Alexl - Triz - Progbrasil

Alexl

Brasil




Titulo: Triz
Ano de Lançamento: 2004
Genero:
Label:
Numero de catalogo: 101

Revisto por Gibran Felippe em 21/04/10 Nota: 8.5

 

Fantástico, vai rolar direto no meu som

Fantástico, vai rolar direto no meu som.

Obra de estréia do músico carioca Alexl, 'Triz' impressiona pelos arranjos rebuscados e doses generosas de tendências puramente ecléticas, flutuando pelo rock progressivo, música de câmara e MPB. O músico ficou conhecido nos anos noventa dentro do meio progressivo carioca pela sua participação no grupo Turangalîla, que teve sua breve carreira encerrada antes de um registro oficial. A sua habilidade como multinstrumentista criou o alicerce necessário para a concepção deste trabalho solo, calcado no conceito do 'Tempo'.

Alexl executa diversos instrumentos, além dos vocais principais, tais como: baixo, violão, glokenspiel, guitarras, pandeirola, triângulo, bandolim, surdo, guizos, flauta e efeitos diversos, contando ainda com contribuição de uma dezena de colaboradores no decorrer das faixas. A abertura do álbum lembra as badaladas de 'Time' do Pink Floyd, porém o andamento é mais grave e soturno na instrumental 'Todo o Tempo do Mundo', devido à melancolia imposta pelo piano de Marcos Nogueira e a clarineta de Gabriel Gagliano. O efeito musical brota como se o tempo de descanso já estivesse no fim, onde esta escassez é rompida de fato na segunda faixa com o toque do despertador para uma sequencia neurótica com 'Trancado Por Dentro'. O violino a cargo de André Santos cria uma atmosfera muito interessante com a base de baixo pesada, outro destaque é a percussão de Henrique Ludgero, encaixando adequadamente todos os efeitos e criando um clímax espetacular para o solo do guitarrista Toninho Mota. Não se pode furtar a citar que o baixo de Alexl lembra bastante a pegada de Chris Squire do Yes. Grande momento do disco!

Na sequencia, 'Limites' explora outra grande virtude de Alexl, as ótimas letras, como se pode observar no andamento: 'E cada qual com seu medo e loucura/E um modo próprio de olhar e saber que/O que limita a visão, provavelmente,/É ter o dom de enxergar/O que o Amanhã nos guarda?/O que nos mostrará?'. A flauta de Artur Andrés, integrante do grupo Uakti, cria um anticlímax instigante em meados da música. O duo vocal entre Alexl e Marco Assumpção traz ecos da excelente MPB de nomes como Beto Guedes e Flávio Venturini, referências estas que permeiam toda a obra, principalmente quando os vocais brotam com maior suavidade. 'Por Enquanto... ' é outro número totalmente instrumental, trazendo novamente o tic tac recorrente do tempo marcado no insistente relógio, sua curta duração funciona como um interlúdio para obra. Aqui a pegada da guitarra está bem roqueira e remete a Gary Green do Gentle Giant.

A polifonia vocal, característica marcante deste trabalho, toma forma completa em 'Círculos', faixa pungente e interpretada de forma exclusiva por Alexl. O instrumental é complexo, com diversas quebras de ritmo e muitas alterações de andamento, onde Alexl desfila todo seu leque de recursos, desde a linha quebrada do baixo, bem como desenvoltura no comando das guitarras, provavelmente o melhor número de 'Triz'. A letra da música no encarte remete a uma poesia concreta, em alusão aos 'círculos' que muitas vezes nos assolam, paralisando nossas ações. 'Vozes...Vozes...' soa como uma mistura bem azeitada entre Gentle Giant e MPB. Os vocais de Vani Ribeiro trazem um tom de puro acalanto, contrastando com a força instrumental das guitarras de Alexl, violinos de Daniel Andrade e violoncelo de Gabriel Sepúlveda. A abertura e encerramento em côro conta com as vozes de André Poyart, Maurício Rizzo, Débora Garcia e da própria Vani Ribeiro.

A quebradeira instrumental a la Gentle Giant tem seu maior momento, com a faixa 'Porém... Quanto? ', contando com diversos músicos: Cléber Soares - trompetes, Eduardo Guimarães - trombone, Einar - sax, Liliane Farias - xilofone, Sérgio - trombone tenor, além dos guitarristas Rômulo Mattos e Henrique Costa Lima. Uma outra referência seria os experimentalismos de Arrigo Barnabé. Os movimentos rebuscados e frenéticos não cessam com 'Nós', outro grande momento do álbum. O solo de guitarra executado por Alexl exatamente com quatro minutos e meio de música é excelente, vale a pena atentar para o mesmo, embora a profusão musical muitas vezes acaba por suplantá-lo. A combinação de vozes do Alexl com o coro formado por Guilherme Schnabl, Lôis Lancaster e Maurício Rizzo cria um efeito muito sugestivo com o título da música. Assim é 'Triz', tudo muito conectado, ligado, relacionado, onde as peças se encaixam com coerência.

A construção musical com adobe, argamassa, concreto, torna-se rocha com a instrumental 'Relatividade', contando com vozes incidentais de Penélope. A reminiscência instrumental da melodia de 'Trancado Por Dentro' surge de forma bem sutil ao término da faixa. A sequencia final com 'Passatempo', 'A Prece' e 'Enfim' combina com harmonia todos os elementos presentes no decorrer do álbum; poesia, mescla de Gentle Giant com MPB, toques experimentais e complexidade dos arranjos. Vale atentar para os últimos segundos do álbum e a sincronia obsessiva com o tempo, que tanto controle exerce em nossas vidas, restringido nossa liberdade e capacidade criativa. Outra sacada genial do músico!

Alexl concebeu um ótimo disco, passando pelo crivo da estréia num segmento de vanguarda tão exigente e restrito. Porém, lá se vão praticamente seis anos, ficando a questão se 'Triz' fará parte do grupo cada vez maior de obras únicas na discografia de um artista...
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