Vários - Kalevala - A Finnish Progressive Rock Epic (Definitive Edition Remastered) - Progbrasil

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Titulo: Kalevala - A Finnish Progressive Rock Epic (Definitive Edition Remastered)
Ano de Lançamento: 2008
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Marcello Rothery em 26/12/08 Nota: 9.0

 

Extremamente bom, um clássico ro rock progressivo

Nestes tempos difíceis que a indústria musical enfrenta, mais especialmente ainda o mundo progressivo (quase sempre marginalizado pela crítica), o lançamento de obra como esta é quase um milagre. Kalevala é um ambicioso projeto de 2003 encabeçado pela gravadora finlandesa Colossus (em parceria com a francesa Musea, responsável pela distribuição), magnificamente comandado pelo produtor Marco Bernard, no qual 30 bandas e artistas de diversos países criaram músicas baseadas na saga que dá nome ao projeto. O resultado foi um cd triplo (10 músicas em cada um), com um belo e riquíssimo encarte, repleto de gravuras inspiradas na saga, ficha técnica completa, fotos de cada banda ou artista, letra em inglês de todas as músicas, e a descrição dos poemas em que cada uma se baseou. Literalmente falando, ao se folhear o encarte, a sensação é semelhante à de se estar folheando um livro.

Em 2008, o pacote foi relançado, com nova capa, nova arte interna, e uma faixa adicional no cd 3 (com isso, passou a conter 31 bandas/artistas). Além disso, todas as faixas passaram por nova mixagem. É deste relançamento que falamos aqui.

Kalevala, a saga, é a mais famosa obra literária da história da Finlândia, e apesar de desconhecida no Brasil, é admirada em todo o mundo. Criada na primeira metade do século 19 pelo pesquisador e poeta Elias Lönnrot, a partir de poemas antigos que ele reuniu em viagens de pesquisas pelo país. A saga de Kalevala, entre outras coisas, serviu de inspiração para Tolkien criar a saga do Senhor dos Anéis.

Algumas normas definidas pela Colossus ao contactar os artistas :

1) os temas deveriam ser baseados na saga, sendo que cada artista teria liberdade para escolher um ou mais poemas dela como fonte de inspiração.

2) os temas poderiam ser instrumentais; mas se forem cantados, a recomendação é que fossem criados na língua pátria do artista.

3) recomendavam o uso de instrumentos antigos, clássicos, medievais, ou característicos do progressivo dos anos 70.

Nem todos seguiram à risca as 2 últimas normas da gravadora, pois alguns tiveram dificuldades em ter acesso a instrumentos como mellotron e órgão hammond, e outros preferiram criar suas músicas em inglês, mesmo não sendo esta sua língua pátria. O time que a Colossus recrutou foi extremamente variado. Nomes como Museo Rosenbach, Magenta, Leviathan, Haikara, Malibran e Simon Says dão uma noção da variedade que há de estilos no projeto. Mas em comum, todos tiveram duas características : a dedicação e o capricho na criação de suas obras. As bandas realmente "mandaram brasa" e criaram vários números memoráveis, inesquecíveis.

O álbum abre com a banda finlandesa Haikara, com o épico The Creation/The Sowing (que descreve a criação do mundo, tema inicial da saga). Composta e comandada pelo seu falecido líder Vesa Lattunen (nas guitarras e teclados), o tema começa com um discreto piano elétrico, e se desenvolve numa base sinfônica comandada por violoncelos, baixo e bateria, com os teclados e guitarras de Vesa (junto com o violoncelo) criando uma atmosfera meio tensa, meio contemplativa. A canção, quase totalmente instrumental, tem na parte final (que retrata o surgimento da vida) um suave vocal feminino em estilo folk, combinando de forma interessante com o tema.

A seguir, outra banda local : Overhead, com Wainamoinen and Youkahainen/The Fate of Aino. A banda, em parceria com o convidado Karo Vartiainen, cria uma canção no típico caminho das bandas progressivas sinfônicas atuais, com energia no arranjo (passagens aceleradas de guitarra e sintetizador, e um bom vocal), e um leve apelo pop na melodia. Uma bela melodia, que me lembra um pouco bandas como Transatlantic. Até que, há a virada para o trecho The Fate of Aino, onde a música muda totalmente de direção, para uma levada lenta, comandada pelo vocal e o violino de Vartiainen, bem mais voltado para o folk.

A seguir, os suecos do Simon Says, com Som Floder Flyter, a versão original em sueco da música que sairia mais tarde, com o nome de As the River Runs no seu álbum Tardigrade (além dos vocais em sueco, a música aqui não tem a sua parte inicial de cerca de 4 minutos). Na linha da canção do Overhead, com destaque para a forte melodia, principalmente no refrão, e para os belos trabalhos de teclados e guitarra.

O álbum segue com os suecos do Sinkadus, com a excelente Trubadurens Kval. A banda dá um show de exuberância instrumental, com viradas e quebras de ritmo de bateria, passagens características de hammond, várias camadas de mellotron, e um excelente trabalho de guitarra (que vão desde solos virtuosos até bases e solos melódicos). Ainda há espaço para um trecho cantado em sueco. Tudo isso em menos de 6 minutos! Realmente impressionante, essa faixa é, para mim, um dos pontos altos do álbum.

A próxima faixa trás os italianos do Moongarden, com Maiden of the Bow, em mais um típico progressivo sinfônico. Começa num andamento lento, com violões e uma cama mais simples de teclados, além de um rápido solo de moog. Este trecho é cantado de forma também discreta. Até que, por volta dos 4 minutos, a melodia cresce, com um verso mais tenso, a entrada de um trecho instrumental mais ousado, e o clímax que vem depois, com uma melodia forte comandada por camas de mellotron, e um vocal mais dramático. A música se encerra com um belo solo de guitarra em cima deste tema.

A seguir, mais um italiano : Il Castelo di Atlante, com Ilmarinen Forges the Sampo (que, apesar do título em inglês, é toda cantada em italiano). Não conheço a banda, mas nessa canção aqui, o estilo é predominantemente folk, com destaque para o violino, e uma atmosfera inegavelmente italiana, não só pelo idioma, como principalmente pelo estilo vocal, a procedência é impossível de não se perceber. Assim como quase tudo neste álbum, a música é um capricho só, com um excelente arranjo que, embora pareça ter sido feito diretamente para o violino, mostra destaque também na guitarra, além dos já mencionados vocais.

O prog sinfônico retorna com os ingleses do Magenta, com a bela Lemminkainen's Lament. Do pouco que conheço desta banda, nunca ouvi música melhor do que esta, com lindos solos de guitarra e bases de mellotron, além de boas passagens de moog e hammond (tudo isso a cargo de Rob Reed, que compôs a melodia - o produtor do projeto, Marco Bernard, foi quem fez a letra), além do belo vocal de Christina.

A coisa fica mais acelerada e ousada com o power trio italiano Submarine Silence (guitarra, bateria, e um ótimo tecladista que faz o baixo num pedal Taurus), na excelente peça instrumental The Three Battles. Muito bons instrumentistas, os caras mandam brasa numa bela peça que tem uma introdução lenta, toda levada em sons de mellotron, para entrar no tema principal, com bateria, polymoog e base de guitarra hard, de onde se desenvolvem belos solos de moog, e guitarras choradas com mellotron ao fundo. Ainda há uma passagem mais tensa (com ruídos de guerreiros em batalha), antes da retomada do tema principal. Música para ser ouvida bem alto.

Chega a vez dos americanos do Metaphor, com Raking the Bones. Com uma excelente introdução (com teclados "espaciais" e um vocal forte, num clima épico), a melodia se altera depois para um tema mais convencional. Até que, por volta dos 4 minutos, muda tudo, com um interlúdio de "quebradeiras" de teclados e guitarra. A partir daí, a melodia segue num ritmo quebrado por alguns versos até nova mudança, para um tema mais folk e lento, que encerra essa autêntica "salada musical" que é Raking the Bones.

O cd 1 encerra com o Clearlight, projeto americano liderado pelo francês Cyrelle Verdaux. Eles apresentam a suave suíte The Boat Builder/Searching for the Lost Word, toda levada em um andamento sinfônico e lento, com atmosfera tranquila, beirando a new age, onde se sobresseam os teclados de Verdaux e o vocal do baterista Shaun Guerin.


O cd 2 abre com os noruegueses do Orchard, com a belíssima canção sinfônica instrumental "3". Teclados clássicos, guitarra pesada, bela cozinha baixo/bateria, e duas flautas na linha de frente, nos trazem um tema muito coeso, com força roqueira de um lado e apelo melódico do outro, tudo na medida certa. Uma das melhores faixas do álbum. Aliás, este segundo cd é, para mim, o melhor do pacote.

E segue impecável com os italianos do Greenwall e a longa suíte The Wedding, a mais longa peça de todas, com mais de 14 minutos mergulhados no folk e no erudito. Dividida em 8 partes, o grupo utilizou 6 poemas da saga de Kalevala em seu processo de criação.

Talvez esta seja, de todas, a música com mais atmosfera teatral do álbum. Tem uma abertura simples ao piano, para depois entrar em sua melodia central, toda conduzida pela orquestra de cordas que acompanha o grupo, e pelo vocal de Silvia Ceccarelli. O restante da banda entra no final desta parte. O trecho seguinte, por sua vez, é levado em piano e voz, com a orquestra ao fundo em alguns momentos. Depois, entra um solo de sax, que introduz a 4a parte da suíte, onde a banda inteira retorna, acompanhando o tema (um pouco mais acelerado); este trecho se encerra com a orquestra voltando ao fundo, e os demais membros da banda fazendo coral com Silvia. Um interlúdio calmo se segue, com apenas orquestra e piano se revezando no acompanhamento à cantora. Entra então um trecho muito bonito da suíte, conduzido por uma melodia ao violão, com a orquestra ao fundo, e o vocal sempre à frente; a banda entra novamente, dando força ao tema, e preparando terreno para o trecho final, que irrompe com a mais bela melodia da suíte, onde banda e orquestra, juntos, conduzem um final apoteótico, que certamente irá levar muitos fãs de música progressiva ao delírio.

Sem sair da Itália, temos agora o Revelation, com Uninvited Guest. Mais um longo tema, de 10 minutos de duração, só que desta vez voltados para o prog sinfônico. Alternando momentos calmos com trechos tensos (simbolizando a história que conta, sobre um visitante não convidado ao casamento), a primeira parte nos leva a um trecho que reproduz a melodia principal da canção anterior. Passagens narradas se revezam com trechos mais melódicos, com passagens de flauta, guitarra e moog, e o mellotron fazendo a cama ao fundo. A desejar apenas o final repentino da música, em fade-out, quando a melodia passa a impressão de que ainda teria alterações. Fica a incômoda impressão de que a música saiu cortada no cd.

O cd prossegue com os finlandeses do Scarlet Theard, com a boa instrumental Pimeästa Pohjolasta, uma canção que mistura folk e rock, o que fica evidente nas passagens de violino, flauta e bandolim de um lado, e de guitarra com pegada roqueira de outro.

Voltamos à Itália com o Mad Crayon, em Il Suono Dei Ricordi. Mais uma bela canção sinfônica, onde os músicos criam muitas passagens interessantes, dando mais complexidade ao tema original que é relativamente simples. Ainda há de se destacar duas belas passagens de flauta, a cargo de um músico convidado. Gostei do que a banda mostrou nessa música : um prog sinfônico diferente, com dois tecladistas e os dois guitarristas (um deles também baixista), e nada mais! Sem bateria, inclusive; seu lugar é ocupado por algumas percussões tocadas pelos tecladistas e por um dos guitarristas.

A próxima música, Fiore Di Vendetta, é assinada pelo, provavelmente, mais consagrado de todos os participantes do projeto : o lendário Museo Rosenbach, que, para quem não sabe, voltou à ativa há alguns anos, com o baterista e o baixista/tecladista (e, importante lembrar, compositor de todas as melodias do álbum Zarathustra) originais, e novos músicos completando o grupo. Que aqui aparece em grande forma, com uma bela canção sinfônica, com muita força e um arranjo gradioso, graças às duas guitarras e aos 2 teclados presentes. Alberto Moreno, que nos anos 70 era baixista e eventual tecladista do grupo, aqui aparece na guitarra e no mellotron. Gostei, também, do novo vocalista. A se lamentar, apenas, a duração da música, que, por sua estrutura rica, poderia ter mais do que os seus 6:42 minutos.

Todavia, essa bela canção do Museo chega a ser ofuscada pelo arrasa-quarteirão que vem a seguir : Filo Di Lama, do também italiano Leviathan, é uma maravilha sinfônica de mais de 10 minutos de duração. Que começa com uma bela melodia conduzida por um forte som de mellotron, com moog fazendo solos entre os versos cantados. A seguir, uma virada de melodia para outro belo tema, mais quebrado, conduzido no hammond, com intervenções de piano e sintetizador. No 4o minuto, a melodia muda novamente, para um tema lento e emocionante (e lindo, mais uma vez), comandado por uma flauta (e, novamente, com mellotron ao fundo).

É a hora do trecho mais acelerado da música, todo instrumental, onde o tecladista/flautista se solta de vez, com direito a um fantástico solo de moog por volta dos 7 minutos, que se repete logo depois, e faz a ponte para a parte final da música, novamente mais lenta. E esta parte final é uma apoteose, com uma forte cama de sintetizadores, e o vocal com delay, dando o clima dramático e emocionante que terminam de transformar esta canção em um clássico. Para mim, esta é a melhor música de todo o álbum. E o destaque, definitivamente, é o tecladista/flautista Andrea Amici, que literalmente "arregaçou as mangas", compondo sozinho a melodia (a letra é do vocalista), e sendo responsável por todos os climas e solos da canção.

É a vez do Malibran, com Strani Colori. A banda, que já teve tecladista e flautista próprios, aqui tem esses instrumentos executados pelo vocalista/guitarrista Giuseppe Scaravilli. No estilo típico do grupo, a canção é calcada no prog sinfônico, com belas passagens de flauta, bons solos de guitarra, e o vocal apenas razoável de Giuseppe, que porém não compromete. Mais uma bela canção.

O cd segue sem sair da Itália. É a vez de Sofia Baccini, com a estranha Malvagio Per le Stelle. Sofia, além de cantar e tocar todos os teclados e o baixo, ainda escreveu a canção sozinha. A única participação adicional é a de Corrado Villa na guitarra. A canção é fortemente voltada para o erudito, mais especificamente para o estilo operístico. O vocal de Sofia é puro canto lírico de ópera, e seus teclados e corais (feitos com várias gravações sobrepostas de sua voz), além de alguns sussuros, completam a atmosfera sombria.

Este 2o cd fecha com outra obra-prima sinfônica : a instrumental Ilmarienen's Bride of Gold, com a banda inglesa Elegant Simplicity. Não conheço nada do grupo além desta canção, porém o que fizeram aqui foi absolutamente brilhante. Uma delicada e melódica base de teclados (mellotron à frente), com uma (e às vezes, duas) guitarra fazendo um lindo solo "chorado". Intercalando com isto, algumas passagens com moog e outros sintetizadores à frente. Na metade da música, há uma passagem mais virtuosa da guitarra, e depois outra de sintetizador, ambas brilhantes, sem pecar pelo exagero. A canção tem apenas 5 minutos de duração, e acaba com gosto de "quero mais". Outro dos melhores momentos do álbum. Detalhe : todos os instrumentos, com exceção da bateria, são executados por um único músico : a fera se chama Steven McCabe.


No 3o cd, infelizmente, o nível (até então, irretocável) cai. A começar pela abertura com Ilmarien's Fruitless Wooing, dos ingleses do Qadesh. Em comum com a belíssima faixa que encerra o cd anterior, apenas o fato de um dos músicos executar todos os instrumentos com exceção da bateria (e ainda cantar). O estilo aqui é uma mistura estranha de canto lírico, trash metal, e experimentações aqui e ali, com quebras de ritmo durante praticamente todos os 11 minutos da música. A letra é a mais longa do álbum, e é cantada do início ao fim da música, sem um interlúdio instrumental sequer. Pessoalmente, não me agradou.

A banda italiana Cantina Sociale vem a seguir, com Kantele, uma obra sinfônica razoável, na qual o destaque vai para um belo e agradável solo de teclado no final, que gruda no ouvido. Experimente ouvir. Com certeza, daqui a algum tempo, será a primeira coisa que você lembrará da canção.

A banda sueca Grand Stand, vem a seguir com Stormen, que inicia com uma melodia entre o sinfônico e o pop. Após 3 minutos, há um interlúdio instrumental, com um bom solo de guitarra sob uma cama de mellotron. A banda inteira volta (com exceção do vocal), com um belo solo de teclado, e depois, outro belo solo de guitarra chorada, que encerram muito bem a canção.

A seguir, os italianos do Germinale, com a peça mais fraca do disco : La Battaglia Per il Sampo. Uma base instrumental comum (com uma guitarra solando discretamente ao fundo) faz a cama para os vocais que, no entanto, são declamados, ao invés de cantados. E são declamados por dois dos membros do grupo, com um fazendo uma espécie de eco do primeiro. Não entendi a proposta. Para mim, foi um tiro n'água.

A banda finlandesa Aadvark, com Uusi Kantele, melhora um pouco as coisas. Um bom trabalho de guitarra, uma boa base de teclados, além de um baterista inspirado, são os destaques nesta razoável canção sinfônica.

Os suíços do Thonk vêm a seguir, com a instrumental Kapittu 45/46. Toda concentrada em teclados, porém sem muitos atrativos, é outra faixa que passa batido.

Os finlandeses do Groovector, a seguir, melhoram um pouco as coisas com outra instrumental : Tuletta. De andamento lento, com belas passagens de piano, e um belo solo de guitarra no final.

A seguir, outra banda local, com outra faixa instrumental : Whobodies, com a faixa Pine, que mescla passagens lentas e esparsas de piano com trechos acelerados com solos de sax e trombone, encerrando com um trecho mais jazzístico, com passagens de guitarra e dos metais, que termina numa jam session. Uma das únicas peças jazzísticas do álbum.

É a banda italiana Randone & Tempore, porém, que irá dar novo brilho instrumental à obra. Sua peça, Runo 49, inicia com excelente duelo de guitarra e teclados, contendo depois um lindo duo de guitarras, e um excelente solo de moog, sob uma base muito bonita com mellotron e bateria "quebrada" ao fundo. Ainda há passagens com violão, solos excelentes de guitarra e teclados no meio da canção. Porém, um item adicional deixa a desejar : os vocais, fracos e mal colocados, que tiram o brilho e a dinâmica da canção, tão harmônica e coesa na sua parte instrumental. Apenas no final o vocal se encaixa bem, deixando as coisas no seu devido lugar.

À única banda francesa presente no projeto coube a tarefa de encerrar o álbum. E o Cafeine o fez com brilhantismo, criando a sinfônica Way is Open, de longe a melhor faixa do último cd. Com quase 12 minutos, é dividida em 4 partes. A primeira, instrumental, é marcada por um excelente solo de guitarra, em uma melodia muito bonita, sob um andamento lento. A segunda parte começa com vocal, sob uma levada mais quebrada. Depois, entram todos os instrumentos, numa espécie de mistura com a levada da introdução. Entra junto um segundo vocal, mais agudo, em interessante contraponto com o primeiro. A 3a parte também é instrumental, e permite o vôo do tecladista e do guitarrista, que são os diferenciais da canção. Na parte final, porém, a banda não fez feio : com um piano introduzindo-a, preparou terreno para o retorno dos dois vocais, sob base de teclados num clima épico, encerrarem de forma brilhante a canção (e a versão original desta caixa).

No relançamento de 2008, uma faixa adicional foi acrescentada no final deste cd. A banda finlandesa Viima entrou com a curta Kaukomielen Kaipaus, de apenas 3 minutos. Ela inicia com o tema principal da faixa de abertura do álbum,do Haikara (no que parece ser uma homenagem ao falecido líder desta banda), e segue com uma bonita parte lenta com teclados e um forte vocal (até semelhante aos italianos dos anos 70), para depois mudar para um belíssimo tema folk, com um solo de sax do vocalista. A canção se encerra com mais um verso cantado sob a mesma lenta melodia anterior.


Conclusão : a despeito de não ser perfeita do começo ao fim (sobretudo no 3o cd, muito fraco se comparado aos outros dois, porém bom se julgado em separado), a caixa Kalevala - A Finnish Progressive Rock Epic é um fantástico item, que deveria repousar na estante de todo amante de música progressiva. Por seu ecletismo, por seu brilhante conteúdo gráfico de capa e encarte, pela impecável qualidade de áudio de todo o álbum, e pelos vários brilhantes temas contidos ao longo de suas quase 4 horas de duração. Um dos mais importantes itens do progressivo mundial dos últimos 10 anos, sem dúvida alguma. Um item que não vale por si só, mas que também tem a importância de apresentar trabalho original e recente dos seus 30 (31 na reedição de 2008) participantes, em pleno século XXI, onde muita gente acha que o rock progressivo não produz mais nada de novo. Esta caixa mostra como quem pensa assim está longe da verdade. E como continua havendo coisa nova e boa, a ser explorada neste estilo.
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