Tempus Fugit - The Dawn After The Storm - Progbrasil

Tempus Fugit

Brasil




Titulo: The Dawn After The Storm
Ano de Lançamento: 2000
Genero:
Label:
Numero de catalogo: RSLN 0032

Revisto por Gibran Felippe em 04/10/07 Nota: 9.5

 

Obra-prima, irretocável

O resultado alcançado por esse segundo trabalho da banda carioca Tempus
Fugit é esplendoroso e fica latente logo na abertura com uma música já
considerada clássica na discografia progressiva brasileira, "Daydream".
Impossível imaginar um nome mais propício para essa composição do André
Mello, que apresenta solos de guitarras memoráveis e quebras rítmicas
arrebatadoras, numa apologia que encontra ressonâncias em tempos
oníricos, pois tanto nessa música quanto numa fantasia de nossos
corações é possível deixar a mente vagar em busca do pleno
contentamento.

Há uma certa divisão por parte do público no que tange o melhor trabalho
da banda, uma ala considera o primeiro e outro grupo na mesma proporção,
considera ser esse segundo álbum superior. Faço parte do segundo grupo,
porque em "The Dawn After The Storm" noto um amadurecimento musical por
parte do Tempus Fugit, com as idéias mais delineadas e um escopo musical
mais consistente e original. Ressalto que nesse trabalho a banda
conseguiu ampliar seus horizontes sonoros, soltou de vez algumas
amarras e muitas vezes é possível observar variações rítmicas que
beiram improvisos, bem como destaques individuais não percebidos
anteriormente, a maior prova disso está na grande participação e ênfase
das guitarras. Se o que antes já era ótimo, aqui fica ainda melhor!

A formação do grupo nessa ocasião era: André Mello – teclados e vocais,
Ary Moura – bateria, Henrique Simões – guitarra e violão e André Luiz
no baixo. Uma alteração significativa ocorreu com relação ao primeiro
trabalho, a saída do carismático baixista Bernard, responsável por
algumas composições no "Tales From A Forgotten World" e também que
imprimia uma pegada similar à do Eloy, já que uma de suas grandes
influências reside justamente no magnífico e único Klaus P. Matziol.
Mesmo abandonando o Tempus Fugit, Bernard seguiu a sua carreira de
designer produzindo inúmeras obras de arte e sendo muito requisitado no
meio devido seu enorme talento e criatividade. Na outra ponta, seu
substituto, André Luiz, mantém o alto nível com categoria

Na segundo música, responsável por intitular a obra, temos uma mini
suíte instrumental dividida em quatro partes marcadas por composições
complexas e novamente uma dobradinha super inspirada – André
Mello/Henrique Simões, capazes de criar acordes absolutamente
melódicos. Os teclados produzem uma atmosfera apoteótica e muito
sinfônica, ficando perceptível influências de Rick Wakeman e Peter
Bardens, enquanto a guitarra executa diversos solos chorados em meio a
dedilhados elaborados. A passagem que mais admiro é a derradeira,
"Homeward", justamente por possuir um solo de teclado capaz de levar-me
às lágrimas. Essa é a minha preferida do disco, ao lado de "Discover".

"Never" é a primeira música cantada do álbum e de um lirismo capaz de
agradar à primeira audição e também funciona como uma espécie de
calmaria para o ritmo frenético das anteriores. Essa composição lembra
os grandes momentos do Pendragon e se André Mello não possui a mesma
técnica vocal de Nick Barret, seus teclados em nada deixam a desejar
para os de Clive Nolan e em vários momentos é possível observar a sua
grande desenvoltura na utilização de vários timbres e mesas. Na
sequência a banda apresenta mais uma grande música, com um sonoro
título em português - "Tocando Você" e uma guitarra para nenhum fã de
Andy Latimer botar defeito. Henrique Simões mostra grande versatilidade
na condução das guitarras, indo do solo mais romântico e chorado para
movimentos mais bruscos e dramáticos, sem qualquer prejuízo ao
andamento da harmonia musical do grupo. Verifica-se a mesma precisão
também em "O Dom de Voar" (belíssima) e "The Sight". Na primeira temos
a completa ausência da bateria e uma participação especial de Marco
Aurêh nas flautas que casam perfeitamente com os violões de Simões e o
piano do André, enquanto a segunda é de um sinfonismo comum às bandas
setentistas. Tempus Fugit é essencialmente isso, um resgate do
sinfonismo clássico, "The Sight" provavelmente possui o solo de
guitarra mais belo de todo o álbum e os vocais aqui dão conta plena do
recado e estão bem de acordo com o desenvolvimento musical proposto,
vale destacar o baixo do André Luiz que se faz presente com muita
personalidade em "The Sight".

Tenho uma preocupação com relação ao novo trabalho do grupo, pois já se
vão quase dez anos de distância para esse genial "The Dawn After The
Storm" e o receio está relacionado à expectativa que o Tempus Fugit vem
causando nos seus admiradores do mundo inteiro para o lançamento do
álbum "Chessboard", quase uma tortura. Tenho a convicção que
tratar-se-á de mais um belo exemplar da banda que será entregue no fim
de 2007, porém se tal trabalho não mantiver o nível dos dois primeiros,
será uma grande frustração devido o longo tempo de espera e convenhamos
que os dois primeiros discos do Tempus Fugit foram acima da média,
colocando a banda entre as melhores dos anos 90, sendo convidada para
alguns festivais internacionais, tais como o Baja Prog, onde
infelizmente não puderam comparecer por conta de problemas de ordem
financeira e o Prog Fest, nesse sim, o grupo se apresentou e foi
sucesso de vendas na ocasião do evento, ficando marcados por serem a
primeira banda sulamericana a participar do festival. A banda também
possui um público fiel na vizinha Argentina, onde tiveram a
oportunidade de se apresentar e foram ovacionados pelos hermanos.

"The Dawn After The Storm" ainda reserva a melhor surpresa para o final,
"Discover" é o carro chefe desse trabalho, absolutamente contagiante e
nessa observa-se grande influência do Yes, a principal fonte de
inspiração do grupo, que tem algo dos ingleses até em seu nome. E
convenhamos, mesmo possuindo arranjos bem distintos do Yes, a banda
bebeu na melhor das fontes existentes no rock progressivo para extrair
sua bela sonoridade. A introdução da música com o bandolim de Simões é
um arraso, abrindo de forma comovente e com extrema sensibilidade para
os teclados e vocais do André Mello. O desenvolvimento segue com a
entrada de outro convidado especial, Fernando Sierpe colaborando nos
backing vocals e com uma guinada inesperada para um ritmo intenso,
essas variações abruptas remetem-me diretamente ao Yes, eram mestres
nesse tipo de construção musical, one Howe começava na viola e depois
Wakeman explodia tudo. Aqui o Tempus Fugit recria essa atmosfera com
grande maestria e personalidade própria, onde na segunda metade da
música em diante os teclados de André surgem de forma ímpia não
deixando pedra sobre pedra num arroubo de euforia.

Já tive o grande prazer de vê-los ao vivo e aguardo ansiosamente pelo
novo trabalho e também por uma nova turnê, na minha escala de
conceitos, considero o primeiro trabalho do Tempus Fugit com uma nota
nove, esse segundo sobe mais meio ponto e se continuarmos nessa
progressão, teremos a nota máxima para “Chessboard”!
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