Discoteca básica, fundamental
Discoteca básica, fundamental.
Se houvesse que escolher um termo para classificar a musicalidade contida neste trabalho magnífico do Banco Del Mutuo Soccorso, este seria poesia! Aqui não temos a poesia rebuscada, de métrica exata, de expressões intraduzíveis e de difícil assimilação e interpretação. A introdução com 'Ciclo' apresenta versos musicais escritos com suavidade e excesso de sentimentalismo, num autêntico transbordamento das emoções, pautado pela combinação perfeita dos teclados conduzidos pelos irmãos Nocenzi em conjunto com o trompete de Rodolfo Maltese.
'Canto Di Primavera' é um autêntico marco na carreira do medalhão italiano, por diversos motivos; último álbum produzido na prodigiosa década de setenta, o mágico piano de Gianni Leone se despede da banda, marca o retorno triunfante do vocalista Francesco Di Giacomo que ficou ausente no trabalho anterior, para muitos o último sopro de qualidade numa obra de estúdio lançada pelo Banco Del Mutuo Soccorso, entre outros. A rigor, este trabalho é um encerramento propício e virtuoso para uma década majestosa na carreira destes italianos incomparáveis, contendo números rebuscados que remetem à primeira fase da carreira do grupo como: 'Sono La Bestia' e 'Circobanda', ao lado de baladas que podem figurar entre as mais belas criadas por grupos de rock progressivo, tais como: 'Niente' e, sobretudo 'E Mi Viene Da Pensare'.
A formação aqui é clássica com a presença do frontman Vittorio Nocenzi - teclados e vocais; Gianni Nocenzi - teclados; Rodolfo Maltese - guitarras e trompete; Pierluigi Calderoni - bateria; Gianni Colaiacomo - baixo e o monstruoso vocalista Francesco Di Giacomo, um dos melhores que este planeta já teve! A música título é de uma inspiração ímpar, capaz de propiciar alguns momentos de relaxamento e prazer para aquele sujeito estouvado que mal possui tempo de meditar e descansar a mente.
Na sequencia 'Sono La Bestia' apresenta todas as armas que fizeram com que o grupo se transformasse num dos mais amados por público e crítica, a bateria de Calderoni está excelente com viradas incríveis combinando perfeitamente com os sopros de Maltese até a parada predecessora ao refrão entoado por Giacomo, ainda levando em consideração a quebradeira geral dos pianos de Vittorio e Gianni que são maravilhosos.
'Niente' é o número propício para Francesco Di Giacomo soltar toda sua emotividade, algo perene na musicalidade italiana que remete aos campos primaveris da vechia Itália.
Mal se consegue respirar por conta da continuidade emotiva com a mais lendária balada do grupo, um hino de amor à natureza registrado nos versos e notas de 'E Mi Viene Da Pensare'. Além do maravilhoso vocal, ainda sobra espaço para um solo de piano memorável a cargo do mestre Vittorio Nocenzi. 'Interno Citta'' é a faixa que remete de forma imediata à fase inicial dos três primeiros trabalhos do grupo, música que mistura complexidade e melodia em doses exatas, para muitos admiradores do grupo a melhor música do disco, inclusive com uma mudança de andamento marcante puxada pelo sintetizador de Vittorio, que em seguida fica apenas criando uma linda atmosfera para o solo de trompete realizado por Maltese. A cozinha também se destaca com uma batida totalmente jazzy de Calderoni, não por acaso considero este álbum como o melhor trabalho do baterista, sem dúvida um primor, sua criatividade aflorou de forma intensa.
A introspecção é o ponto de partida para 'Lungo Il Margine', trazendo ao ouvinte uma certa sensação de saudosismo das coisas boas que a vida proporcionou nas mais diversas jornadas, difícil segurar as lágrimas, pois a combinação dos pianos de Gianni Leone com os teclados de Vittorio é proeminente em emotividade. Neste ponto, a bateria de Calderoni repousa, permitindo uma suavidade ainda maior na expressão vocal de Giacomo, além da acentuação dos efeitos sonoros criados por Maltese. Se no início da resenha o termo propício escolhido para definir este álbum fora poesia, muito disso se deve a esta música. A viagem sonora proporcionada pelo Banco Del Mutuo Soccoroso chega ao fim nas cores vivas de 'Circobanda', trazendo novamente um pouco de tudo que rolou durante a audição desta autêntica jóia rara do progressivo italiano. Esta música final representa aproximadamente o mesmo objetivo que o Genesis realizou com 'Los Endos', no aclamado 'Trick Of The Tail', ou seja, sintetizar algumas das melhores passagens do disco. |
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