Bom, mas com ressalvas
Bom, mas com ressalvas.
Este dvd apresenta uma coletânea de alguns momentos da carreira solo do grande vocalista do eterno grupo Queen. De início temos a estupenda performance de 'Barcelona' numa apresentação de gala em Montjurich Castle na capital catalã ao lado da fenomenal voz da diva Montserrat Caballé. Este evento se tornou célebre no fim dos anos oitenta, correndo os quatro cantos do planeta, afinal se tratava de um autêntico encontro de titãs. O local, a orquestra e principalmente o vestuário de Mercury e Caballé coonestava um ar de nobreza digno para esse duo de peso, que como poucos entendiam a utilização certa dos vocais aliando alma e técnica. No término desse número, surgem, imponentes belos fogos de artifícios, para na sequencia um corte rápido emendar com um vídeo clipe performático da música 'The Great Pretender' do compositor Buck Ram, em que Mercury interpreta junto a um telão que funciona como back vocals ao seu fundo, num figurino extremamente brega e insípido, vale mesmo pela bela voz do indiano.
'I Was Born To Love You' é um clipe em forma de super produção, contando com a participação de aproximadamente 1000 bailarinos. É emocionante assistir Mercury cantando e dançando cheio de energia, a cena da briga com a loirinha no quarto é cômica, esse clipe também fez muito sucesso nos anos oitenta. No que tange a música, o ponto alto reside na profusão de teclados que são maravilhosos, inclusive com a inserção de alguns solos nervosos de piano, o arranjo é impecável, nesse aspecto acho até mesmo superior ao Queen, grupo de origem do vocalista que possuía poucos teclados em seus arranjos, por outro lado a bateria eletrônica é burocraticamente programada, criando um ostinato sacal, típico do universo pop da década de oitenta, provando que um bom baterista como Roger Taylor faz muita falta para abrilhantar algumas músicas. 'Time', composição da dupla Dave Clark e John Christie é outro número que possui a participação de uma centena de vozes num soberbo coral, casando em perfeita harmonia com a voz de Freddie, a curiosidade é que esse coro de vozes é formado por estudantes que foram voluntários apenas pelo prazer de gravar uma participação em algo do genial vocalista.
Um dos grandes momentos da década de oitenta, presente no imaginário coletivo de toda uma geração que amava Mercury, está registrado no duo com Caballé em 'How Can I Go On', os trinta segundos finais quando ambos soltam a voz é algo de pura magia! Na sequencia mais um clipe, agora da polêmica 'Made In Heaven, diga-se de passagem, outra super produção como tudo que rodeava o artista. Assistindo ao vídeo é possível entender o auge de popularidade do cantor na ocasião, comparado até mesmo a nomes como Madonna e Dire Straits, não por acaso Mercury fica no topo durante todo o clipe.
O clipe de 'Living On My Own' é uma autêntica celebração, pois se tratava da comemoração do trigésimo nono aniversário de Mercury. A festa foi realizada em Munique, contando com a participação de trezentos convidados que partiram de Londres para a Alemanha, inclusive os integrantes do Queen. A sonoridade é totalmente próxima aos grupos de pop rock dos anos oitenta que misturavam trabalhos eletrônicos aos teclados com excelentes vocais, deixando a cozinha roqueira em segundo plano, como exemplos do gênero, pode-se citar Pet Shop Boys, A-HA, Duran Duran e Simple Red. Esta música pode ser considerada como o canto libertário do vocalista, apresentando sua forma de vida ideal, juntamente com todas as suas criaturas. Última apresentação no The Barcelona Opera House apresentada pelo vídeo, 'The Golden Boy' é disparada a melhor, vale destacar o gestual expressivo de Caballé, mostrando que uma cantora lírica não se resume apenas a cantar, mas sobretudo, a interpretar. Exatamente isso que ambos fazem na execução dessa música!
O dvd se encerra com mais dois clipes, são eles: 'In My Defence' e 'Guide Me Home'. Após a visualização de ambos, fica perceptível que o dvd possui como objetivo apresentar alguns momentos de Mercury, não se atendo a um show ou um período específico. A proposta soa como um coletânea da MTV, porém com a vantagem de um belo encarte com dezenas de explicações técnicas e curiosas, além de algumas entrevistas dos diretores dos clipes no material dos extras. Os aficionados pelo vocalista se sentirão satisfeitos, já que sua potente voz está sempre em primeiro plano, entretanto creio ser material de descarte para todos os amantes do velho Queen, principalmente porque a pegada roqueira que sempre existiu no grupo foi completamente preterida na carreira solo de Freddie Mercury, que optou por enveredar numa seara amplamente comercial, se tornado dessa forma um popstar na acepção do termo, inclusive evitando que virtuoses instrumentais pudessem ofuscar sua bela voz, talvez isso explica a ausência completa de músicos de expressão individual em suas fileiras. |
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