Extremamente bom, um clássico ro rock progressivo
Extremamente bom, um clássico do rock progressivo.
É comum tachar grupos como os finlandeses do Alamaailman Vasarat de esquisitões, sem proposta definida, lunáticos, entre outros adjetivos. Entretanto, considero essa uma visão míope e superficial da profunda e autêntica musicalidade do grupo. A atmosfera funesta e lúgubre toma conta do cenário musical desde a concepção pautada no encarte, trazendo-nos um ambiente desprovido de beleza, até a instrumentação contudente e pesada que permeia toda a obra, mas é possível observar um horizonte muito amplo neste álbum, além desse clima taciturno.
'Käärmelautakunta' percorre um instigante panorama urbano, representando a demasiada neurose contida nas metrópoles cinzentas pela poluição e frieza(caso específico da Finlândia). O grupo se aprimorou com relação ao primeiro álbum, adicionaram um segundo violoncelo e mais uma dezena de efeitos nos diversos pedais. A formação neste trabalho é composta por Jarno Sarkula - saxofone e clarinete, Tuukka Helminen - violoncelo, Teemu Hänninen - bateria, Miika Huttunen - piano, Erno Haukkala - trombone, trumpete e tuba e Marko Manninen – violoncelo.
O desenvolvimento de uma sonoridade melancólica e angustiante por parte do Alamaailman Vasarat não é novidade no meio progressivo, principalmente se levarmos em consideração as bandas nórdicas com proeminência nos anos 90, tais como Anekdoten e White Willow, mas o diferencial dos finlandeses é que a atmosfera não chega a ser totalmente depressiva (como notamos nas bandas citadas). Existem diversos movimentos abertos com abundância de melodia, mesmo que pese o clima tenso e dark durante a obra.
O cartão de visitas é 'Kivitetty Saatana' apresentando uma distorção muito semelhante ao peso das guitarras, mas não se ilude, são de fato os violoncelos que fazem todo esse estrago, num dos traços mais marcantes da originalidade do grupo. Após essa breve introdução hiper pesada, surge a profusão de metais com sax tenor, trombone e tuba num arroubo de triste melodia, difícil não ficar arrepiado com o anti-clímax em que o celo faz as vezes de contrabaixo, apresentando uma calmaria em meio ao turbilhão frenético de antes. Nessa primeira a pancada é tão intensa que torna-se tarefa praticamente impossível identificar os teclados. Pode-se até citar o Univers Zero como referência, a diferença está na dinâmica do Alamaailman Vasarat que é mais pesada e violenta, onde os violoncelos muitas vezes seguem uma linha trash metal a la Metallica em substituição às guitarras.
'Vasaraasialainen' se inicia com leves teclados em conjunto com suaves notas ao violoncelo, num preâmbulo melancólico para a entrada triunfante do trombone e sax num movimento marcante e agradável que ressoa em nossa mente mesmo após o término da música. Destaque também para os efeitos percussivos no chocalho.
'Pelko Antaa Siivet' a princípio aparenta uma marcha fúnebre que vai ganhando força com as notas marcantes ao piano, ao fundo desenvolvendo as mesmas notas temos um triste violoncelo que descola logo depois numa base intensa para a sequência executada ao clarinete, música vigorosa e bem mais lenta que as anteriores.
Os movimentos frenéticos retornam em 'Hamarapuollela', onde já é possível se reportar ao espetacular trabalho do baterista Teemu Hänninen que se aproxima da fase mais dark e pesada do King Crimson a cargo do mestre Bill Bruford, contida em álbuns como 'Red'. A seqüência com 'Astiatehdas' mostra um aspecto interessante no rock in oposition desenvolvido pelos finlandeses, ao contrário de outros grupos de rio. É que este segundo trabalho, em momento algum, se torna monótono ou cansativo, devido às diversas quebras de movimento, permeadas por passagens melódicas tais como um estribilho marcados repetidamente, favorecendo a retenção da atenção do ouvinte pela empatia com as músicas, já que definitivamente não estamos diante daquele tipo de disco composto de forma atonal, onde muitos costumam definir como 'sem pé nem cabeça'.
Como numa metempsicose capaz de levar nossas almas a fronteiras sonoras distantes, após a explosão da faixa anterior, o grupo pousa novamente trazendo o momento mais piano do álbum com 'Vanha Lapsuudenystävä', apresentando um andamento clássico, sensível e extremamente belo. A modernidade musical desses finlandeses varre diversos elementos naturais do rock progressivo como num furacão sem volta (isso pode incomodar muitos ouvintes), ao mesmo temo que descortina novas possibilidades e por isso mesmo se trata de um trabalho extremamente original e de orientação super progressiva para as novas gerações.
Em decorrência de inúmeras passagens distorcidas, creio que a música do Alamaailman Vasarat não é do tipo de se ouvir numa roda de amigos ou em conjunto com sonoridades mais clássicas e usuais, até porque aqui necessitamos de atenção máxima, principalmente nos momentos de maior complexidade. Creio que se em diversas passagens o grupo diminuísse um pouco o peso a riqueza de detalhes transpareceria de forma mais cristalina, como exemplo cito a melhor música do disco - 'Olisimme Uineet Vieläkin Pidemmälle' em que todos os instrumentos são debulhados, principalmente a bateria (absolutamente fantástica) e o piano num lamento de cortar o coração.
Dark, funesto, lúgubre, melancólico, taciturno, vigoroso, intenso, pesado, agressivo, mas sobretudo muito belo. Ouvir 'Käärmelautakunta' é uma experiência cativante e única! |
|