Electric Ligth Orchestra - A Fase Progressiva 1973-1975 - Parte 2
Roy Wood, o mentor do ELO, deixou o grupo em junho de 1972, após mais uma apresentação da banda em Croydon -Inglaterra. Como havia sido falado antes, Wood e Lynne travavam internamente a briga pela liderança da banda. E o som da mesma ao vivo, naquele período, não agradava em nada a Lynne (que o classificou uma vez como “ruidoso e horrível”).
Wood leva com ele Hugh Mcdowell (cello) e Bil Hunt, que juntos ele formariam a banda "Wizard".
Andy Craig (cello) também sai da banda e some do meio musical. Junto a Jeff Lynne restaram Bev Bevan (baterista) , Mike Edwards (cello) e Richard Tandy (baixista e eventual tecladista). Lynne, junto a Bevan e ao seu empresário Don Arden, dão uma repaginada na banda. Richard Tandy assume em definitivo o posto de tecladista oficial, chamam Mike D’Albuquerque para o baixo, Wilf Gibson para o violino, e Collin Walker para o cello.
Esta formação grava então "ELO 2", inicialmente chamado de "Lost Planet". Lançado em 1973, este disco é musicalmente muito diferente do outro. Só tinha 5 longas faixas; com exceção da regravação de "Roll Over Beethoven", todas as demais ("Momma" , "In Old England town" , "From The Sun To The World" e "Kuiama") eram tipicamente progressivas.
Um importante dado histórico foi revelado recentemente. Ao contrário do que o encarte do álbum original informa, Roy Wood chegou, sim, a participar das gravações de ELO 2. Wood tocou cello e foi o baixista em From the Sun to the World e In Old England Town, que foram as primeiras a ser gravadas, no primeiro mês das sessões de estúdio. Foi só após isto que ele deixou o grupo definitivamente, mas as gravações foram aproveitadas no álbum. Esta informação foi liberada em uma versão recente do album, lançada em 2006. Agora sabendo disto, fica fácil reconhecer em In Old England Town o estilo selvagem de Wood no cello.
Em "From The Sun" ou "Kuiama" o ELO soava como uma tipíca banda progressiva sinfônica a nível de um Emerson, Lake & Palmer. Tudo levava a crer que o ELO de Lynne seria uma boa banda progressiva não só musicalmente, mas com relação às letras da banda que agora eram longas e reflexivas, a banda se encaixando bem no mundo progressivo. A última faixa do lado 1 do vinil era "Roll Over Beethoven", uma regravação do hit eterno de Chuck Berry, que ganhou um arranjo pomposo na versão do ELO. O som era agora mais polido e mais definido do que em seu disco de estréia. Apesar da qualidade das demais músicas, foi "Roll Over Beethoven" o sucesso, que fez a banda despontar na Inglaterra e E.U.A.
Após este disco, a banda partiria para um rock progressivo mais eclético, mesclando faixas bem sinfônicas com outras mais rock, algumas mais pesadas, outras mais soul, e outras pop. Foi quando se começou a colocar o ELO junto a bandas como Procol Harum e Supertramp, que mesclavam progressivo com outros estilos, alguns mais acessíveis. Ainda em 1973, sai o terceiro disco, "On The Third Day", que seria o primeiro sinal claro deste ecletismo.
Para este disco houve outras mudanças: sai o violinista Wilf Gibson e entra Mik Kaminski, sai Colin Walker e retorna Hugh Mcdowell . "On The Third Day" tinha uma suíte sinfônica ocupando o lado 1 inteiro. No lado 2 , duas instrumentais progressivas: a belissíma "Daybreaker" e a regravação de "In The Hall Of Montain King". Mas também haviam excelentes músicas pop, como a balada "Oh No Not Susan" , " o rock meio soul "Showdown", e o rock pesado de "Ma-Ma-Ma Belle". Ainda tinha "Dreaming Of 4000" um pop bem psicodélico. Os grandes sucessos do disco são justamente o soul "Showdown" e a pauleira de "Ma-Ma-Ma - Belle". O estilo soul nos anos 70 tomou conta do rock na época, e até bandas de hard-rock como Deep Purple fariam discos (como "Stormbringer" e "Burn") bastante calcados neste estilo. O músico David Bowie grava também um disco só de soul-music . Até o Kiss, antes da fama (quando ainda usavam o nome Wicked Lester), andou passeando nesta praia. Era mesmo uma febre nos anos 70.
É bom lembrar que, com a formação de "On The Third Day", o ELO gravou oficialmente o seu primeiro disco ao vivo, em Long Beach. O LP e o CD teriam duas versões de capas diferentes. Ambos sairiam como edições simples, e dizem os fãs que muito material ficou de fora. Diferentemente das primeiras apresentações do ELO, ainda bizzaras, a banda passou a mostrar um grande afinamento ao vivo, resultando em um grande disco ao vivo. Há por exemplo versões de "Day Tripper" dos Beatles, "Great Balls Of Fire" de Jerry Lewis Lewis , além de excelentes versões ao vivo de "10538 Overture" (primeiro disco) , "Showdown" e "Daybreaker", entre outras releituras muito interessantes ao vivo. Um grande álbum, de certa forma pouco conhecido.
O ELO ainda não tinha o seu real sucesso pop, um megahit ou mesmo um som que identificasse a banda, como diria anos mais tarde Jeff Lynne ("Estavámos indecisos musicalmente, e apontávamos em todas as direções"). Lynne ainda declarou que "Eu escrevia letras muito longas como um pseudo-intelectual, e não era nada daquilo que eu queria, eu queria musicas mais curtas, letras mais diretas”.
O quarto disco do ELO foi "Eldorado", de 1974, que reproduz em sua capa uma cena de O Mágico de Oz, onde a bruxa tentar com seus feitiços tirar os sapatos de Dorothy. Musicalmente o disco mais maduro do ELO até então, é em "Eldorado" que o grupo começa a criar a sua verdadeira identidade musical. O disco trouxe outra grande mudança em seu som que ajudaria a banda a partir daí, e a fazer sucesso: a convocação de mais um músico, o renomado maestro inglês Louis Clark, que trouxe consigo uma orquestra completa, algo que a banda nunca havia utilizado. Os arranjos da orquestra, todavia, seriam feitos não só por Clark, mas também por Lynne e Tandy.
"Eldorado" mantém o ecletismo iniciado em “On the Third Day”; havia um pouco de tudo ali: pop com “Can’t Gei It Out Of My Head ", progressivo em "Mister Kingdom" e na faixa-título, soul novamente em "Laredo Tornado", rock and roll em "Illusions In G major" , blues em "Nobody’s Child", hard-rock em "Boy Blue" . Mas o sucesso mesmo foi "Cant Get It Out Of My Head" o primeiro grande hit do grupo.
Durante as gravações de “Eldorado", o então baixista Michael D’Albuquerque não grava as suas partes. O próprio Lynne é quem teria tocado o baixo de Albuquerque na maior parte do disco (ou mesmo em toda a sua extensão), bem como feito os vocais de apoio, junto com os seus vocais principais. Michael começa a se mostrar um preguiçoso na banda, e acaba saindo da mesma, embora seja creditado como participante no álbum.
A turnê que se seguiu marcou a chegada de um novo baixista, que completaria a chamada formação clássica do grupo: Kelly Grouncut substituiu Mike D’Albuquerque, e passou a ter grande importância, por ter uma voz parecida com a de Lynne, e passar a fazer, a partir daí, diversos duetos e revezamentos de vocais com o líder do grupo. Lynne passou a deixar Kelly cantar muitas músicas da ELO ao vivo. Além disto, ele no baixo era, em minha opinião, muito superior a Michael.
O sucessor de "Eldorado" era a estréia de Kelly na banda em estúdio, e ali o musico já mostrou ao que vinha, sem dúvida. "Face The Music", de 1975, começava a traçar e sedimentar de vez o real caminho da banda ao sucesso e à pop music.
Disco que será comentado mais detalhadamente na próxima parte deste artigo, continuando a saga do ELO.