Black Sabbath - The Black Sabbath Story - Vol I (1971/1978) - Progbrasil

Black Sabbath

Inglaterra




Titulo: The Black Sabbath Story - Vol I (1971/1978)
Ano de Lançamento: 2003
Genero:
Label:
Numero de catalogo: 1017

Revisto por Gibran Felippe em 05/10/08 Nota: 9.5

 

Obra-prima, irretocável

Obra-prima, irretocável.

Pra começar, se faz necessário afirmar que ouvir Black Sabbath é o mesmo que assistir à principal aula numa turma de PHDs em termos de rock, pois o grupo conseguiu a proeza de criar uma concepção própria, pesada, autoral e com todos os ingredientes que imortalizaram o hard no fim da década de setenta. Se por um lado os rifes de guitarras lembravam a verve de Hendrix, por outro os solos eram mais nervosos, menos viscerais e mais rápidos, algo que se distanciaria do blues e detonaria a onda do heavy metal anos depois, tendo como figuras principais o Iron Maiden e ACDC. Claro que muito disso se deve aos vocais inconfundíveis de Ozzy Osbourne, poucos grupos possuíam uma referência tão forte como a voz hiper característica de Ozzy, aguda ao extremo, misteriosa e um tanto quanto aterradora, para delírio dos roqueiros mais exaltados.

Esse material, tema da resenha, é aquele típico dvd de banca de jornal que ninguém espera muito, porém até que o mesmo acaba por surpreender, trazendo de forma cronológica e delineada grandes momentos de um período marcante do grupo, desde o seu primeiro álbum homônimo em 1970 até 'Never Say Die', último com a presença do lendário Ozzy Osbourne. A formação em todas as dez músicas é a clássica: Tony Iommi - guitarras, Bill Ward - bateria, Geezer Butler - baixo e Ozzy Osbourne - vocais. Interessante citar que o nome do grupo somente tomou forma após as apresentações ao vivo em 69, pois o nome original Polka Tulk em nada se conectava com a atmosfera macabra, delirante e psicótica que a banda apresentava no palco, incendiando milhares de jovens por toda Europa. Em pouco tempo mudaram o nome para uma referência mais forte e óbvia - Black Sabbath, simplesmente o título de um filme do demoníaco Boris Karloff.

O dvd inicia com uma bela abertura, trazendo imagens antigas dos membros da banda, aliás esse é o grande atrativo desse dvd, imagens de shows raros e incríveis, acompanhados por comentários hiper interessantes dos próprios músicos, perpassando por toda a criação e história dessa lenda chamada Black Sabbath, importante ressaltar que os comentários não atravessam as músicas, fato extremamente positivo, pois é realmente sacal assistir a determinados dvds que no momento de êxtase musical, cortam para comentários, isso é péssimo e ainda bem que não ocorre nesse dvd, mostrando que é possível produzir uma obra documental sem suprimir a música.

O primeiro número é a bombástica 'N.I.B.', numa execução em Paris no ano de 1970, interessante notar que durante os comentários dos integrantes eles se apresentavam nas casas noturnas como grupos de blues e soul, quando começavam a tocar espantavam o dono do estabelecimento que logo dizia, isso não é blues, não é triste. Passa pela minha cabeça que nem os integrantes sabiam exatamente o que estavam executando. Ao ouvir 'N.I.B', ainda atualizada e com força, não restam dúvidas: hard rock de primeira grandeza, com pouca referência no blues, atenção para o solo de Iommi, pois ao contrário de pares como Page e Blackmore, o seu direcionamento era bem distinto, não era nota a nota, não tinha pausas, era frenético e em movimento único, fato que diferenciava o Black Sabbath das bandas congêneres, além da performance vocal única a cargo de Ozzy. A seguir temos 'Paranoid' também em setenta, na Bélgica, imagem em preto e branco e se há no Black Sabbath música que case melhor com a voz e interpretação de Ozzy, essa é 'Paranoid' com sua linha de baixo matadora, riff alucinante de guitarra e letra definitivamente paranóica, um clássico eterno!

A seguir voltamos para Paris com 'War Pigs' numa exibição de tirar o fôlego, tendo à frente um Ozzy ensandecido em mais um tema satânico, a batera de Ward está um aço, quebradeira geral. Difícil é ficar parado e não balançar as madeixas (para aqueles que as possuem) diante de tanta vibração. Depois a banda ruma para os EUA, onde aporta em 1974 numa apresentação ao ar livre com 'Children Of The Grave', principal hit do cultuado 'Master Of Reality'. O público simplesmente enlouquece com o gestual do já gordinho Ozzy Osbourne e sua calça de cretone apertada, algo amplamente imitado ao longo dos anos, Axel Rose que o diga. Durante a entrevista que antecedeu o grandioso evento, Ozzy esclarece que o grupo não iria destruir o palco, os americanos podiam ficar tranquilos que o Black Sabbath iria apenas tocar suas músicas e assim foi...

Nessa etapa o dvd salta para uma apresentação de 1978 em Londres, para apresentar 'Snowblind', detalhe para o figurino de Ozzy que reproduz a capa do 'Vol 4', para em seguida retornar aos idos de 1973 com o clipe clássico do musicaço 'Sabbath Bloody Sabbath'. E pensar que esse álbum iniciaria uma severa discórdia entre Iommi e Ozzy, já que o guitarista se envolveu com toda a produção do disco, acrescentando novos elementos à musicalidade do grupo e convidando o célebre tecladista do Yes - Rick Wakeman na condução dos teclados, fato novo na concepção sonora do grupo, sem falar que algumas músicas flertavam com um quê do universo mais pop e também progressivo. Esses aspectos começaram a desagradar Ozzy que desejava manter a mesma pegada original do grupo, sem qualquer tipo de revitalização. O atrito culminou com a saída do genial vocalista em 1979.

'Sympton Of The Universe' é um dos hits mais pesados do grupo e a versão desse dvd não deixa pedra sobre pedra, numa performance estupenda de Osbourne, tocando fogo geral na platéia. Para muitos admiradores do Black Sabbath a fase grandiosa termina justamente no disco 'Sabotage' já que os dois posteriores são bem mais leves e acabam por diferenciar bastante com relação ao rumo pesado que a banda estava tomando. 'Technical Ecstasy' e 'Never Say Die' são discos agradáveis, porém a pegada de antigamente já não existia mais, nesses dois o grupo flertou com o soft hard e serviu também como fonte de inspiração para milhares de farofeiros que surgiram depois, a diferença é que o Black Sabbath mesmo criando uma sonoridade mais leve, jamais caiu na pasmaceira de alguns grupos de hard ou até mesmo de heavy melódico. A diferença clara é que o Sabbath tinha uma categoria toda especial, tinha classe e criatividade e não usava fórmulas pré-concebidas para agradar gravadoras e tornar sua música comercial, mesmo as baladas do 'Technical Ecstasy' como 'It s Alright' possuem um algo a mais e a versão desse dvd é surpreendente, com Bill Ward comandando os vocais e com certa competência, conta ainda com um solo muito belo do Iommi, o único defeito é que cortam a música antes do fim, numa das mínimas falhas desse dvd. A seguir, nessa mesma rara apresentação filmada em 1976 Ozzy entra em cena para a execução de outra composição mais leve do grupo, mas não menos interessante - 'Rock N Roll Doctor'. Durante os comentários dos integrantes após essa execução, é difícil não se tocar com a admiração, carinho e respeito mútuo que Iommi e Butler nutrem um pelo outro. Butler chega a afirmar ser algo muito mais que afinidade, tratando-se de uma coisa no plano espiritual, impressiona também a semelhança física entre ambos.

A sequência final mostra 'Never Say Die', hit do álbum de mesmo nome e derradeiro da fase Ozzy, numa apresentação no programa Top Of The Pops da BBC em 1978... e pensar que no passado programas como esse eram abundantes nas redes de TV mundo afora, inclusive no Brasil. Após a música surgem comentários bem humorados de Iommi dizendo que morreram de medo ao dormirem uma noite num castelo mal assombrado no País de Gales, para uma banda satânica esse fato soa como inverossímil, ele complementa.

A missão desse dvd se encerra, abordando um período mágico do rock, através da leitura de álbuns clássicos de um dos maiores expoentes de todos os tempos, os monstros eternos do hard!
Progbrasil