Klaus Schulze - Timewind - Progbrasil

Klaus Schulze

Alemanha




Titulo: Timewind
Ano de Lançamento: 1975
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Gustavo Jobim em 30/05/11 Nota: 10.0

 

Discoteca básica, fundamental

Parte 1: Contexto histórico

A primeira década da produção de Klaus Schulze é uma constante evolução de seu estilo e ao mesmo tempo um retrato da evolução dos instrumentos musicais eletrônicos. Além disso, é a fundação do estilo que viria a ser conhecido como a Escola de Berlim de música eletrônica. O mesmo vale para o Tangerine Dream, grupo do qual, em sua fase embrionária, Klaus fez parte como baterista. Porém enquanto o Tangerine Dream, sendo grupo, passou por várias fases distintas de estilo, Klaus Schulze prosseguiu em sua rota solitária, sendo o principal arquiteto da Escola de Berlim que incontáveis artistas ainda hoje seguem.

O quinto álbum, Timewind, é um dos pilares deste estilo, junto com Phaedra (1974) e Rubycon (1975), do Tangerine Dream. Para Schulze, representa mais um salto qualitativo em matéria de timbres, harmonia, e organização dos diferentes elementos sonoros, no discurso mais coerente e completo desde a estreia em Irrlicht (1972). A estrutura, no entanto, ainda é a mesma dos álbuns anteriores: pulsações rítmicas, camadas de sintetizadores traçando uma paisagem harmônica, e efeitos sonoros. Aqui esta estrutura encontra os timbres e a cuidadosa organização que a consagram, cristalizando definitivamente o estilo a que Schulze vai se manter fiel para o resto da carreira, com raras variações.

O disco é dedicado ao compositor preferido de Schulze, Richard Wagner, o que se reflete nos títulos "Bayreuth Return" e "Wahnfried 1883". Wagner passou seus últimos anos num palacete na cidade de Bayreuth. Wagner batizou este palacete de "Wahnfried", neologismo alemão que significa, numa tradução simplificada, "livre da loucura". Wagner faleceu em 1883 e foi enterrado nos quintais de Wahnfried, junto com sua esposa. Um anfiteatro compõe a propriedade, e foi criado por Wagner para abrigar um festival independente dedicado à própria música. Este festival acontece anualmente até hoje, e é administrado pelos descendentes de Wagner. A fila de espera é tão grande que só se consegue ingressos para daqui a 5 a 10 anos.

Parte 2: A música

"Bayreuth Return" não perde tempo: depois de uma curtíssima introdução atmosférica, surge a pulsação do sequencer que embala os 30 minutos desta obra. É uma pulsação em andamento rápido mas o desenvolvimento é lento. Como mencionado anteriormente, não há muitas novidades aqui em matéria de conteúdo musical, mas a atmosfera é leve e onírica, pois Schulze naquele ponto ainda não tinha um instrumento que produzisse timbres mais graves. A sequência e as harmonias vão e vêm como marés ou ventos. O título "Timewind" - "tempo-vento" - parece descrever bem este tipo de música, cuja apreciação completa depende da disponibilidade do ouvinte a ouvir atentamente durante toda sua duração. O som de sequencer passa por algumas mudanças sutis até a terça parte final da obra, onde a pulsação torna-se mais marcada nos tempos do compasso. É mesma manobra usada em Picture Music (1973). A música continua pulsando até terminar numa súbita explosão de ruído.

A estrutura de "Bayreuth Return" e da maioria das composições de Schulze até Timewind refletem no fato do compositor, até aquele momento, não dispor de estúdio com gravador em várias pistas. Quase tudo que ele faz até Timewind é criado ao vivo: timbres, mixagem, etc, gravado diretamente nos 2 canais do stereo, em estúdio caseiro improvisado. A composição acontece conforme a fita vai gravando. O que mostra do que é capaz um compositor com visão e criatividade. "Bayreuth Return" levou duas horas para ser criada, em 3 tentativas.

"Wahnfried 1883", outro monolito de 30 minutos, consome o lado B inteiro no álbum original. O sequencer é deixado de lado para uma vasta exploração de harmonias e efeitos sonoros, numa atualização de "Exil Sils Maria" de Irrlicht (1972). Mas desta vez Schulze já desenvolveu habilidades e técnicas, além de possuir mais instrumentos, e é capaz de produzir uma paisagem sonora rica e poética, mais interessante ainda que "Bayreuth Return".

Parte 3: Conclusão

A qualidade de Timewind rendeu a Schulze premiação na França, e consequentemente o primeiro ganho financeiro real com sua música. Até então ele vivia de biscates como trabalhar como carteiro. Realidade semelhante a que vivia outros colegas: Edgar Froese (Tangerine Dream), por exemplo, pintava ônibus. Esta premiação e o fato de agora estar em um selo internacional - Virgin, o mesmo de Mike Oldfield e Tangerine Dream - contribuíram para que Timewind se tornasse o álbum mais famoso de Schulze.

A reedição de 2006 do selo InsideOut/Revisited Records traz como sempre histórias contadas por Schulze e seu editor, retratando as circunstâncias que cercavam a produção de seus álbuns. Fotos e artes gráficas também são inclusas. Vale notar que todas as artes originais dos vinis (salvo engano) são reproduzidas nestas edições. Como bônus, Timewind é acompanhado de um CD inteiro extra, com mais quase uma hora de música. Duas delas são as outras tentativas de "Bayreuth Return", até aqui inéditas, e uma terceira, de 5 minutos, foi gravada em 2000 como homenagem a este álbum.

Histórias à parte, Timewind permanece até hoje uma lição e um exemplo fundamental de seu gênero. É o primeiro da série dourada de clássicos que Schulze desfilaria na segunda metade dos anos 1970. Mas o álbum seguinte é ainda melhor.
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