos n�s. E a parceria com a Masque foi simplesmente perfeita, o Gustavo Paiva foi mestre no trato conosco e um cara muito correto.

Durante a produ��o, nosso maior questionamento foi em rela��o ao que quer�amos para a est�tica visual do DVD, que era o ponto de partida de tudo. Foi interessante o exerc�cio de imaginar com que cara nossa m�sica se identificava. Nos foi oferecido toda sorte badulaques visuais, luzes "girantes", decora��o de palco, etc.. mas s� consegu�amos nos ver no Focus At The Rainbow. Depois de muitos "tratos a bola", decidimos que quer�amos algo assim, por mais que gostassemos dos efeitos visuais de muitos shows que conhecemos, queriamos algo cru e que realmente valorizasse principalmente a nossa m�sica.

Hav�amos conseguido um patroc�nio do programa de incentivo a cultura da prefeitura de Caxias do Sul, que se n�o conseguia cobrir todos os gastos, viabilizou com extrema qualidade a parte mais complexa que foi a produ��o e a capta��o de audio e video do show. Devido a nossa inexperi�ncia com produ��o de video, tivemos um contratempo e uma enorme dor de cabe�a com a primeira edi��o das imagens, feita por quem cabia no or�amento mas n�o na nossa expectativa. De volta � prancheta, desta vez mais bem assessorados, atingimos o que quer�amos pro resultado final.



ProgBrasil: Qual a faixa que mais te agradou como resultado final neste DVD? Por que um cover do Jean-Luc Ponty nos b�nus?


Jones: Acho que o DVD ficou bastante homog�neo, inclusive tentamos preservar ao m�ximo o que foi o show, permitindo at� que alguns pequenos erros de execu��o fossem pra vers�o final. Quer�amos acima de tudo que fosse um trabalho verdadeiro, e neste ponto nos orgulhamos do resultado final. Inclusive, a Fogos de Santelmo foi pros extras por n�o termos como faz�-la na vers�o 5.1 de verdade, como est�o as outras musicas, devido a um problema t�cnico durante a capta��o do audio no show durante esta musica. Poder�amos ter usado os famosos plug-ins que simulam 5 canais a partir do estereo nesta musica, mas depois de tanto esmero com o resto do audio seria empobrecer algo do qual nos orgulhamos.

Quanto a Rhythms Of Hope, por ter um trabalho autoral, n�o temos muito espa�o pra covers, por isso gostamos de fazer uma refer�ncia tal como na Starless, e seria esta a id�ia inicial. Por�m, o Ronaldo chegou com o solo de baixo todo tirado, e hav�amos convidado o Kleber pra vir tocar conosco a "Quaterna Requiem" na vers�o que toc�vamos nos shows do meus tempos no Quaterna. Ent�o resolvemos tocar toda ela, e o maior trabalho mesmo foi conduzir a harmonia da Fogos de Santelmo pra fazer a jun��o ficar legal e soar natural, sem modula��es bruscas.

Um das coisas que nos deu mais prazer foi dividir o palco com 2 amigos queridos, que deram um brilho extra ao DVD, Kleber Vogel no violino na Quaterna Requiem e Rafael Gubert no vocal da Guernica em NY.



ProgBrasil: Existe algum grupo/artista que voc� gostaria de assistir ao vivo, caso surgisse uma oportunidade?


Jones: Eu tive a oportunidade de assistir muita coisa que fez parte da minha forma��o, mas realmente assistir o Yes e o Focus foram momentos indescrit�veis. Se houvesse viabilidade, uma vez que nem juntos est�o mais, eu gostaria de assistir o Focus com o Jan Akkerman e o Gentle Giant.



ProgBrasil: Se tivesse que escolher cinco discos para levar a uma ilha deserta, quais seriam?


Jones: Pergunta complicada esta, hein... pra ser justo com algumas das minhas maiores influ�ncias, eu levaria o Close To The Edge, Focus 3, Machine Head do Deep Purple, o Inner Mounting Flame da Mahavishnu Orchestra e o Dark Side Of The Moon.



ProgBrasil: Voc� j� desenvolveu ou pensou em desenvolver alguma obra conceitual? Caso positivo, qual seria o tema a ser escolhido para uma abordagem musical ampla? Quais obras conceituais voc� gostaria de destacar como refer�ncias, j� que o universo progressivo est� repleto delas?
O Index est� trabalhando em novas composi��es para um novo disco de est�dio?


Jones: Curiosa a pergunta, pois � justamente no que estamos trabalhando pro pr�ximo trabalho, um album conceitual. � que depois de gravarmos o Identidade chegamos numa grande quest�o: o que fazer depois de gravar o album que cada um de n�s sempre sonhou gravar? O lan�amento do DVD ano passado nos deu tempo pra compor com calma, e � nisto que estamos trabalhando.
O tema ser� a p�s-moderindade, n�o com uma abordagem depressiva, "p�s-escombro", mas como uma constata��o da presen�a, cada vez maior, da incerteza na vida do homem; fal�ncia da ci�ncia como resposta a tudo; retomada da sensibilidade; fal�ncia das ideologias (todas); necessidade de uma identidade global (identidade planet�ria) e de um novo humanismo, mas com respeito �s diferen�as. Pra isto contamos com o Francisco Kury, irm�o do Otaviano, que � professor de filosofia e escreve muito bem. Mas como disse, n�o temos pressa pois queremos que esta obra nos d� o mesmo prazer e mantenha o n�vel do Identidade, pelo menos pra nossa pr�pria autocr�tica.

Das obras progressivas conceituais, considero o Dark Side Of The Moon uma obra prima, aquilo que s� acontece quando todas as pr�-condi��es pra um cl�ssico como aquele s�o atendidas. E duvido que algu�m chega naquele resultado projetando-o, acho que ele simplesmente acontece. Gosto muito tamb�m das obras iniciais do Rick Wakeman, Six Wives e VIagem ao Centro da Terra.



ProgBrasil: Jones, parab�ns pela bela carreira, desejamos sempre o melhor e qual recado final deixaria para aqueles que pensam em se
aventurar no universo progressivo?


Jones: Agrade�o aos amigos pela oportunidade, e dou os parab�ns pela iniciativa de voc�s.
Aos musicos que pretendem abra�ar esta causa, jamais negligenciem a forma��o. O talento � fundamental, mas sem estudo, disciplina e perseveran�a fica muito dificil materializar um trabalho de verdade.



Um abra�o a todos!

Jones Junior / INDEX


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