Extremamente bom, um clássico ro rock progressivo
Posso dizer que o Pendragon foi o catalisador principal para que meu paladar musical bandeasse com grande satisfação para o neo progressivo feito durante os anos 80, principalmente por ocasião do seu trabalho debutante: "The Jewel", não que esse seja o primeiro trabalho do grupo que travei contato. Na realidade, em meados dos anos 90 conheci o Pendragon através da audição do "The Window Of Life", mas meses depois, ao ouvir o "The Jewel", definitivamente passei a verter grande afinidade pela música esbelta do quarteto inglês.
A importância do Pendragon ainda se estende por um campo maior ao percebermos, que, juntamente com o Marillion e o IQ, foi uma das maiores influenciadoras de bandas surgidas na década seguinte e ainda hoje dentro do contexto progressivo. E muito se deve a esse álbum de estréia que está baseado numa proposta que alia uma revitalização dos elementos progressivos dos anos 70 com o frescor típico do rock convencional produzido nos anos 80, porém com muita isenção e qualidade, nunca descambando para o apelo comercial que acabaria por tragar dezenas de bandas clássicas da década de 70.
A única música contida na obra que realmente deixa a desejar um pouco é justamente o tema de abertura "Higher Circles", típica música linear, sem muitas variações, pouco inspirada, burocrática mesmo e na qual muitos proggers embasam suas críticas ao estilo neo progressivo, parece que tinha sido um mero aquecimento para o que viria depois e, diga-se de passagem, a continuidade do álbum em nada se assemelha a essa primeira música, todas as outras são muito superiores e não justifica tirar o mérito dessa produção por apenas uma música irregular.
"The Pleasure Of Hope" é quando passamos a conhecer a grande destreza dos músicos, guitarra chorada rasgando a alma, moog em profusão e uma cozinha quebrada principalmente nas linhas de baixo hiper instigante. Sem falar que Nick Barret consegue a proeza de ser um excelente vocalista também, conseguindo belos timbres tanto nos momentos melancólicos como nos mais vibrantes. A pureza cristalina das notas extraídas de sua guitarra o alçaram à condição de um dos principais instrumentistas de sua geração.
Vale destacar que algumas músicas dessa obra são proeminentes, tais como "Alaska", "Oh Divineo" e "The Black Night". "Alaska" em minha opinião é a melhor música do álbum e uma das melhores de toda a carreira da banda. Para ser sincero a considero, sem exageros, como um dos melhores momentos do rock progressivo nos anos 80. Nick Barret imprime dramaticidade nos vocais e nas guitarras dedilhadas na medida certa no primeiro movimento, mostrando ser um músico extra classe e Rick Carter destrói nos sintetizadores no segundo movimento, totalmente instrumental e contagiante para todos que curtem um bom rock progressivo.
Apesar de "Alaska" o carro-chefe desse trabalho ficou mesmo sendo "The Black Night", que hoje em dia já é composição clássica do grupo, obrigatória nos seus shows mundo afora e uma das mais apreciadas pelos fãs.
As principais influências do Pendragon se fundem na personalidade instrumental de cada componente:
- As guitarras de Nick Barret seguem a linha do Pink Floyd e Camel, outra similaridade é que assim como Gilmour ele também canta maravilhosamente bem.
- Os teclados, nessa formação, conduzidos por Rik Carter, são influenciados principalmente pelo Genesis.
- As linhas de baixo do aclamado Peter Gee seguem dois pilares do progressivo mundial: Doug Ferguson(Camel) e Klaus Peter Matziol(Eloy).
- Por fim a bateria da banda executada aqui por Nigel Harris em diversos movimentos possui uma linha parecida com a do Yes a partir da segunda metade da década de 70, imposta por Alan White.
Com todas essas boas influências, o Pendragon conseguiu em "The Jewel" um mix muito interessante e agradável, sendo necessário abandonar a superficialidade de audição para realmente apreciar toda a qualidade do grupo, que está longe de ser um mero clone de bandas setentistas como alguns insistem em afirmar em tom depreciativo, afinal na concepção da sua sonoridade a banda se apóia em diversas influências e não apenas numa só, o que já comprova certa originalidade e isenção nas suas músicas.
Em 2005 foi editado uma remasterização desse trabalho, com quatro bônus de canções compostas no início de carreira do grupo, que muito acrescentaram à obra original, sendo os dois últimos executados pelo tecladista e batera atuais, respectivamente Clive Nolan e Fudge Smith. Por esse motivo recomendo a aquisição desse lançamento remasterizado, o único problema é que trocaram a capa original por outra, quanto a isso não sei por qual motivo.
É notório que o Pendragon conseguiu uma evolução musical ao longo de sua carreira, muitos afirmam que a banda atingiu a maturidade dez anos depois desse álbum de estréia com o lançamento do "The Masquerade Overture" e uma respectiva tour mundial vitoriosa, inclusive com passagens por Argentina e Brasil com sucesso, mas na minha ótica, "The Jewel" continua sendo um dos melhores trabalhos do grupo em nada deixando a desejar perante os trabalhos posteriores. |
|