Extremamente bom, um clássico ro rock progressivo
Esta grande raridade, amigos, trata-se do verdadeiro elo perdido entre o fantástico disco de estréia do King Crimson e o que eles fariam depois, sem seu principal compositor. Em 5 músicas, Ian McDonald e Michael Giles mostram uma roupagem diferente de sua banda de origem, mas o espírito do Rei Escarlate pode ser encontrado em vários pontos do disco. O estilo (e a genialidade das composições) é o mesmo, só a abordagem instrumental é diferente : não há mellotron, nem a guitarra de Fripp, nem o vocal de Lake. Mas há música de primeira qualidade.
O disco abre com Suite in C, que começa com Ian sozinho na voz e guitarra, numa sonoridade curiosamente muito parecida com o que o Crimson iria fazer em algumas partes do lp Islands, mais especificamente na introdução de Ladies on the Road. Outros instrumentos entram junto com um coral. Depois, uma passagem mais acelerada, bem jazzística, com Ian mostrando sua perícia na flauta (e tocando ainda um discreto piano ao fundo), e Michael em uma levada de bateria cheia de quebradas. Peter entra na brincadeira solando seu baixo. Volta a letra, e uma passagem mais lenta, muito bonita, com direito a orquestra (na primeira audição a gente pensa que é o Mellotron que Ian tanto tocou no primeiro disco do Crimson). O encerramento ocorre com melodia levada no violão, e com o convidado Steve Winwood solando no piano.
Flight of the Ibis, de pouco mais de 3 minutos, é uma deliciosa canção lenta e melódica, no melhor estilo de I Talk to the Wind e Cadence and Cascade. Aliás, trata-se da melodia inicial de Cadence and Cascade, que Ian compôs antes de sair do King Crimson (bastante semelhante à que Fripp fez depois, e que acabou sendo a versão definitiva). Aqui, ela aparece com outra letra.
Depois, outra linda canção na veia melódica do King Crimson : Is She Waiting, levada basicamente na voz e violão de Ian. Uma das mais belas canções que ele já fez.
Encerrando o lado 1 do vinil, a única composição de Michael Giles : Tomorrow's People, que retoma o clima experimental. Bastante calcada nos sopros (flauta e sax de Ian, e mais um convidado no trombone) e logicamente na bateria e percussão, esta música trás mais uma curiosidade : Michael no vocal principal. Vale destacar ainda a bela passagem melódica no meio da música, com outra bela intervenção da flauta de Ian.
Encerrando a obra, a suíte Birdman, que ocupa todo o lado 2 do vinil original. O início não me agrada muito : uma coral abre a suíte, para depois entrar uma melodia meio chata, onde são cantados os primeiros versos. Depois, a coisa começa a melhorar, com um bom solo de sax, bem puxado para o jazz, que emenda com uma passagem lenta muito bonita, onde irrompe um órgão. Esta parte, inclusive, é bem semelhante à melodia de Burning Bridges, música que o Pink Floyd lançaria dois anos mais tarde na trilha sonora Obscured by Clouds.
Um falso final, e começa a se ouvir ao fundo um som de prato. Entram discretamente piano, flauta e órgão mais ao fundo. A melodia vai crescendo, outros instrumentos vão entrando, na preparação o grand finale, a parte mais linda de todo o disco.
Mais um falso final, e entra então a última estrofe, cantada em duas vozes, numa melodia fantástica, que invade as caixas de som de vez após a entrada do piano, num clima calmo, típico de encerramento mesmo. A parte final vai seguindo e crescendo, os instrumentos entrando, outro belo coral, e até a orquestra volta. Aí já era : a melodia já te pegou. É se recostar e curtir o puro delírio dos minutos finais. |
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