Calix - Ao Vivo - Progbrasil

Calix

Brasil
http://www.calix.art.br/




Titulo: Ao Vivo
Ano de Lançamento: 2007
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Gibran Felippe em 01/12/08 Nota: 10.0

 

Discoteca básica, fundamental

Discoteca básica, fundamental.

O grupo mineiro Cálix já possuía boa reputação no contexto progressivo brasileiro devido a agraciação por parte do público dos seus dois discos de estúdio: 'Canções de Beurin' e 'A Roda', porém com o lançamento desse dvd, alçou um vôo ainda maior, pois de imediato passou a ser sucesso de vendas e o grupo conseguiu certa projeção no cenário nacional, abrindo portas para participação em eventos gerais, não apenas os restritos ao público progressivo.

A formação para essa apresentação memorável conta com Renato Savassi - violão, flauta e vocais , Sânzio Brandão - guitarra , Marcelo Cioglia - baixo e vocais , André Godoy - bateria, Rufino Silvério - piano e teclados, além de uma bela orquestra num acompanhamento muito bem casado com a sonoridade do grupo.

O evento toma forma em tons épicos com o palco do Grande Teatro Palácio das Artes em Belo Horizonte enegrecido ao som de uma 'trombeta' sintetizada ao fundo, aos poucos tudo vai se clareando e surge imponente a figura de Renato Savassi e os acordes iniciais da primeira música, aliás inédita, chamando-se 'Kazoo', mostrando a personalidade do grupo que poderia muito bem utilizar a forma usual e abrir com uma mais conhecida do público. 'Kazoo' possui uma excelente letra e seu refrão também é muito agradável com destaque para os vocais e os rifes de guitarra em conjunto com os violinos.

'No More Whispers' surge em seguida para delírio do público, essa é um verdadeiro petardo do disco de estréia do Cálix e literalmente levanta a platéia com seus diversos fraseados melódicos. O solo de flauta do Renato e seu gestual em muito lembram o estilo do Ian Anderson, nervoso, vibrante e muito bem ritmado, provocando regozijo geral no público. Outros dois aspectos que merecem consideração é o fato dessa canção ter muito do clima de outro grande grupo brasileiro, o Aether, basta para isso ouvir 'A Brigth New Day', porém as semelhanças entre os grupos param por aí e obviamente a percussão vocal executada por Renato Savassi é um atrativo e tanto, muito curiosa, criativa e extremamente bem colocada. Depois a influência do Clube da Esquina se mostra presente na sonoridade do grupo com as baladas 'A Roda' e 'Duas Visões'.

O clima da MPB mineira e seu estilo folk continua dando o tom para 'Última Canção' e também há de se destacar reminiscências do bom e velho 14 Bis na sonoridade marcante de 'Lenda do Mar', outro destaque do segundo trabalho do grupo contendo um longo solo de flauta. Após esse interlúdio poético, eis que entra em ação uma das mais conhecidas, a sumarenta 'Dança Com Devas', num dos momentos mais emocionantes do show em que todos se levantam para cantar em uníssono com o grupo: 'Há mais de mil anos.../Singelas pessoas, mendingos e bruxos/Erravam em bandos/Em busca da fonte/..Dançavam com Devas!' Durante a execução desse número o Cálix conseguiu uma autêntica façanha, a qual seja em meados do show colocar todos de pé no teatro, algo raríssimo numa apresentação de um grupo com sonoridade progressiva, aqui incluo até mesmo os medalhões. Impossível não ficar arrepiado com os aplausos ao som da base dos violinos, a flauta do Savassi mais uma vez apresenta o fino e o piano, que ficou comedido nas músicas anteriores, largou o dedo numa quebradeira bem interessante. Vale destacar os efeitos percussivos da convidada especial Daniela Ramos, enfim, 'Dança Com Devas' ficou perfeita e fica claro o talento da banda para boas letras, algo de certa forma ausente na discografia progressiva brasileira. Acompanhando as letras com atenção, fica fácil perceber a consistência das composições.

Após a explosão anterior segue um antí-clímax no piano muito bem conduzido por Silvério, para que a platéia se assente novamente, mas não dura mais que dois minutos, já que a guitarra e a flauta entram rasgando com mais um número inédito que é excelente 'Efeito Lunar', nessa canção o grupo guarda similaridade com Camel, pois a flauta lembra o jeitão do Latimer, se distanciando do Ian Anderson que até então era o grande referencial, esse fato é positivo por mostrar a versatilidade do estilo musical do Renato Savassi. 'Ventos de Outono' é outra que possui uma letra acima da média, com destaque absoluto para Savassi que toca de forma deslumbrante sua flauta, sendo apenas acompanhado pelos outros instrumentos sem maiores variações, praticamente um número solo. Em seguida o grupo apresenta outra inédita 'Olhos Fechados', música que possui pegada semelhante ao primeiro número 'Kazoo', altamente progressiva com destaques para a orquestra que com seus metais criam um efeito contagiante, mostrando qual será a linha para um próximo trabalho de estúdio e a pensar na qualidade das inéditas, o Cálix tem tudo para brindar seus admiradores com mais um belo disco. O solo de sintetizador em meados da música é outro ponto a se destacar, além de uma dobradinha da flauta com as percussões, um dos melhores momentos instrumentais desse dvd. A curiosidade é que essa foi a música de escolha do grupo para rolar no menu do dvd, passando aquela impressão, já ouvi isso antes...

'Seu Dom' possui aquela batida tradicional da MPB, música sem maiores atrativos, ficando num patamar muito abaixo das demais e nessa execução ao vivo o grupo não modificou o seu andamento, seguindo idêntica à versão de estúdio. Logo depois temos mais dois números do disco 'A Roda', são elas 'Homens-pedra' e 'Looking Back', o destaque na primeira fica com a base de piano que em conjunto com a orquestra forma um efeito que nos remete à fase do Jethro Tull do 'Ministrel In The Galery' em que John Evan quebrava a todo instante acompanhado por violinos orquestrais, já na segundo quem dás as cartas é a guitarra do Sânzio com uma base pautada em rifes agradáveis e com solos pontuais sem exageros e nos momentos adequados, como na parte final da música em acompanhamento aos vocais, aliás se faz importante acrescentar que os vocais do Marcelo Cioglia em inglês são ótimos criando um contraponto atraente com a voz do Savassi.

Pra fechar o evento eis que surge o grande hit do primeiro trabalho do Cálix - 'Canções De Beurin' / 'Quem foi que disse que eu quero calar, deuses de pedra irão se quebrar...' e as profanas canções de Beurin é a deixa perfeita para o melhor solo de guitarra do show com Sânzio levando num timbre muito próximo ao estilo do guitarrista David Gilmour, diga-se de passagem essa composição também foge da toada do Jethro Tull e nos remete à fase 'Wish You Were Here', álbum magistral do Pink Floyd. Ao término do show surge a bandeira com a frase símbolo de Minas Gerais, 'Libertas Que Sera Tamen' mostrando todo o orgulho do público mineiro com a qualidade musical desse expoente do progressivo brasileiro, deve-se ressaltar ainda que a direção do dvd está fora de série, com todos os cortes para os instrumentos executados de forma perfeita, sem buracos, sem erros de filmagem, sem closes equivocados, nada disso, mostrando que nossos profissionais nessa área possuem um know how elevado, em nada deixando a desejar para as produções internacionais e acima de tudo conhecendo profundamente todas as músicas e seus deselances principais.

Outro diferencial desse dvd reside nos extras, algo que em itens similares da música progressiva brasileira ficam muito aquém para a produção de um tipo de mídia que possui recurso suficiente para preenchimento de curiosidades, detalhes desapercebidos e informações sobre os artistas. Nesse trabalho do Cálix os extras contam com boas entrevistas, que vão desde a formação do grupo, suas influências: Jethro Tull (a maior delas), Renaissance, Sagrado Coração Da Terra e desembocando em diversas curiosidades, sendo possível até mesmo perceber a Daniela Ramos acendendo um 'morcegão' antes da entrada no palco, bem como a regência da orquestra a cargo do guitarrista de outro grande grupo mineiro, o Rodrigo Garcia do Cartoon e claro, a simplicidade dos integrantes com aquele típico sotaque mineirinho. Esse registro documental nos extras possui o nome de Vivências, em alusão ao primeiro nome da banda, ainda bem que mudaram, pois Cálix possui muito mais força. Por fim, a nota máxima concedida nessa resenha se confirma justamente por mérito dos extras, porque como sempre diz meu amigo Renato Glaessel, o principal motivo da arte está no enlace emocional que a mesma cria com o público, não interessa aqui subterfúgios técnicos, nem a perfeição sonora, mas sobretudo a percepção sentimental que nos envolve junto com a experiência de assistir a esse belo dvd e se faz necessário confessar que o set final nos extras é pra deixar, qualquer um, que tenha afinidade com boa e honesta música, emocionado.
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