Bom, mas apenas para fãs ou admiradores do gênero
Este disco faz parte do mito da psicodelia nordestina dos anos 70. Assim como Satwa (de Lula Cortes e Lailson) e Paebiru (de Lula Cortes e Zé Ramalho), foi lançado pela mitológica gravadora Rosenblit, em 1973.
A ligação entre este disco e os citados acima não se restringe à gravadora, mas também aos músicos que participam da gravação. Zé Ramalho, Lula Cortes e Robertinho de Recife marcaram presença na bolacha. Por fim, a sonoridade tem também bastante ligação com o que seria feito depois.
O disco abre com o bom samba Desmantelado, de menos de 2 minutos de duração. A seguir, a viagem psicodélica começa com a instrumental A Vida Ávida, tocada em cítara e viola, e com ruídos de caixa de música, relógio cuco, etc. Clima totalmente hippie.
A seguir, um frevo psicodélico : Fidelidade, em que Marconi desfila sua poesia com a cara daquela época, acompanhado por violas e uma cozinha baixo-bateria pesada. Uma combinação realmente interessante. A seguir, uma vinheta instrumental cujo nome aponta seu estilo : Maracatu.
É a vez de um rock forte e ácido em Made in PB, parceria de Marconi com Zé Ramalho, e onde a guitarra de Robertinho de Recife domina toda a canção. Vale destacar também a letra interessante, mais um exemplo da piração daqueles tempos. A lamentar, apenas a má qualidade da gravação desta canção, o que prejudica bastante a audição.
O disco volta ao som lento e hipnótico de cítaras e violas em Antropológica, apresentada em duas partes. Um baixo forte marca o andamento, e violões e cítaras comandam a melodia aonde Marconi desfila mais uma vez sua poesia bicho-grilo, um pouco datada para os dias de hoje, mas sem dúvida tem valor musical e histórico.
Após isto, outra faixa instrumental, no mesmo estilo : Sinfonia em Ré, a mais longa do álbum, com quase 6 minutos de duração. Aqui, a melodia é mais calma e reflexiva, com os violões aparecendo um pouco mais (embora permaneça a predominância da cítara). Outra boa faixa, toda em ré maior, como o título entrega.
Um dos melhores momentos do disco, para mim, é a faixa Não Tenho Imaginação Para Trocar de Mulher, onde Marconi declama uma bonita poesia onde confessa, do seu modo, seu lado romântico. Isto sob um belo fundo melódico de violões. É impossível não imaginar a poeira das ruas de terra de Pernambuco, num pôr do sol qualquer do início dos anos 70, enquanto se escuta esta faixa.
O disco encerra com mais uma faixa instrumental lenta de cítaras e violões. O nome entrega : Ode a Satwa é uma verdadeira ponte entre este disco e o que Lula Cortes e Lailson fariam mais ou menos na mesma época. Encerra muito bem este retrato do desbunde, da psicodelia, e da liberdade musical e poética que reinava na época em que esta turma se reuniu e criou estas obras inspiradas.
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