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A HISTÓRIA DO PENDRAGON (2008-06-11)

Tarcisio Moura


O Pendragon foi criado no ano de 1976, na cidadezinha de Stroud, condado de Gloucestshire, Inglaterra, pelo jovem entusiasta Nick Barrett e alguns colegas de escola. Inicialmente o nome da banda era Zeus Pendragon, que seria encurtado dois anos depois (segundo consta porque seu colega reclamou que o nome era grande demais para as camisetas que estavam fazendo!). O grupo lutou muito para conseguir se destacar entre centenas de outras bandas que se formavam quase diariamente nas ilhas britânicas. Infelizmente uma série de mudanças de formação muito atrapalharam o desenvolvimento sonoro do Pendragon nestes tempos iniciais, sendo algumas demos gravadas mas nada saiu daí.

Uma grande força aconteceu quando o grupo foi convidado por outro grande nome do neopregressivo, o Marillion. Seu empresário Greg Lines conseguiu que a banda fosse o grupo de abertura do grupo do vocalista Fish . As duas bandas se deram tão bem que o Marillion convidou o Pendragon para abrir os seus shows no prestigioso clube Marquee de Londres. Nessa época o Pendragon havia se estabilizado com Nick (guitarra e vocais), Nigel Harris (bateria), John “Barney” Barnfield (teclados) e um novato que foi persuadido a deixar a guitarra para se concentrar no baixo, Peter Gee.

Com os shows do Marillion atraindo um grande número de novos fãs, o grupo começou a estabelecer suas própria identidade e público. Tanto que o grupo em 1983 tocou no grande festival de Reading em frente a 30.000 pessoas e logo depois foram convidados pelo famoso dj londrino Tommy Vance a gravar um programa de rádio no seu famoso Friday Rock Show.

No entanto um contrato de gravação não aparecia e Barnfield (que até então escrevia quase todo o repertório do Pendragon junto com Nick Barrett) resolveu permanecer no seu emprego fixo e deixar o conjunto. Foi um duro golpe. Mas com a ajuda Rik Carter, a banda seguiu em frente e ele acabou sendo o tecladista que tocou aparecendo nos primeiros lançamentos do Pendragon. A banda foi contratada pela E.M.I e lançando um EP, Fligh High, Fall Far em 1984, que obteve uma boa repercussão.

O primeiro LP completo do grupo saiu em 1985, quase ao mesmo tempo do clássico do Marillion, Misplaced Childhood. Nesta época várias bandas formavam parte de uma cena que resgatava o rock progressivo de seu limbo depois de ser abertamente criticada por punks e críticos como música ultrapassada. Nomes como Pallas, Jadis, IQ, Twelfth Night, além do próprio Marillion mostraram que o estilo estava mais vivo do que nunca. Consequentemente The Jewel, o LP de estréia do Pendragon foi muito bem recebido por um público ávido de novidades neste campo.

No entanto o conjunto não estava nem um pouco satisfeito com o baixíssimo orçamento que a gravadora havia dedicado à tour de promoção e ao esquema torturante de shows. Tanto que Nigel Harris não agüentou e caiu fora, sendo temporariamente substituído por um amigo de Rik Carter, Matt Anderson, mas ele não ficou muito tempo, sendo logo depois seguido pelo propio Carter.


O que parecia ser uma tragédia acabou por favorecer a musicalidade do Pendragon, já que logo encontraram o excelente baterista Fudge Smith, que era (e permanece) um dos maiores nomes do progressivo, um dos poucos ritmistas que possui um estilo todo próprio e único de tocar. Enquanto tentavam arranjar um novo contrato de gravação, Nick entrou em contato com um amigo de infância, Clive Nolan, e contou sobre os problemas. Nolan, um brilhante tecladista acabou se oferecendo para tocar os teclados no grupo quando soube que eles estavam procurando por um. Estava, finalmente, pronta uma formação que duraria por quase duas décadas.

Enquanto isso a banda lançaria um LP ao vivo, 9:15, e tentava convencer a EMI a aceitar o novo material que vinham escrevendo. A gravadora não foi convencida e o grupo dispensado. Frustrados e furiosos, os membros do Pendragon resolveram então criar seu próprio selo, a Toff records. Até hoje todo o material lançado desde então saiu das próprias mãos do conjunto, que se tornou a banda de progressivo que mais vende num selo independente.

Kowtow (1988) foi no entanto considerado decepcionante por críticos e fãs. De fato o grupo se mostrava um tanto indeciso se mergulhava de cabeça no progressivo ou fazia um som mais pop. Esse disco se dividia entre os dois estilos, além do compacto Saved By You ser .bastante comercial. No entanto, quando o Pendragon lançou um novo disco de inéditas, The World (1991), eles voltaram definitivamente para o progressivo e o disco foi aclamado como uma das obras primas do estilo, numa época que muita pouca gente estava fazendo música tão elaborada.

Mas o melhor ainda estava por vir. “The Windows Of Life” (1993) mostrava um som mais complexo, refinado e grandioso, sem perder a simplicidade básica que sempre foi um dos fortes das composições do grupo. Parecia que a cada lançamento o Pendragon conseguia se superar enquanto que quase todos os seus contemporâneos ou haviam se dissolvido ou estavam fazendo um som completamente diferente (e, muitas vezes, pior).

Em 1996 o Pendragon no entanto mostraria que ainda não havia chegado ao seu auge. The Masquerade Overture é considerado sua obra prima máxima, com temas e um repertório de impacto que levou a banda a se apresentar em todo mundo, inclusive no Brasil.

Foram precisos mais cinco anos para que conseguissem lançar um disco que pudesse estar na mesma magnitude do anterior. Not Of This World (2001) mostrou o lado instrumental ainda mais virtuoso e bombástico, coisa que era difícil de acreditar. Baseado na dura experiência de Barrett durante um doloroso divórcio, o disco trazia uma incrível catarse de sentimentos que deu nova vida ao Pendragon, mostrando que tinham sim material capaz de se equiparar a Masquerade Overture.

Novas turnês se seguiram nos anos seguintes. Enquanto isso seus integrantes trabalharam em diversos projetos separados, como um disco de versões acústicas das músicas do Pendragon tocadas apenas por Barnett e Nolan, A Rush Of Adrenalin (2005, também em DVD). Clive Nolan, inclusive, divide seu tempo em inúmeros CDs solo ou projetos, sendo o mais importante o Arena. Arena começou como projeto e virou banda de verdade, sendo ele fruto da união de Nolan com Mick Pointer, o baterista original do Marillion. Seu som lembra um pouco o Pendragon, mas mais pesado e com uma temática mais sombria. Lançaram Já 5 CDs de estúdio, além de um ao vivo e de alguns EPs.

Em 2005 saiu finalmente a continuação do trabalho do Pendragon, Believe. Um CD bem mais simples e direto, se comparado com os mais recentes. Barnett voltou suas letras para temas como a política e a manipulação da mídia, preferindo canções mais curtas, mais voltadas para a guitarra, deixando um pouco de lado os teclados sinfônicos que são a marca registrada do som Pendragon.

Além dos discos citados, o grupo também lançou através do seu selo uma coletânea de compactos, raridades e lados B (The Rest Of Pendragon, 1990), duas coletâneas de demos do início da carreira (Once Upon A Time... In Engalnd, Volumes I e II), dois discos ao vivo (Live In Lily the Very Very Bootleg, 1993) e um DVD (Live In Krakov – 1997, também disponível em CD).

Há também dois EPs, que tem temas inéditos e versões editadas de músicas dos CDs principais: Fallen Dreams and Angels (1994) e As Good As Gold (1997).

Em 2006 o baterista Fudge Smith deixou a banda e foi substituído pelo novato Joe Crabtree, que estrearia durante a tour de Believe(onde ficou registrado o DVD ...And Now Everybody To The Stage em 2007). Ainda em 2007 o grupo relançou o clássico The Jewel, totalmente remasterizado, nova capa e com duas músicas extras. Na tour que se seguiu vários antigos membros tocaram com a banda diversas vezes, como John Barnfield e Rick Carter, resultando no aclamado DVD Past & Presence. Pouco depois Joe Crabtree saiu e foi substituído pelo veterano Scott Higham.


Tarcísio B. Moura


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