Entrevistas

Alexl (2010-01-04)

Conduzida por Gibran Felippe





ProgBrasil: Nota-se em sua obra ''Triz'' uma forte acentua��o po�tica, qual paix�o surgiu primeiro em sua vida? M�sica ou Poesia?


Alexl: M�sica, certamente. Foi a primeira, entre as duas, que me chamou a aten��o, a primeira que me utilizei para expressar alguma id�ia (fora o desenho, que acabei abandonando quando comecei a tocar...) e, definitivamente, a forma que me � mais f�cil para entender e me expressar. Na verdade n�o sou um apaixonado por poesia, acho que tenho um ou dois livros do g�nero apenas, a maioria de autoria de amigos. Al�m disso, gosto do que escrevo mas para mim � uma tarefa muit�ssimo mais dif�cil do que compor e raramente consigo chegar ao n�vel de me orgulhar do feito. Tenho um livro de poemas que vou come�ar a dar de presente a alguns amigos (j� que desisti de tentar edit�-lo...) onde coletei 90% de tudo o que escrevi at� hoje: n�o somam mais de 40...


ProgBrasil: Como foi o in�cio de sua carreira musical? Quais s�o suas principais influ�ncias?


Alexl: A 2� parte desta pergunta eu vou deixar para depois, por uma quest�o cronol�gica. Bem, minha ''carreira musical'' come�ou aos 14 anos quando comecei a dar aulas de viol�o (ensinando o ''quase nada'' que aprendi em um ano de aulas...). Por�m, as primeiras coisas que fiz como artista/criador foram influenciados (pasmen!) por ABBA. Assisti um especial deles durante o natal de 81 e me encantei por aquelas sex symbols (atualmente, senhoras sexagen�rias...) e pelas harmonias vocais. Comecei a colecionar seus discos e, pela primeira vez, me interessar em descobrir que som tinha uma guitarra el�trica, que tipo de guitarra era uma ''acoustic guitar'' e que diabos era um sintetizador. Nessa �poca, comecei a aprender os fundamentos da escrita musical com um amigo mais velho (hoje, meu compadre...) e dei meus primeiros passos em rela��o � composi��o. Como tudo que eu ouvia era ABBA, obviamente tudo o que escrevia tinha o formato das m�sicas do grupo, inclusive com letras em ingl�s.

L� pelo in�cio de 82, ouvindo as r�dios de sucesso da �poca, conheci a m�sica ''No Reply At All'' de uma banda desconhecida, uma tal de ''Genesis''. Minha escuta, j� educada na tarefa de acompanhar cada instrumento do arranjo, ficou fascinada pela linha de baixo que cantava a m�sica toda. Pedi o compacto (lembra o que � isso?) de presente de natal e acabei ganhando o LP (Abacab). Achei os arranjos diferentes de tudo o que havia ouvido. Lembro que ouvia-o pouco mas sempre com muito prazer. A�, por volta de 83 conheci a R�dio Fluminense FM, a ''maldita'' e o universo se abriu na minha frente! Lembro que ouvia a r�dio todo o tempo que podia e ficava anotando o nome das m�sicas para depois correr atr�s dos discos nas lojas. Genesis, Led Zeppelin, EL&P, Bacamarte, The Who, Yes, King Crimson, Mike Oldfield, Jethro Tull, Police... eu n�o parava de anotar nomes e de comprar discos...

Em 85, ap�s terminar o curso de eletr�nica, acabei entrando para a 1� turma da rec�m criada faculdade de m�sica das Faculdades Integradas (hoje Universidade) Est�cio de S�. L�, durante as aulas de Hist�ria da M�sica, outro universo igualmente amplo se descortinou � minha frente. As conex�es come�avam a fazer sentido: Scarlati e Rick Wakeman, Bach/Bartok/Bernstein e EL&P, Steve Reich/John Adams & Mike Oldfield, e ainda tinha Debussy, Ravel, John Cage, Stockhausen, Villa-Lobos, Scriabin...

Nessa �poca j� tinha composto v�rias coisas e tinha metade de um disco todo escrito com partitura, capa e tudo. Mas minha primeira banda (fora os grupos com que comecei a tocar na noite) foi formada em 91: �gape. N�o teve muito f�lego (n�o chegamos sequer a fazer um show) mas foi onde a maioria das m�sicas de ''Triz'' come�ou a surgir. Dispensamos o tecladista porque nunca estudava as m�sicas e, nesta �poca, num encontro de baixistas promovido por um amigo, conheci L�is Lancaster, baixista, fundador e principal compositor da banda Turangal�la...



ProgBrasil: Antes do lan�amento oficial do seu primeiro disco ("Triz"), o p�blico afeito ao rock em geral e mais estritamente ao progressivo, o conhecia atrav�s de sua participa��o no grupo carioca Turangal�la. Fale um pouco sobre esta experi�ncia, o grupo possu�a material pr�prio?


Alexl: Pois �, no tal encontro deixamos o anfitri�o de lado e come�amos a assistir a um v�deo pirata do Gentle Giant que L�is levou para o encontro porque foi informado pelo respons�vel pela reuni�o que eu era f� da banda. Depois disso ficamos mostrando as linhas de baixo de nossas m�sicas um para o outro e rolou uma admira��o e empatia musical instant�nea. Algum tempo depois ele me convidou para acompanh�-lo a um est�dio (onde o Quaterna R�quiem havia gravado seu primeiro �lbum...) para pegar a 1� fita demo da banda. � 1� audi��o do cassete, percebi que n�o lembrava de nada t�o interessante e criativo feito no Brasil desde Os Mutantes e, depois de assistir a um ensaio somente com o L�is tocando baixo e cantando e o Luciano na bateria, pedi para fazer qualquer participa��o no trabalho, nem que fosse batendo palma ou assobiando em alguma parte :-)

Eles tamb�m estavam procurando um tecladista mas resolveram me chamar, mesmo sendo baixista tamb�m, pelo entusiasmo que demonstrei. No natal de 1991 o L�is me fez o convite e, at� hoje, todos os anos eu lhe telefono agradecendo pela experi�ncia incr�vel que foi entrar para a banda.

Em vez de levar um baixo, eu cheguei no meu primeiro ensaio com um bandolim e uma flauta-doce e comecei a sugerir "_Eu podia fazer isso aqui, aquilo ali, escrever uma outra voz para esta parte, pegar uma guitarra emprestada de um amigo para fazer outra linha...". No fim das contas, s� houve uma �nica m�sica de nosso repert�rio (sim, s� toc�vamos material pr�prio...) que tinha dois baixos ao mesmo tempo, e s� num pedacinho...

Aproximadamente 80% do material do Turangal�la era formado por linhas de baixo incr�veis e um arranjo de bateria virtuos�ssimo com uma letra de alt�ssimo n�vel (o L�is hoje � professor/doutor em literatura...) mas com a voz fazendo a mesma coisa que o baixo. Eu me encarreguei de costurar as partes, criar quase todos os arranjos instrumentais e vocais e compor uma das m�sicas.



ProgBrasil: Por que o Turangalila n�o entrou em est�dio para um registro oficial?


Alexl: Egos... Mas, com perd�o do trocadilho, foi por um triz. O antigo guitarrista da �gape, pediu para entrar pro Turangal�la. Era dia 1� de agosto de 1992 e ele me catou na casa de um amigo (naquela �poca ainda n�o havia celular e ele ficou telefonando de buraco em buraco at� me achar l�). Eu disse que a banda n�o era minha mas, se o pessoal topasse eu tamb�m ficaria feliz. Dispensamos o tecladista (o mesmo da �gape! At� hoje n�o sei como cometi o mesmo erro de convid�-lo duas vezes...) e logo come�amos a refazer os arranjos para mais uma guitarra. Algumas partes de teclado eu acabei assumindo e outras foram passadas para o novo integrante.

O problema foi que ele entrou com umas id�ias meio separatistas... na verdade queria encontrar m�sicos para tocar sua pr�pria m�sica e, n�o demorou para come�ar a criar uma panelinha dentro do grupo. Primeiro criaram um trio de jazz, depois come�avam a se lamentar sobre o outro guitarrista porque ele tinha emprego com hor�rio fixo e nem sabia ler m�sica...

Neste ponto a banda, que nunca havia feito um show, j� era venerada pelos freq�entadores dos ensaios em Jacarepagu�. Lembro de uma banda, a M�ebius Tesseract que citou num jornal como influ�ncias Yes, EL&P e Turangal�la...

Fomos convidados a gravar um �lbum por um olheiro (ou seria "ouvideiro"?) que andava pela Rua 13 de Maio (onde o pessoal que habita hoje a Pedro Lessa vendia seus discos). O cara, peixinho de aqu�rio, tinha uma parceria com o Zaher Zein, verdadeiro tubar�o-baleia, dono da Zein Imobili�ria e colecionador de rock progressivo e de carros de luxo antigos. Fomos ao luxuoso escrit�rio do Zaher mas, porque est�vamos adaptando o repert�rio para o novo guitarrista, ainda n�o poder�amos entrar em est�dio. Em nosso lugar, contrataram o Topos Uranos que conhecemos mais tarde durante as grava��es de seu �lbum.

Depois de um micro-show numa sala de aula da FAETEC, fizemos nossa estr�ia na antiga boate Psicose na Tijuca, por incr�vel coincid�ncia no 1� anivers�rio de morte de Olivier Messiaen, autor da sinfonia Turangal�la, de onde L�is Lancaster tirou o nome da banda. Zaher foi, pediu um convite gratuito (�, m�o-de-vaca!) e no final do show nos procurou dizendo que t�nhamos de entrar em est�dio logo. Era a realiza��o de todos os nossos projetos! No primeiro ensaio ap�s o show, a panelinha do trio de jazz veio com uma conversa de dar um tempo para descansar e voltar �s atividades depois de uns 6 meses...

A id�ia por tr�s disso era dispensar o guitarrista-que-n�o-sabia-ler-m�sica (mas tocava melhor que n�s tr�s juntos...) sem parecer um fim-de-relacionamento. A banda encerraria as atividades e logo depois os membros amotinados se reuniriam e formariam outra banda (com o mesmo nome, talvez) convidando quem quisessem. Como provei por A + B que a id�ia de descanso logo naquele momento era completamente absurda, a banda continuou os ensaios at� que, pouco tempo depois, o tal guitarrista e o baterista Luciano resolveram se desligar.

Tentamos continuar o trabalho mas o tal guitarrista levou metade do equipamento embora (inclusive uma guitarra Ibanez que eu usava emprestada de um amigo e que ele comprou algumas semanas antes) e a in�rcia para re-arranjar e ensaiar tudo com um novo baterista e sem um integrante, teclado e 2 guitarras a menos foi demais para os remanescentes.

Ainda tentei re-ativar a banda por 2 vezes. Mas tudo parecia depender de mim e j� tinha meu pr�prio trabalho pronto para come�ar a gravar, n�o dava para ficar ligando para todo mundo para n�o esquecer do ensaio...

Na �ltima vez que tentei, botei na cabe�a que seria um esfor�o apenas para registrar as m�sicas num CD, sem cogitar a id�ia de shows. Passei 20 dias de minhas f�rias trancado num quarto transcrevendo todos os arranjos do �nico registro que sobreviveu, o VHS vagabundo do show, e juntando fragmentos de arranjos escritos em peda�os de cadernos de m�sica, papel milimetrado, guardanapos de papel e equivalentes. Foi um trabalho de arque�logo e de perito judicial mas consegui transcrever ou refazer tudo. Logo depois come�amos a gravar o material em minha casa mesmo. J� fazem tr�s anos e ainda n�o terminamos, mas agora h� uma esperan�a. Quem sabe ano que vem quando eu terminar o mestrado...



ProgBrasil: Como foi a recep��o do p�blico para com o seu primeiro trabalho solo "Triz"? Como encarar cr�ticas negativas num segmento t�o restrito? Contribuem para engrandecer o trabalho do m�sico ou desmotivam por completo?


Alexl: A recep��o foi excelente, muito melhor do que eu imaginava. Eu achava que seria um bom disco para o p�blico de progressivo mas me surpreendeu como gente de todas as idades e gostos musicais diversos elogiaram o trabalho. As cr�ticas foram excepcionais. Depois de mais de quase dois anos de lan�amento recebi a 1� cr�tica negativa dizendo que eu n�o parecia tanto com Gentle Giant como as pessoas diziam. Outro, logo depois, dizia que a banda queria muito se parecer com Gentle Giant mas n�o conseguiu, e que eu devia ou me aperfei�oar na imita��o ou procurar ser diferente. Bem, eu nunca quis nem pensei em ser parecido com Gentle Giant e, afinal, se eu n�o consegui parecer � porque j� sou diferente, n�, criatura? Cada coisa que me aparece...

De qualquer modo, no meio de umas trinta e tanto, essas foram as �nicas ruins. Mas n�o me importam tanto se s�o elogiosas ou n�o: me importam que sejam boas e bem escritas. Elogio eu recebo de minha m�e que n�o entende nada de m�sica. Gosto daquelas que dizem "� bom/ruim por isso, aquilo e aquilo outro", e tive a felicidade de ver que v�rios cr�ticos percebiam minha m�sica como eu mesmo, e reparavam em cada detalhe que me esmerei durante anos criando (s� para gravar levei 8!).



ProgBrasil: O design gr�fico de "Triz" ficou a cargo do artista Bernard, um referencial no meio. Recentemente Bernard sofreu um grave acidente, mas se recupera bem, qual o grau de import�ncia, na sua vis�o, de um trabalho gr�fico bem desenvolvido nestes tempos de mp3 e lojas on line, onde o p�blico mal interage com a concep��o gr�fica de um �lbum?


Alexl: Caramba, n�o sabia! Hoje mesmo vou ligar para ele! Curiosamente, apesar de admirar o trabalho do Bernard, ele foi minha �ltima op��o. Achava o trabalho dele muito preso ao estilo e queria que as pessoas vissem a capa de meu CD e n�o conseguissem advinhar que tipo de m�sica tinha dentro. Mas depois de me estressar com o trabalho de dois amigos amadores acabei apelando para seu profissionalismo e compet�ncia. Hoje n�o h� ningu�m em quem eu confiaria um trabalho visual como confio nele.

Quanto ao p�blico de hoje eu n�o sei dizer, estou me sentindo um pouco perdido nessa modernidade. Para mim continua sendo importante mas n�o sou mais referencial de nada neste campo. Ainda sinto saudades das capas (e s� disso) do vinil e entupo meu iPod de 160Gb de milhares de coisas que depois acabo comprando em CD. Minha liga��o com a imagem � muito forte. At� os 14 anos todos (at� eu) pensavam que eu seria um desenhista ou artista pl�stico. Quase sempre que componho uma m�sica, j� imagino a capa do �lbum, o cen�rio e o figurino do show.



ProgBrasil: "Triz" foi distribu�do pela Rock Symphony, como ocorreu esta parceria com o selo niteroiense?


Alexl: Fui apresentado ao Nahoum pelo Rodrigo Ara�jo, aquele amigo que havia me emprestado a 1� guitarra nos tempos do Turangal�la. Rodrigo estava trabalhando como designer na Rock Symphony. Quando a master de meu CD ficou pronto eu levei uma c�pia para o Nahoum. Fizemos um contrato de distribui��o: ele comprava metade da tiragem inicial em troca de botar o selo de cat�logo dele na contra-capa. De quebra, ganhei tamb�m um selo da Musea, a distribui��o do CD em toda parte do mundo e resenhas em tudo quanto � site e revista do g�nero.



ProgBrasil: A sua apresenta��o no Teatro Municipal de Niter�i no Festival Rock Symphony For The Record para a divulga��o do "Triz" foi marcada por uma programa��o com roteiro bem definido, inclusive com espa�os para declama��o em forma de recital. Este script tem algo a ver com sua experi�ncia compondo para pe�as teatrais?


Alexl: Hum... n�o sei, pode at� ser. Tem mais a ver com a oportunidade de mostrar minha (escassa) produ��o po�tica e com os buracos que tinha de preencher no show por conta das dificuldades que encontrei para montar todo o repert�rio do CD.



ProgBrasil: Outro aspecto daquele show foi a imensa fidelidade com que os m�sicos executaram as faixas do �lbum, inclusive os movimentos mais complexos, mostrando que provavelmente os ensaios foram �rduos. Voc� se considera um perfeccionista?


Alexl: Sim, me considero. Algumas vezes isso me atrapalha bastante. Se estivesse na plat�ia, eu daria uma nota 7 para o show. Mas em cima do palco as coisas s�o diferentes e n�o chegaria a 5 nem com boa vontade. De qualquer modo, o resultado me surpreendeu. Tive in�meros desfalques no grupo desde quando marcamos a data do show. Um m�s antes eu pensei em desistir e avisar logo ao Nahoum para que arrumasse um substituto a tempo. O resultado nos ensaios estava t�o catastr�fico que eu estava vendo meu nome queimado para sempre. Ent�o fiz uma reuni�o com alguns membros, dispensei um guitarrista, assumi seu papel e descartei v�rias das m�sicas. Ainda assim aquela banda que voc� viu s� foi fechada uma semana antes!



ProgBrasil: Existe alguma possibilidade daquele show ser lan�ado em DVD?


Alexl: Do jeito que est� eu n�o gostaria muito, s� se desse para refazer algumas partes. Tem umas coisas absurdas como eu pedindo em v�o ao t�cnico para soltar umas vozes em background (da m�sica "N�s") e depois que eu come�o a cantar as vozes aparecem por cima! Guitarras desafinadas, o prel�dio de minha cantata cujo final o tecladista esqueceu, e por a� vai. De qualquer jeito isso � com o Nahoum, ele � quem bancou a produ��o e � ele o detentor do material.



ProgBrasil: Logo na abertura do �lbum "Triz", com a instrumental "Todo O Tempo Do Mundo", o conceito do Tempo se faz marcante, inclusive os samples trazem certa reminisc�ncia a um dos maiores cl�ssicos do Pink Floyd, a m�sica "Time". Existe alguma conex�o?


Alexl: Com o Pink Floyd n�o. Quando 80% das m�sicas estavam compostas e eu precisava de mais material para fechar o CD, reparei que v�rias das letras tratavam do tempo de formas diferentes (uma obsess�o minha, j� que nunca encontro o suficiente para fazer as coisas que quero...). Achei o conceito interessante e direcionei o resto da trabalho para ele. Inclusive botei na cabe�a que o CD deveria ter exatamente uma hora e com 12 faixas (uma para cada hora do rel�gio). O t�tulo do CD seria Tempus Fugit ("o tempo foge" que aparece escrito em alguns rel�gios antigos). Mas a� o Andr� Mello encerrou o Visage de Pandora, formou o Tempus Fugit com o Bernard e eu tive que procurar um nome novo para o CD...



ProgBrasil: A explora��o de recursos multim�dias em cds � muito pouco utilizada, algo que pode ser uma ferramenta na integra��o com o p�blico. H� alguma outra explica��o, al�m da capacidade de dados, para a pouca utiliza��o destes recursos pelos artistas em geral?


Alexl: N�o tem nada a ver com a capacidade do CD, que � mais do que o suficiente. Tem a ver com o que voc� falou antes: em tempos de mp3 e Internet em banda larga quem vai comprar um CD com um multim�dia est�tico que � sempre o mesmo? Multim�dia hoje tem de ser din�mico, interativo e ser atualizado todo dia, se n�o for n�o interessa...



ProgBrasil: H� perspectivas concretas para conceber um segundo trabalho?


Alexl: Conceber significa "gravar"? Espero que sim. Eu j� tenho material para uns 12 Cds mais ou menos. O que me falta � tempo e dinheiro para grav�-los...



ProgBrasil: Como voc� analisa o distanciamento da m�dia para com o segmento progressivo, principalmente com rela��o aos novos artistas? Por que � t�o complicado efetuar apresenta��es regularmente no Brasil? Ainda h� espa�o para a m�sica de vanguarda no pa�s?


Alexl: Acho que o g�nero se desgastou. � um tipo de m�sica que n�o d� pra comprar um teclado maravilhoso, uma guitarra importada e a melhor pedaleira do mundo e fazer qualquer coisa, tem que conhecer um pouco mais de m�sica do que os tr�s acordes b�sicos do rock (entre outros g�neros). O pior � que muita gente faz. J� cansei (literalmente) de assistir a trabalhos auto-denominados progressivos onde o sujeito mete a m�o num patch viajante do teclado, joga umas luzes piscando no palco, se acha e se sente. Acho que esse tipo de pastiche queimou de vez o g�nero progressivo na m�dia. At� o Odair Jos� virou cult, mas acho que ainda falta muito para o termo "progressivo" se redimir. At� a cr�tica n'O GLOBO do Ant�nio Carlos Miguel para meu CD dizia: "A influ�ncia do rock progressivo � n�tida em "Triz" (Rock Symphony), mas o repert�rio e o bom instrumental mostram que o cantor, compositor e multiinstrumentista Alexl vai al�m do pastiche do
g�nero em seu disco"...



ProgBrasil: Quais grupos e artistas progressivos nacionais, que est�o na ativa, fazem por merecer uma aten��o especial do p�blico?


Alexl: Ih, cara, n�o sei, n�o estou por dentro do que tem aparecido de novo nessa �rea, principalmente no Brasil...



ProgBrasil: Se tivesse que escolher cinco discos para levar a uma ilha deserta, quais seriam?


Alexl: Cara, 5 discos � muito pouco para quem carrega 80Gb de m�sica no bolso e ouve m�sica 8h por dia... Vou tentar englobar v�rias coisas: "Triz" (� claro...), "Selling England By The Pound" (Genesis), "Ommadawn" (Mike Oldfield), o �lbum de t�tulo gigantesco por�m mais conhecido como "Marquis de Sade" (Lalo Schifrin) e "Everybody Loves a Happy Ending" (Tears For Fears)



ProgBrasil: Voltando ao "Triz", verifica-se uma generosa quantidade de m�sicos e colaboradores. Como ocorre este interc�mbio com artistas das mais diversas escolas e influ�ncias musicais na concep��o de um trabalho autoral?


Alexl: Na concep��o mesmo, hoje em dia h� pouco interc�mbio. Mas preciso citar duas grandes exce��es: a primeira � o L�is com quem sempre foi um enorme prazer compor. � uma pessoa excepcionalmente criativa, inteligent�ssima e de uma cultura assustadora. Apesar destes predicados � super generoso e sempre aberto a id�ias e sugest�es. Trabalhar com ele � como voltar a inf�ncia. A cada id�ia nova a gente ri, se abra�a e �s vezes at� pulamos de alegria como duas crian�as. A segunda � meu s�cio Andr� Poyart, que participou com seu antigo grupo vocal em meu CD e fez os vocais e os baixos no show. � um excelente m�sico, sempre de boa vontade, capaz de reproduzir cada detalhe de articula��o que eu decido experimentar e, sempre que sugere alguma coisa o resultado fica melhor. Fora isso, tenho contato com grandes instrumentistas mas estes n�o participam do meu processo de cria��o.



ProgBrasil: Em que pese sua experi�ncia como multim�sico, h� algum instrumento em particular que voc� tenha mais apre�o ou prazer na execu��o?


Alexl: Eu tenho um monte de instrumentos, acabei de voltar da �ndia com um sitar, um sarod, um santoor e um sarangi a tiracolo para desespero de minha mulher (procure no Youtube...) mas o instrumento com que me sinto mais confort�vel e onde acho que ainda posso buscar caminhos pouco explorados por mim � o baixo el�trico.



ProgBrasil: H� alguma faixa no "Triz" que seja sua preferida, ou que gostasse de enfatizar algum detalhe?


Alexl: Eu amo todas como um bom pai, mas, se for para ressaltar algum detalhe, repare na instrumental "Relatividade": ela foi toda composta com material extra�do das outras faixas. Fica o desafio para seus leitores descobrirem...



ProgBrasil: Alexl, parab�ns pela sua bela carreira, desejamos sempre o melhor e qual recado final deixaria para aqueles que pensam em se aventurar no universo progressivo?


Alexl: Esque�am isso!!! Escutem muita m�sica, de tudo quanto � tipo que voc�s conseguirem, e toquem tudo o que gostarem. N�o se prendam a g�neros porque n�o existe nenhum bom: o que existe s�o grandes artistas e trabalhos. Em todos os g�neros h� os grandes mestres e os copiadores de clich�s. Hoje tudo � muito mais f�cil, quer se aventurar? Abra uma janelinha do Youtube ou d� um rol� (com bastante paci�ncia...) pelo Myspace e saia escutando tudo o que aparecer pela frente. Depois, se n�o houver algum, voc� inventa um r�tulo para o que voc� gostar...

Agora a resposta das influ�ncias... Eu j� ouvi de tudo um muito nessa vida. Minha personalidade musical, como acho que acontece com a maioria do compositores, n�o se fia num ou outro artista. �s vezes voc� busca caminhos sem saber que outros j� percorreram. Quando lancei meu CD, muitos no meio do progressivo me compararam com Gentle Giant por causa do uso de contraponto e do arranjos vocais. J� houve casos em que conhecia um artista ou trabalho e pensava: "Queria ter feito isso..." mas quando ouvi Gentle Giant pela primeira vez eu pensei: "Caramba! Parece com as coisas que eu fa�o!". No trabalho desta banda, de quem eu sou f� confesso, tem muito de m�sica folcl�rica inglesa e doses absurdas de m�sica renascentista e barroca, coisas que ou�o desde a adolesc�ncia. Minha influ�ncia vocal talvez venha de Beatles, ABBA, 14 Bis ou de minha pr�pria experi�ncia como cantor e regente de coro, sei l�.

Umas vinte e tantas pessoas que n�o s�o do meio progressivo viram em meu trabalho uma grande influ�ncia do Clube da Esquina. Um chegou a especificar: "E � do Clube da Esquina II...". Agora veja que curioso: eu nunca tinha ouvido esses discos na minha vida e s� conhecia uma ou outra m�sica dessa galera (Milton Nascimento, Beto Guedes, L� Borges etc) que tocou na r�dio ou foi trilha de novela...

Descobri s� recentemente na obra de Igor Stravinsky, Olivier Messiaen e Charles Ives semelhan�a com algumas das coisas com que tenho trabalhado nos �ltimos anos. Quando eu tiver oportunidade de gravar alguma coisa de meu repert�rio (digamos assim) "erudito", ir�o dizer que fui influenciado por esses autores...

H� por�m alguns artistas que mudaram minha forma de enxergar m�sica. O quanto isso fica aparente ou n�o no meu trabalho � outra quest�o. Uma listinha resumida incluiria o ABBA (j� expliquei o porqu�), Genesis, Frank Zappa, Steve Reich, Peter Gabriel, o Coro das Vozes B�lgaras, o grupo finland�s V�rttin�, Brian Eno, Debussy, Messiaen e meu amigo L�is Lancaster, entre outros.


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