Artigos e Documentários

O Movimento Progressivo Alemão - Parte 4 (2009-12-10)

Claudio Fonzi


ELOY

Com 40 anos de estrada, é o mais famoso e importante nome alemão desta classe. Iniciaram em 1969 como uma banda Hard, mas pouco tempo após gravarem seu primeiro álbum (o excelente "Eloy", de 1971), lançaram diversas preciosidades; destaque para os extraordinários álbuns conceituais "Power and Passion" (1975) e "Ocean" (1977) e os quase Hard "Floating" (1974) e "Inside" (1973). Pelo ELOY passaram nomes fundamentais, como o guitarrista e vocalista Frank Bornemann (principal fundador, e possuidor de timbre vocal inconfundível; está presente na banda até hoje), o tecladista Manfred Wieckzorcke (outro fundador, iniciou como guitarrista, mas quando resolveu assumir os teclados, modificou toda a sonoridade das novas composições, tornando a banda realmente Progressiva; saiu após "Power and Passion", indo para o JANE) e os excepcionais bateristas Fritz Randow (marca registrada do vigor de "Floating"; em 1976 vai para o EPITAPH) e Jürgen Rosenthal (oriundo do famoso SCORPIONS, permaneceu na banda de 1976 a 1978, tendo atuado em "Dawn", "Ocean", "Live" e "Silent Cries and Might Echoes").

Sobre o nome da banda: o nome ELOY foi tirado do romance, de ficção científica, "A Máquina do Tempo", de H.G. Wells.

Neste romance, o planeta, no futuro, é habitado por duas espécies de seres vivos: os "eloy", que são os seres humanos, os quais vivem, de forma primitiva, na superfície; e os "morlock", que são monstros que se encontram no subsolo.

ELOY - "Ocean" (Alemanha, 1977): Sem dúvida um dos maiores grupos da história, o ELOY está completando 30 anos de atividade produtiva em mais de 15 álbuns lançados. Para quem conhece toda a sua discografia fica difícil indicar o álbum mais representativo, isso porque a banda variou a sua produção entre estilos mais pesados, cósmicos/espaciais, hiper-sinfônicos, mais comerciais, etc. Isso quer dizer que o gosto pessoal é fundamental em casos como esses. Fica a indicação de "Ocean" aproveitando a oportunidade da continuação editada recentemente. Boa opção para neófitos é também "Eloy Live" de 1978. Se possível comprem tudo! (fanzine Metamúsica, ano IV, nº 09, novembro de 1999, pág.40, seção Discoteca Básica)

Sobre os discos "Power and the Passion" e "Dawn": "Power and the Passion" (1975), que foi originalmente lançado na época pelo selo Harvest, da EMI, trata de uma história de amor através dos tempos, a qual tem continuação em "Dawn" (1976). "Power and the Passion" foi reeditado em CD remasterizado aqui no Brasil em 2000 pela EMI. Aí eu pergunto: e quanto aos outros títulos? Continuarão disponíveis apenas os importados?

Muitas pessoas já chegaram a acusar o grupo Eloy de cópia germânica do Yes e do Genesis. Não discordo totalmente disso, mas acho que existem muitos fatores que ajudam a atenuar o peso da afirmação. Em primeiro lugar, a banda surgiu na mesma época que os dois grupos ingleses. Em segundo, apresentam um trabalho de textos que deixa o Yes (pelo menos) com muito a desejar.

Fundado em 1969, Hannover, pelo guitarrista e cantor Frank Bornemann, o conjunto inicialmente tocava músicas dos Beatles e Moody Blues. Pouco tempo depois, já em 1970, Frank resolveu introduzir suas próprias composições. Nessa época, Bornemann contava com o apoio de Erich Schriever (vocal principal), Helmut Draht (bateria), Manfred Wieczorke (guitarra), Wolfgang Stocker (baixo). Pouco antes da gravação do primeiro LP, Frank assumiu o vocal principal, Manfred passou a tocar também os teclados e Draht foi substituído na bateria por Fritz Randow. Essa foi a turma que compareceu no LP Inside, em 1973. Tal disco obteve muito sucesso na América do Norte, abrindo muitos caminhos para os alemães, naquele continente.

No LP Floating, Stocker deixou seu posto para Luitjen Janssen. Foi somente em 1975, com Power And The Passion, que o Eloy voltou a ser um quinteto, admitindo Detlef Schwaar (guitarra). Embora o LP fosse um dos mais conceituais que produziram, quase que a banda encerrou suas atividades depois de seu lançamento, em função de uma violenta crise interna. Quando voltaram às atividades, em 1976, a formação estava completamente diferente: Jurgen Rosenthal (bateria), Detlev Schimdtchen (teclados), Klaus Peter Matziol (baixo), e Bornemann. Permaneceriam assim até 1979, quando Hannes Arkona (guitarra) completaria de novo o quinteto.

Em janeiro de 1980, Schmidtchen e Rosenthal partiram, e foram substituídos por Hannes Folberth (teclados), e o inglês Jim McGillivray (bateria). Em janeiro de 1982, Fritz Randow retornou à banda, reafirmando uma atitude que se tornou comum no rock progressivo. Sua volta foi vista por muitos como um renascimento do Eloy.

Em 1982, no LP Time To Turn (enquanto Roger Waters colocava o Pink Floyd no estúdio, a seu serviço, para tecer lamúrias sobre a morte de seu pai na guerra), o Eloy colocou uma faixa que retrata bem os temores do povo europeu com respeito a uma possível terceira guerra mundial (lembrar daquela história do paiol, onde o fósforo aceso pode mandar tudo pelos ares). Vejamos um trecho (tirado de "Time To Turn", a música):-"Estamos resignados ao nosso fado, temeroosos de que a nossa hora tenha chegado, embora não seja tão tarde assim, se começarmos a agir logo. Não vemos futuro algum, apenas a resistência diária. O amanhã é fumaça no vento. Dançamos, cantamos, brincamos, pois sentimos a tensão de viver no fim dos tempos."Acredito que muitos podem agora olhar para o Eloy de outra maneira.

(Rock Progressivo, Valdir Montanari, editora Papirus, 1985)

Valdir Montanari escreveu o seguinte artigo sobre o Eloy e seu disco "Time To Turn", na revista SomTrês de junho de 1983 (edição nº 54):Cantilena da véspera da terceira guerra
Se perguntássemos ao guitarrista e líder vocal do grupo Eloy, Frank Bornemann, o que ele curtiu em matéria de som durante os anos 70, com muita certeza a resposta seria:
-Yes, Genesis, Pink Floyd e outros.
Segunda pergunta:
-Frank, você não acha que o som do seu connjunto tem muito a ver com os citados?
Resposta:
-Tem sim. E daí, o que há de errado nisso??
Bem, o prezado leitor já percebeu que, se conduzirmos nosso raciocínio através dessa conduta, não poderemos fazer uma análise sensata do conteúdo presente em Time to Turn, quarto lançamento brasileiro desse grupo alemão de Hannover.

O Eloy vem trabalhando há pelo menos 10 anos, mostrando sempre uma seriedade profissional muito grande. Pode-se notar em suas músicas que, não existe aquele estrelismo que acabou tomando conta de alguns elementos do rock progressivo inglês (não é necessário citar nomes). Não sofre, também, da síndrome computacional que fez com que um bom número de grupos alemães pensasse que fazer música eletrônica é somente programar meia dúzia de sintetizadores e deixar tocando meia hora em cada lado de um disco. Ao contrário, suas músicas são ritmadas e harmônicas.

Quanto aos temas, são bastante atuais e mostram que, provavelmente, o que mais atormenta a juventude alemã são as ambigüidades de seu avanço tecnocientífico. Por exemplo: na faixa "Through a Somber Galaxy" eles simulam a sensação sentida por um viajante espacial extasiado (e, ao mesmo tempo, amedrontado) por sua pequenez em relação aos milhões de estrelas diante de seus olhos. Por outro lado, a faixa que dá título ao disco, expressa o temor neurótico resultante das perspectivas geradas pela crise mundial.

Conversando ultimamente com pessoas recém-chegadas da Europa, tenho sentido que os habitantes do Velho Mundo estão realmente esperando a terceira guerra (há quem ache que eles ainda não encerraram a segunda e estão se preparando para um último acerto de contas).

Ainda com respeito à música Time to Turn, um coro infantil entra para o desfecho, cantando em tom de conformação que, já que a herança deles será uma catástrofe, o melhor a fazer é aproveitar o tempo para brincar, cantar e dançar. Mas o pessimismo não vai até o fim. Pelo menos a faixa "Say, is it Really True", a última do disco, projeta um lampejo de esperança.

Apesar de ter inicialmente comparado o Eloy aos grupos progressivos ingleses, acho sua audição recomendável com base, ao menos, em um argumento: o grupo é competente.

Depois de vencer um concurso para novas bandas em 1970, o grupo alemão Eloy, formado um ano antes por Bornemann, acabaria por receber a chance de gravar algumas músicas para uma pequena gravadora. Daí surge o primeiro álbum da banda, pela Philips, mais no estilo hard-rock (formação: Frank Bornemann (guitarra, vocal); Manfred Wieczorke (guitarra); Wolfgang Stöcker (baixo); Erich Schriever (vocal); Helmut Draht (bateria)). Com a saída de Draht e Schriever pouco depois, o Eloy ficaria em silêncio durante alguns meses até retornar, em 1973, com novo line-up e álbum: "Inside" traz Bornemann assumindo todos os vocais, Wieczorke trocando guitarra por órgão e o novo guitarrista Fritz Randow. No mesmo ano, Stöcker cede lugar ao baixista Luitjen "Harvey" Janssen. Essa formação gravaria os dois LPs seguintes, "Floating" e "Power and the passion".

Apesar do sucesso de crítica, das boas vendas e de uma turnê de três meses, em 1975, pelos Estados Unidos, a banda tem sua primeira dissolução em início de 1976. Enquanto alguns dos membros partiam para experiências com outros grupos (Wieczorke com o Jane, Randow com o Epitaph), Bornemann decide reformar o conjunto com novos músicos: Detlef Schmidtchen (teclados), Klaus Peter Matzoil (baixo) e Jürgen Rosenthal (bateria). O novo Eloy gravaria então alguns de seus melhores trabalhos: "Dawn" (continuação da história iniciada em "Power...") e "Ocean", além do duplo ao vivo "Eloy live". Após o lançamento de mais de um LP de estúdio, o período de "calmaria" para o grupo iria acabar: o guitarrista Hannes Arkona (que acompanharia o Eloy durante uma turnê em 1979 pela França) vira membro efetivo, e Rosenthal e Schmidtchen (que formariam o Ego on the Rocks) são substituídos por Jim McGillivary e Hannes Folberth, respectivamente.

Seria a vez do bom "Colours" e de "Planets". "Time to turn", lançado em 1982, traria o veterano Randow no lugar de McGillivary. A banda publicaria mais alguns LPs (inclusive uma trilha sonora, "Codename wildgeese", sem a ajuda de Bornemann e Randow, o que faria com que alguns não a considerassem um trabalho do grupo) antes de sua segunda dissolução em 1984 (pouco depois de "Metromania").

O retorno da banda que pode ser apontada como uma das mais populares de seu país se dá em 1988, com o álbum "Ra", novos membros (Bornemann e o tecladista Michael Gerlach, entre outros) e gravadora, a ACI. Randow atuaria em shows como músico convidado. O Eloy lançaria ainda "Rarities" (coletânea de compactos e faixas inéditas) e "Destination" (seu mais novo trabalho), ambos em 1992.

(Enciclopédia do Rock Progressivo, Leonardo Nahoum, 1994)
No livro Rock Progressivo, na página 177, Valdir Montanari escreveu: "Muitas pessoas já chegaram a acusar o grupo Eloy de cópia germânica do Yes e do Genesis".
Eu concordo com estas pessoas e gostaria de acrescentar uma pitada de Pink Floyd. (As Obras-Primas do Rock Progressivo, Jeferson Araújo Pereira, independente, 2000)

DISCOGRAFIA:
ELOY (1971)
INSIDE (1973)
FLOATING (1974)
POWER AND THE PASSION (1975)
DAWN (1976)
OCEAN (1977)
ELOY LIVE (1978)
SILENT CRIES AND MIGHTY ECHOES (1979)
COLOURS (1980)
PLANETS (1981)
TIME TO TURN (1982)
PERFORMANCE (1983)
CODENAME WILDGEESE (1984)
METROMANIA (1984)
RA (1988)
RARITIES (1992)
DESTINATION (1992)



JANE

Com pelo menos 14 álbuns, o JANE foi um dos grupos de carreira mais duradoura do seu país, tendo surgido em 1970 e prosseguido até 1989. Apesar de se enquadrarem plenamente na classe do Rock Progressivo Tradicional, o JANE sempre possuiu características Hard, sendo que no seu disco mais Kraut, o "Jane III", de 1974, não há nem a presença de teclados e, de modo geral, o destaque instrumental ficava por conta do guitarrista e co-fundador Klaus Hesse. As grandes exceções foram os extraordinários álbuns "Live At Home", de 1976, e "Between Heaven & Hell", de 1977, onde o ex-ELOY Manfred Wieckzorcke entrou nos teclados a passou a dominar a maioria das situações. "Live At Home", aliás, deve ser considerado como uma das mais viscerais gravações ao vivo da história do Rock Progressivo, servindo perfeitamente para exemplificar o que é este gênero tão controvertido. Como outros destaques, vale citar o genial "Together", 1º álbum da banda e lançado em 1972, e os álbuns "Here We Are", de 1973, e "Age of Madness", de 1978.

O editor do site Sinfonia Sideral recomenda a audição do belíssimo disco "Fire, Water, Earth and Air", lançado em 1976 via Brain, selo subsidiário da gravadora Metronome. Trata-se de uma obra cujas canções estão relacionadas com os quatro elementos da natureza: fogo, água, terra e ar.

JANE - "Live At Home" (Alemanha, 1976): Marcado pela entrada do ex-ELOY Manfred Wieckzorcke nos teclados, este álbum duplo (em CD saiu como peça única, mas faltando uma das principais faixas...) possui tudo o que um registro ao vivo deve ter: inspiração na escolha do repertório, energia positiva entre artista e platéia e capacidade de improvisação de seus músicos. Tudo isso aconteceu na noite de 13/08/1976 e está aí registrado em quase 90 minutos de puro Hard-Prog. Ouçam os 18:05 de "Windows" em alto volume e imaginem como deve ter sido esse show!!!! (fanzine Metamúsica, ano V, nº 10, segundo semestre de 2000, págs.32/33, seção Discoteca Básica)

Banda alemã fundada em 1970 pelos ex-Justice of Peace, Panka e Hess, o Jane estréia dois anos depois com "Together" (formação: Klaus Hess (guitarra); Werner Nadolny (órgão); Charly Maucher (baixo); Peter Panka (bateria) e Bernd Pulst (vocal)). O segundo LP (sem Pulst) vem logo depois, também pela Brain, assim como o primeiro. Maucher, adoecido, é substituído nas gravações por Wolfgang Krantz, voltando à atividade, porém, pouco depois do lançamento.

"III" (Hess, Krantz, Maucher e Panka), editado em 1974, é o primeiro trabalho do grupo a incorporar elementos tipicamente alemães. Com a saída de Maucher e Krantz em agosto de 1974, o Jane, com o novo membro Gotfried Janko (vocal, órgão), gravaria "Lady". Volta Nadolny, sai "Fire, Water...", quinto LP. Como se pode ver, um grupo de muito entra-e-sai de integrantes e que receberia mais um componente no mesmo ano: o ex-Eloy Manfred Wieczorke (teclados).

O grupo seria um dos poucos de seu país a sobreviver durante os anos 1980. Uma das formações dessa época ("Beautiful Day") seria: Peter Panka (vocal, bateria), Werner Nadolny (teclados, baixo), Klaus Henatsch (vocal, teclados, piano) e Kai Reuter (guitarra, voz). Vale lembrar que, no início da mesma década, vários Jane gravariam com o vocalista Jon "Symon" Rasputin no grupo Warlock.
(Enciclopédia do Rock Progressivo, Leonardo Nahoum, 1994)

DISCOGRAFIA:
TOGETHER (1972)
HERE WE ARE (1973)
III (1974)
LADY (1975)
FIRE, WATER, EARTH AND AIR (1976)
LIVE AT HOME (1976)
BETWEEN HEAVEN AND HELL (1977)
AGE OF MADNESS (1978)
SIGN Nº 9 (1979)
JANE (1980)
GERMANIA (1982)
LIVE 88 (1988)
BEAUTIFUL DAY (198?)
WAITING FOR THE SUNRISE (197?)


(fanzine Metamúsica, edição nº 6, artigo especial "O Movimento Progressivo Alemão", autor: Cláudio Fonzi, agosto de 1997)


Fonte :Jornal Metamúsica


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