Marcelo Diniz - Analog Dream - Progbrasil

Marcelo Diniz

Brasil
http://www.myspace.com/marcelodiniz




Titulo: Analog Dream
Ano de Lançamento: 2008
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Gibran Felippe em 14/03/10 Nota: 8.5

 

Fantástico, vai rolar direto no meu som

Fantástico, vai rolar direto no meu som.

Nos últimos quinze anos a produção de música eletrônica no país concebeu ótimos discos, desde os trabalhos do clássico Alpha III, passando por álbuns solos de músicos dos grupos consagrados no circuito progressivo nacional até desembocar numa nova geração, cheia de entusiasmo, vigor e novas idéias. Assim, o público nacional, admirador do estilo, deixou de esfaimar por representantes genuínos do país. Nesta categoria da nova geração encontra-se Marcelo Diniz e sua obra debutante - 'Analog Dream', capa esverdeada, com design gráfico muito belo, remetendo à tonalidade clássica de 'Close To The Edge'.

A abertura surge de forma apocalíptica com uma robótica contagem regressiva, lembrando bastante o estilo impactante de um dos maiores panteões da música eletrônica mundial, os alemães do Kraftwerk. Entretanto, nos primeiros acordes de 'Fire Moon' a suavidade toma conta, com inserções espaciais nos sintetizadores executadas com muito requinte. 'Voices Of The Night' apresenta um tema sonoro totalmente oposto à música introdutória, pois é marcado por uma angustiante sequencia de programação.

Os sons naturais, forte característica da música eletrônica, fazem parte de 'Escape'. A respiração inicial mostra certa conexão com o Kraftwerk e a tensão imposta pelos 'batimentos cardíacos', entrecortada por notas muito bem colocadas, traçam na mente do ouvinte um cenário de fuga, daquelas típicas sequencias épicas dos filmes de ficção científica, onde o herói enfrenta vilões cibernéticos em busca de uma saída em meio ao risco iminente de perder a vida. O horizonte muda completamente para o tema 'Way Of A Lonely Man', numa sequencia altamente introspectiva.

A introspecção continua com 'Black Hole', onde temos uma aproximação muito forte com outro panteão da música eletrônica mundial, o formidável Tangerine Dream, estritamente ligada à fase mais espacial, mas com ausência de efeitos psicodélicos intensos, típica de obras como 'Zeit'. Após a metade da audição do álbum, fica nítido que Marcelo Diniz não busca uniformidade entre os temas, passeando por diversas construções sonoras, desde movimentos abertos até outros extremamente introvertidos. Esta diversidade de estilos deixa o álbum bem variado, possibilitando que um público menos afeito à linhagem eletrônica possa degustar de 'Analog Dream' sem maiores traumas. 'Aquarius' é a música de maior duração, porém não chega a ser uma suíte. Aqui temos a musicalidade eletrônica pragmática, com atmosfera intensa e um ar dramático, daquelas que deixam a mente vagando desgovernada, característica comum em algumas obras do Alpha III, notadamente o clássico 'Ruínas Circulares'. O ponto fraco desta música fica restrito ao seu último minuto, pois quebra a sequencia sonora com uma bateria eletrônica moderninha, muito comum no eletrônico 'batidão' das raves, prejudicando, em parte, o clima criado pela música.

A seguir, 'Icarus III' traz novamente uma branda sequencia, num arranjo de muito bom gosto, com diversidade de timbres que combinam com rara harmonia, um dos melhores momentos do álbum, mas a interrupção brusca ao fim poderia ter sido evitada. Os temas astronômicos envoltos numa aura space, tão comum ao eletrônico, retornam com 'Pale Blue', inspirada na literatura filosófica-científica de uma das maiores mentes do século XX - o mestre Carl Sagan!

'Coming Back' mostra o quanto Diniz é talentoso, não por acaso Amyr Cantúsio Jr., líder do Alpha III e seu conterrâneo em Campinas, o recrutou para as fileiras recentes do grupo, na consecução de bases e seqüências de programação, surgindo uma parceria que encantou a todos os presentes no RARF 2008. Esta é daquelas músicas para sonhar, ficar arrepiado e saudoso com os bons momentos que a vida nos proporciona. Este é o ápice de 'Analog Dream' e como referência pode-se citar a fase Schmoelling no Tangerine Dream. O fim da obra chega nas vibrações cintilantes da música título, novamente percebe-se a influência dos 'cyborgs' Ralf e Florian do Kraftwerk, mostrando que o jovem músico bebeu nas melhores fontes possíveis para criar sua concepção artística. Bela e recomendada estréia!
Progbrasil