Evergrey - Torn - Progbrasil

Evergrey

Suecia




Titulo: Torn
Ano de Lançamento: 2008
Genero:
Label:
Numero de catalogo: 0807

Revisto por Gibran Felippe em 22/07/09 Nota: 7.0

 

Bom, mas apenas para fãs ou admiradores do gênero

Bom, mas apenas para fãs ou admiradores do subgênero.

'Broken Wings' é um belo cartão de visitas para esse novíssimo trabalho de estúdio do grupo sueco Evergrey, música introduzida por um singelo teclado, mas logo em seguida as guitarras surgem com força, marca característica do grupo, além das pausas abruptas. Em seguida os vocais dão o tom, a base remonta às características tradicionais do metal, entretanto o Evergrey sempre abre generosos espaços para movimentos cadenciados e leves, onde os solos de guitarra e os arranjos dos teclados ficam bem perceptíveis, mostrando que os instrumentistas possuem boa técnica, não se prendendo apenas às estruturas básicas do metal, os últimos minutos apresentam com exatidão essas características.

A formação em 'Torn' é composta pelos competentes vocais e guitarras de Tom Englund, Henrik Danhage - guitarra, Rickard Zander - teclados, Jonas Ekdahl - bateria e Jari kainulainen - baixo. 'Soaked' não mantém o mesmo nível da primeira, poucas variações, um vocal mais rasgado e agressivo, falta-lhe melodia e quase não se percebe os teclados, típico número de metal tradicional e sem maiores novidades. O violento power metal da banda aparece em todas as suas tintas em 'Fear', pedaleira dupla e baixo pesadão marcam o número. Os vocais são muito bons e os solos de guitarra também mostram-se interessantes. Do meio para o fim, o grupo abre espaço para mostrar o perfil da contextualização tão propícia aos suecos, temática funesta que outros pares ocidentais não possuem de forma tão acentuada, mas ainda está longe de ser melancólico ou gutural, como os magistrais trabalhos do Tristania, por exemplo.

Assim como a maioria dos grupos de power metal oriundos da década de noventa, o Evergrey também sofreu fortes influências do Metallica, autênticos deuses do metal em todos os tempos. Entretanto não chega a ser tão pesado, buscando com os teclados e solos mais lentos de guitarras, alguns quase chorados, arranjos tão característicos do que vem a ser rotulado de prog metal. Os três números seguintes: 'When Kingdoms Fall', 'In Confidence' e 'Fail' buscam uma maior aproximação com temas contemplativos e rebuscados, mas sem deixar de lado o power metal dos trabalhos anteriores, mostrando que o grupo tentou com um pouco mais de ênfase uma aproximação com o ambiente progressivo, talvez o problema é que a ênfase foi realmente pouca, poderiam tentar uma suíte, por exemplo, algo tão comum nos grandes grupos de metal progressivo dos anos 90, a se destacar logicamente o Dream Theater, mas ainda assim 'Torn' é um trabalho distinto na discografia da banda, pois essa convergência com o progressivo talvez possa ser um fator que desagrade seus fãs genuínos, algumas passagens chegam a se aproximar de discos como 'Nucleus' do Anekdoten, podendo abrir o leque para apreciação em outras vertentes musicais e sem dúvida pode chamar a atenção do público progressivo mais jovem, aqueles que tanto curtem grupos como Pain Of Salvatation, The Gathering e Nigthwish.

Na sequencia 'Numb' aporta de forma mais pesada, mais uma vez os vocais de Tom Englund estão super agressivos, os bumbos duplos se destacam e infelizmente a base dos teclados fica em segundo plano, a destacar o solo de guitarra executado por Danhage que é muito bom. A música título do álbum chega de forma emendada e imponente com letras obscuras e tristes, abordando inúmeras idéias que passeiam pela depressão, angústia e obviamente suicídio, os movimentos acentuadamente lentos com fraseados dedilhados nas acústicas guitarras criam a atmosfera propícia para o bom refrão da música. O desenvolvimento é objetivo e rápido, a duração não permite uma exploração musical mais profunda.

Um das melhores do disco é 'Nothing Is Erased', o grupo permite uma maior ênfase instrumental, as guitarras abrem espaços para os teclados que criam texturas viajantes e agradáveis, com pontuações constantes em toda a música, enquanto 'Still Walk Alone' privilegia passagens mais rápidas e vibrantes, sendo essa a mais pesada de toda obra e sem maiores atrativos.

À medida que vamos chegando ao fim da audição, torna-se perceptível a qualidade do grupo, este aspecto deve ser ressaltado por conta da prolífica carreira dos suecos que conseguiram emplacar quase dez discos em apenas uma década de existência, fato raríssimo hoje em dia se levarmos em conta o universo das produções atuais. Algumas bandas estão entregando discos de cinco em cinco anos e outras nem isso e o pior é que muitas vezes ainda sem a devida qualidade. Logo, para um grupo que está sempre na estrada se apresentando em diversos países e em inúmeros festivais, o Evergrey merece todos os créditos pela produção cuidadosa dos seus lançamentos de estúdio, não é diferente em 'Torn'. 'These Scars' possui uma sonoridade mais aberta e menos pesada, os vocais mais uma vez se destacam, só que dessa vez através da participação especial de Carina Kjelberg-Englund, quando ela solta a voz é realmente triunfante! Uma pena que a banda não tenha explorado um pouco mais essa característica.

O Evergrey é um grupo ainda jovem e mesmo com uma carreira já consolidada na cena metal da atualidade, ainda está em evolução e sua plena atividade contribui para essa busca de um patamar superior de qualidade. Alguns atributos ainda ficam ausentes em 'Torn', principalmente no que se refere à atmosfera, falta um pouco de clima e um pouco mais de profundidade instrumental, além de passagens mais viajantes, o tecladista é muito bom, mas tem pouco espaço para enfatizar seus andamentos, muito disso se deve na necessidade constante de se destacar os vocais. Todas as músicas possuem um certo exagero vocal, tornando a obra um tanto cansativa. De qualquer forma, o momento final com 'Caught In A Lie' traz a sensação que a bela melancolia contida em muitos grupos nórdicos, onde os amantes da cena deprê podem acender suas velas em arandelas de prata e curtir uma viagem mórbida e reflexiva, sempre contando com o contraponto de movimentos pesados, ainda pode figurar no perfil do Evergrey com mais força em trabalhos futuros. É aguardar pra ver!
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