Extremamente bom, um clássico ro rock progressivo
Extremamente bom, um clássico do rock progressivo.
Dois minutos entoados por um coral latino ritualístico, numa distância soberba do rock, cerimonial quase assombroso cultuado por seitas religiosas da Idade Média, estabelecendo um elo bizarro entre o passado e o presente nas cordas vibrantes do baixo e guitarra que o assolam sem pedir licença numa base mais roqueira e feroz que os trabalhos anteriores desse ícone italiano dos anos setenta. O Premiata Forneria Marconi optou por uma introdução pouco usual neste terceiro disco, e ainda hoje é motivo de dúvidas por parte do público, já que não se sabe ao certo se a banda utilizou um coral humano nas vozes dos próprios integrantes, se Flavio Premoli a executou no mellotron(algo perfeitamente plausível, já que este é um dos melhores mellotronistas de todos os tempos) ou se foi a junção de ambos. 'L Isola Di Niente' mostra de imediato uma nova propensão musical por parte do grupo, mais forte, mais intensa, mais pesada. A linha de baixo se percebe altamente quebrada e a parada dos vocais para dois solos cortantes de guitarra não era algo que se via nos dois trabalhos anteriores. Esse movimento inicial se aproxima da musicalidade do Yes, interessante perceber os rumos sonoros do Premiata Forneria Marconi, nos dois primeiros discos existe uma orientação crimsoniana e depois no 'Chocolate Kings' o grupo seguiu uma linha genesiana com a entrada de Lanzetti, mas aqui ocorre uma clara similaridade com o Yes. Essa pontuação é necessária apenas para delinear o trabalho, pois os italianos sempre possuíram enraizadas suas próprias características, após a levada roqueira do início, temos um movimento de extrema suavidade nas cordas de Franco Mussida, típica passagem pastoral contornada pelo mellotron e violino, retomando aos poucos num crescente de teclados e guitarra que culmina com uma virada espetacular de bateria até o retorno desconcertante dos corais iniciais, o movimento final é caracterizado por um solo distorcido de guitarra, tendo ao fundo um dedilhar de violino, mesclando vibração e leveza em doses exatas prenunciando o término desse brilhante número inicial que fugindo um pouco das características do grupo, possui largo fôlego com arranjos complexos e destaques individuais.
A música título, de certa forma, caiu no esquecimento do grupo, pois nas últimas apresentações que fizeram ao redor do planeta não a executaram, logo a dúvida sobre os corais ainda se faz presente na minha mente, pois nunca tive a oportunidade de ver esse tema sendo executado ao vivo. A formação em 'L Isola Di Niente' é Franz Di Cioccio - bateria, Jan Patrick Djivas - baixo, Franco Mussida - guitarra e vocais, Mauro Pagani - violino e flauta e Flavio Premoli - teclados e vocais. A se destacar o novo membro, o baixista Patrick Djivas, frontman de outro seminal grupo italiano, o Area.
Outra característica arrebatadora nesta obra é a queda para as linhas jazzy, sendo que em alguns temas envereda por um fusion não muito comum para os padrões musicais do grupo. Estes direcionamentos provenientes da escola jazzística tem como um dos responsáveis diretos justamente a presença do baixista Patrick Djivas, em que a segunda música 'Is My Face On Straight' é proeminente nesse aspecto mais jazzy e mais ainda a última - 'Via Lumiere'. Na segunda música o grupo apresenta uma outra face, as letras psicodélicas em inglês, compostas por Pete Sinfield, mostrando que a aproximação do Premiata Forneria Marconi com o King Crimson vai além das questões sonoras. A dicotomia entre o calmo dedilhado do violão com os arroubos entrecortados da guitarra são de estremecer, algo que o Crimson fez em profusão em obras como 'Lizard'. A entrada da flauta executada por Pagani é magistral, misto de improviso e marcação quebrada até a mudança rítmica na base de mellotron, para em seguida um show de guitarra que vai até o fim, difícil entender porque uma sonzeira dessas não caiu na graça dos admiradores do grupo, talvez por não estarem acostumados a tantas variações rítmicas. Outros importantes destaques nesta música são as baquetas nervosas de Franz Di Cioccio e o acordeão igualmente nervoso de Flavio Premoli. No tocante aos vocais, há certa reminiscência da época psicodélica dos Beatles, conduzida principalmente por Lennon.
'La Luna Nuova' apresenta o Premiata Forneria Marconi que o público conheceu nos dois primeiros discos, um autêntico clássico, não por acaso o grupo gosta de encerrar suas apresentações a executando. Já na introdução o violino sinfônico de Pagani exala sentimentalismo, com uma cozinha vibrante e virando a todo instante, perfazendo o clima propício para a comunhão perfeita entre o violino e os teclados que culminam num solo estupendo de Franco Mussida. Neste momento o delírio já é total, difícil se conter diante de performance tão arrebatadora, o solo de guitarra após um outro arroubo do violino com os teclados, é na minha ótica o melhor que Franco Mussida produziu em toda sua carreira, aquele fraseado é de fato imorredouro em nossos corações e mentes, fechando a música de forma apoteótica. 'Dolcissima Maria' é outra que remete aos dois primeiros discos, pela bela poesia, pela flauta do Pagani, difícil não cantar junto com o grupo os versos 'E qualcuno se vorrai; vestito di poesia;ti coprirá d amore;senza chiedertidi più'. 'L Isola Di Niente' foi o primeiro exemplar da banda que escutei, recordo-me na ocasião que adorei, caiu a ficha de primeira, mas de certa forma não achei tão distinto do que já conhecia das bandas inglesas, tais como: King Crimson, Genesis, Gentle Giant e sobretudo Yes. Entretanto ao ouvir 'La Luna Nuova' e 'Dolcissima Maria' percebi que os elementos italianos também se faziam presentes, não se tratava de obra tão agressiva quanto o King Crimson, a suavidade e o lirismo típicos também se mostram de forma atuante. De qualquer forma, somente um pouco depois é que fiquei estupefato com o Premiata Forneria Marconi, foi exatamente quando conheci o álbum 'Storia D'Un Minuto', em que a verve italiana estava amplamente acentuada.
'Via Lumiere' encerra o álbum servindo como forma de apresentação do exímio baixista que havia entrado no grupo, pois desde o início Patrick Djivas constrói inúmeros solos e improvisos, numa música totalmente fusion e nervosa. O violino de Pagani está distorcido e a levada é exacerbadamente neurótica. O piano aparece enfim, talvez não da maneira que os fãs do grupo gostariam, de forma melódica, algo que ficou ausente neste terceiro trabalho e foi muito explorado nos dois primeiros. Do meio para o final, a quebrada jazzy dá um espaço para o tom Yes que permeou todo o disco do início ao fim.
'L Isola Di Niente é mais rock na acepção da palavra que os dois clássicos anteriores, é também mais fusion e menos melódico, mas ainda assim nos traz muito do sentimentalismo italiano, e este lirismo pode neste álbum não transbordar, mas enche o copo com facilidade. |
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