Nils Petter Molvaer - Khmer - Progbrasil

Nils Petter Molvaer

Noruega




Titulo: Khmer
Ano de Lançamento: 1997
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Demetrio em 24/03/07 Nota: 10.0

 

Discoteca básica, fundamental

Um dos maiores representantes do chamado "novo jazz europeu" (também Euro-jazz ou jazz eletrônico), o trompetista norueguês Nils Petter Molvaer iniciou sua carreira como membro do grupo de jazz norueguês Masqualero (do qual também fazia parte outro nome importante da cena jazzística européia atual, o baixista Arild Andersen), além de participações importantes em trabalhos de outros artistas do
lendário selo alemão ECM (do qual também fazem parte, por exemplo, outros nomes da vanguarda do gênero jazz/fusion como Terje Rypdal, Keith Jarrett, Pat Metheny, Lyle Mays, dentre outros). Normalmente sinônimo de boa música, este selo se caracteriza pelo apuro e cuidado nos detalhes de suas gravações, tendo sido justamente através dele que Molvaer viria a lançar seus dois primeiros
trabalhos: Khmer, em 1997, e Solid Ether, em 2000.

Khmer incorpora de forma absolutamente impecável todos aqueles elementos que bem caracterizam a música do Molvaer e sua "nova concepção do Jazz": solos hipnóticos e elegantes de trompete, embalados ao ritmo de uma bateria bastante vigorosa, excelente trabalho de percussão, baixo e guitarras e de batidas eletrônicas de trance, house, trip-hop e drum 'n' bass, além de uma pletora de
efeitos eletrônicos como loops e samples e elementos de música ambiente. À guisa de comparação, algo como que uma mistura de Miles Davis com Brian Eno, Bill Laswell e Thievery Corporation. Algumas influências da música oriental e do folclore escandinavo, bem como do rock progressivo, também contribuem sobremaneira para enriquecer ainda mais a paleta extremamente diversificada, complexa e experimental de sua proposta neste belíssimo trabalho.

O disco abre com a faixa título, uma música com uma sonoridade nitidamente asiática (Camboja provavelmente, já que Khmer é o nome da língua oficial desse país), com marcante presença rítmica de percussão, dulcimer e E-bow guitar, além dos solos elegantes de trompete do Molvaer e de efeitos eletrônicos como loops e samples.

"Tløn" (faixa 2), também com uma sonoridade bastante exótica, começa com solos hipnóticos de trompete, pontuados por uma batida eletrônica cadenciada e paisagens sonoras bem viajantes, progredindo depois numa autêntica avalanche sonora com muita percussão, bateria, riffs de guitarra, trompete, samples e efeitos eletrônicos.

"Access / Song of Sand I" (faixa 3) apresenta uma batida forte e cadenciada de bateria, pontuada por riffs de guitarra e trompete, além das habituais texturas eletrônicas.

"On Stream" (faixa 4) é uma música suave, com uma atmosfera bastante intimista e notívaga, pontuada por solos inspirados de trompete, percussão, samples e suaves riffs de guitarra.

"Platonic Years" (faixa 5) apresenta uma introdução bem cadenciada, comandada por trompete, bateria, percussão e guitarra, progredindo depois para uma sonoridade um pouco mais enérgica, com riffs mais vigorosos de guitarra.

"Phum" (faixa 6), a exemplo da faixa 4, também é bastante suave e intimista, com solos delicados de trompete, guitarra acústica (provavelmente tocada com lima ou arco de violino, à la Duofel / Uakti) e samples.

"Song of Sand II" (faixa 7) é uma versão mais enérgica da faixa 3, com uma forte presença de bateria, guitarra e trompete.

"Exit" (faixa 8) é uma música bastante suave e soturna, comandada por guitarra acústica (a exemplo da faixa 6, também tocada com lima ou arco de violino), E-bow guitar e percussão. É a única música deste álbum sem a deliciosa presença do trompete do Molvaer, mas ainda assim uma excelente faixa.

Difícil apontar faixas favoritas num disco tão coeso e irretocável como este, mas eu diria que as faixas "Song of Sand" (I e II), "Tløn", "On Stream" e "Platonic Years", juntamente com a faixa título, podem ser apontadas como momentos absolutamente sublimes deste magnífico trabalho.

A edição objeto da presente resenha é composta de 2 CD's, sendo que o disco 1 contém as oito faixas já relacionadas acima, enquanto que o disco 2 contém remixes de quatro faixas do citado disco 1, a saber:

1. Song of Sand (Single Edit)
2. Platonic Years (DJ Fjørd Mix by The Herbaliser)
3. Tløn (Dance Mix by Mental Overdrive)
4. Song of Sand II (Coastal Warning Mix by Rockers Hi-Fi)

Importante registrar que essas versões remix são tão sensacionais quanto as versões originais contidas no citado disco 1, valendo realmente a pena a aquisição dessa edição dupla.

Este é, como se pode deduzir do exposto acima, um trabalho para quem não teme inovações, portanto se vanguarda musical também é a sua praia, não perca tempo: corra atrás deste e de outros trabalhos do Nils Petter Molvaer que puder encontrar, pois são realmente sensacionais. Basta ter em mente que não se trata aqui de uma simples fusão de música eletrônica com elementos de jazz, mas sim de
jazz da melhor estirpe incorporando, de forma bastante parcimoniosa,
interessantes elementos da música eletrônica e de outras vertentes musicais como o rock progressivo e a world music, numa paleta bastante diversificada de influências onde o contraste de sonoridades parece ser a tônica dominante.
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