Neuschwanstein - Battlement - Progbrasil

Neuschwanstein

Alemanha




Titulo: Battlement
Ano de Lançamento: 1979
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Gibran Felippe em 20/11/06 Nota: 9.0

 

Extremamente bom, um clássico ro rock progressivo

O universo progressivo é muito interessante por inúmeras razões e uma delas é justamente a capacidade de criar bandas lendárias que fizeram um único trabalho, mas suficiente para mexer com o imaginário
coletivo do estilo. Esse é o caso da banda alemã Neuschwanstein que numa produção de apenas dez dias em outubro de 1978, brindou os amantes do gênero com uma obra clássica, com os elementos fundamentais para atingir o apreço de todos que curtem um bom prog sinfônico.

Infelizmente, o trabalho não vingou em termos de popularidade, fato que acabou culminando com o término da banda logo em seguida, já que estávamos vivendo o ocaso do rock progressivo nessa época, onde o estilo tentava se reinventar numa fileira mais pop e outros movimentos chamavam mais a atenção dos meios de comunicação, principalmente o punk e o new wave. Com o renascimento do progressivo a partir da década de 90, "Battlement" voltou a ser revisitado com intensidade, o que me permite afirmar que sua popularidade entre os admiradores do estilo é muito grande em todo mundo, inclusive com edição brasileira em cd.

Apesar de originalmente a base musical do grupo executar covers de Rick Wakeman, a comparação com o Genesis é inevitável, principalmente por conta da aura teatral e dos vocais a cargo do único não alemão do grupo - Frédéric Joos, francês, que ainda tocava violão de forma efetiva em todas as músicas do disco. Além dele, a banda era composta por Thomas Neuroth(teclados), Klaus Mayer(flauta e sintetizadores), Roger Weiler(guitarras), Reiner Zimmer(baixo e voz) e Hans-Peter Schwarz(bateria).

Mesmo tendo uma afinidade musical com o Genesis da era Peter Gabriel, diria que o Neuschwanstein não bebeu dessa única fonte e também está distante de ser um mero clone, como alguns insistem em taxar, a começar pela fonte inspiradora centrada na própria história romântica da Alemanha, já que Neuschwanstein é o nome do castelo do rei Ludwig II, localizado nos alpes da Bavária, servindo como escopo também para a arte gráfica, belíssima por sinal. Algumas letras também remontam a esse período medieval, tal como a contida na música que dá título ao álbum.

Não percebo maiores semelhanças entre a guitarra de Roger Weiler com as do Phillips e Hackett, fato que também distancia a similaridade com o Genesis, outro aspecto de diferença está baseado na utilização efetiva dos violões e flautas, instrumentos que no Genesis são esporádicos necessitando da intervenção de um componente em detrimento do seu próprio instrumento. Se analisarmos com atenção músicas como "Loafer Jack", "Ice With Dwale" e "Beyond The Bugle" pode-se perceber claras influências do Caravan, principalmente no que tange os violões, a flauta e o próprio trabalho de bateria que possui força sem perder a suavidade nos momentos mais lentos, típico de Richard Coughlan. Outra influência perceptível também encontra-se no Camel, já que os alemães possuem um teclado muito semelhante ao do Peter Bardens em diversas passagens.

Provavelmente, esse é o charme que possibilita momentos maravilhosos quando a influência do Genesis desperta com força total em músicas como "Intruders And The Punishment", "Battlement" e "Midsummer Day",
aliada a essa mistura de folk com elementos do Caravan, na minha ótica essas são as melhores músicas dessa obra.

Interessante que "Midsummer Day", originalmente gravada junto com as outras faixas tenha sido renegada no lançamento primário em vinil do "Battlement", surgindo como bônus na edição em cd da Musea, num trabalho de garimpagem louvável da gravadora francesa. Essa música é espetacular, iniciando-se com uma base de guitarra, sintetizador ao fundo e muito violão como sempre, para em seguida surgir os vocais emotivos de Frédéric Joos entoando midsummer day para rasgar a alma. Na segunda estrofe cantada, Klaus Mayer deixa o sintetizador de lado e faz o fundo com uma flauta belíssima. A partir desse momento a música ganha mais força, com um baixo vibrante e uma bateria totalmente quebrada e agora a flauta deixa de fazer o fundo para ser o elemento principal juntamente com os vocais. Essa força termina definitivamente com uma parada que não chega a ser abrupta, mas é total, voltando com um teclado que mais parece embalar o sono de uma criança num despertar suave e tenro, para o retorno dos violões e os vocais que parecem ressucitar um Peter Gabriel no Genesis que já não existia mais...

Descrevendo essa música não me restam dúvidas, essa foi uma das bandas pioneiras de um movimento que nos anos 80 conseguiu manter a chama acesa do progressivo, mesmo com a enxurrada de críticas dos fãs mais ortodoxos e exigentes e o abandono quase que completo da mídia. Nada mais, nada menos que o neo prog capitaneado pelo medalhão inglês Marillion.

Os caminhos geográficos trilhados por diversas bandas de rock é muito curioso, temos o caso dos Beatles que se afirmaram como banda de verdade em Hamburgo, na Alemanha, talvez o período mais importante do início da carreira do grupo. Com o Nektar também ocorrera o mesmo, atualmente temos o caso do Anekdoten que encontra no Japão sua segunda morada. A cena francesa de rock progressivo foi extremamente pulsante a
partir da segunda metade da década de 70, e justamente nesse país que ocorreu a química dos integrantes do Neuschwanstein, numa turnê em Moselle onde encontraram Frédéric Joos e a partir dessa ocasião passaram a se revesar por shows em ambos os países, até a gravação dessa obra em Colônia.

Por fim, uma curiosidade sobre a trajetória do grupo é que eles eram a banda de abertura do medalhão alemão Novalis e por muitas vezes acabavam roubando a cena, tamanha a qualidade musical dos componentes e
após a produção do "Battlement" também chegaram a fazer shows abrindo para o Novalis no ano de 1980, mas com a saída de Frédéric Joos e sem verba suficiente para novos projetos, decidiram encerrar a carreira prematuramente.

Aquisição obrigatória para todos os amantes do Genesis era Peter Gabriel, pois Frédéric Joos foi o que mais se aproximou do estilo do vocalista do Genesis e quase obrigatória para todos aqueles que curtem
um bom prog sinfônico.
Progbrasil