Discoteca básica, fundamental
O ano de 2008 guardava uma imensa surpresa para o seu final.
Depois de muita preocupação por parte dos fãs, acerca da saúde do mestre, eis que Rheingold nos apresenta um Klaus totalmente renovado, de uma simplicidade emocionante, típica dos grandes nomes das artes, aos quais a responsabilidade parece não pesar sobre os ombros nem comprometer sua inteligência e percepção da realidade.
O próprio Klaus nos informa o tempo que passou fora dos palcos e sua frustração com os últimos espetáculos, não é novidade para ninguém o pouco caso com que hoje grandes artistas são tratados e recebidos, foram dez longos anos e seus filhos nunca haviam assistido a nenhum de seus shows.
A abertura emociona, após o show do Tangerine Dream e toda a sua parafernália tecnológica o mito entra no palco, corpo um pouco curvado, terno e paletó sem gravatas, agradece ao público emocionado, faz uma breve descrição daquilo que será o show e se dirige aos teclados, o Big Moog está lá, nas costas, na frente os mini moogs, emuladores, sequencers , outros teclados e um Mac para as programações.
As evoluções sempre lentas, as referências líricas à Wagner estão por toda a parte e o mestre completamente mergulhado nos synths para uma platéia extasiada e hipnotizada.
Compreender esse momento exige mesmo grande elevação musical e espiritual e isso essa platéia tinha de sobra.
São quase duas horas de música com algumas participações de Lisa Gerrard, com visual de diva da ópera-segundo as palavras do próprio Schulze-, que trazem um estranho colorido à musica de Schulze, mas enfim é um novo colorido, embora os vocais já tenham sido muitas vezes experimentados pelo mestre outrora.
Nos intervalos das músicas Schulze não esconde sua emoção por estar ali, na frente de todos e inclusive conversa com a platéia e discute possibilidades para os números seguintes.
No total são cinco números, com belíssima iluminação e filmagem impecável.
O DVD 2 quase merece uma resenha em separado, na primeira parte ele chega à Inglaterra para mixar o DVD no Real Word Studio de propriedade de Peter Gabriel, o estúdio é absolutamente espetacular e com possibilidades técnicas que nem o próprio Schulze compreende, e não tenta esconder isso.
Lá são gravadas entrevistas longas onde ele fala sobre o futuro de shows, vejam só, na Polônia e na própria Alemanha, o re-lançamento dos boxes de cds pela SPV e claro o próprio DVD, também conta sobre o vale de Lorelei às marges do Reno, cenário para diversas obras de Wagner e o incentivo que isso propiciou.
Na sequencia temos uma hora de bate papo com Steve Wilson que se revela um grande fã e conhecedor da obra de Schulze, não esqueçamos do projeto No-Man que tem muito de eletrônico e todo o envolvimento de Steve em projetos eletro-psicodélicos como o I.E.M. para ficar em apenas um exemplo.
Na parte técnica o DVD é arrasador, com DTS e qualidade de áudio brutal, nada a discutir aqui.
Fica a imagem de um homem e sua música, da recuperação em suas crenças e vislumbre de um novo horizonte, quiçá em terras brasileiras, afinal sonhar é permitido.
Que esse seja o primeiro de muitos novos trabalhos e que o mestre siga nos emocionando com seu talento e vibrações musicais.
Irrepreensível, emocionante e obrigatório.
Abs Glaessel |
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