Bom, mas com ressalvas
Blackdance foi originalmente o terceiro álbum de Schulze, após Cyborg. Representa mais um capítulo na definição do estilo do músico. Depois de experimentar novamente com a bateria em Picture Music (que ficou engavetado por dois anos), Schulze aqui utiliza uma marcada percussão eletrônica semelhante à usada por Cluster em Zuckerzeit (1974) e Can em Ege Bamyasi (1972).
"Ways of Changes" abre o disco com sons de violão, um elemento até agora inédito em um álbum de Schulze. Após alguns minutos introdutórios com o violão, surge a percussão eletrônica, formando a base rítmica para o restante da faixa. Desta vez os elementos restantes melódicos e harmônicos são mais retraídos, com a percussão dominando a música. A capa surrealista do disco, mostrando uma extensa paisagem barrenta e desolada, parece casar particularmente bem com a música. Há um interlúdio sem esta percussão, o que dá um fôlego ao ouvinte, evitando que a coisa se torne muito monótona. Este interlúdio é mais um novo recurso composicional para Schulze, auxiliando a estender mais ainda suas peças. O arranjo com a percussão retorna sem alterações, até o final.
No lugar de apenas uma faixa por lado, desta vez Schulze apresenta uma leve passagem harmônica, é a faixa "Some Velvet Phasing". Esta peça pouco traz de inovação, mas funciona como um novo interlúdio entre a primeira faixa e o lado B do álbum, dominado por "Voices of Syn".
A faixa que encerra Blackdance tem na introdução a voz de um cantor de ópera, outra novidade. Este cantor estava ensaiando no mesmo estúdio em que Schulze havia gravado o álbum Electronic Meditation, com Tangerine Dream, ainda em 1969. O cantor, Walter Siemon, gravou algumas passagens de Verdi e outros compositoresa, e Schulze utilizou esta gravação aqui.
Após esta introdução, "Voices of Syn" retorna à fórmula: uma linha percussiva de sequencer, com o diferencial de usar um timbre bastante surreal e distorcido, soando como uma voz grave pronunciando o som "vvv, vvv, vvv...". Sobre esta percussão ouvimos principalmente efeitos sonoros, um piano muito abafado e outros sons harmônicos. É uma atmosfera soturna, que novamente remete à arte surrealista que decora capa e contracapa do álbum. Aqui Schulze recorre novamente ao interlúdio com a percussão minimizada da primeira faixa.
Blackdance é um álbum interessante pelos elementos novos que Schulze traz para seu estilo, porém tem uma sonoridade mais monótona, menos elegante que Picture Music, lembrando o som barrento e opressivo de Cyborg. Mas Blackdance, com seus interlúdios, duração menor, e sem as vastas explorações monótonas de orquestra das duas faixas centrais de Cyborg, torna-se mais acessível que seu antecessor.
A reedição pelo selo InsideOut segue os mesmos padrões dos outros álbuns. Temos aqui 26 minutos extras em duas faixas bônu, gravadas em 1976, já numa outra fase do compositor. São duas belas amostras dessa época. "Foreplay" é uma exibição de corais de Mellotron em meio a trovões eletrônicos. "Synthies have (no) balls?" é um exemplo da rica combinação de bateria e eletrônica que Schulze fazia na época. Solos movimentados, baixo de sintetizador zumbindo em pulsos, efeitos sonoros, corais de Mellotron, tem de tudo. Apesar de serem de época diferente, são uma boa adição a Blackdance, e a reedição é recomendada mesmo àqueles que já possuem um exemplar de edições antigas do álbum. A nota abaixo, como sempre, desconsidera as faixas bônus. |
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