Bom, mas com ressalvas
Bom, mas com ressalvas.
Esta apresentação de Mike Oldfield marcou os festejos de fim de ano na Alemanha, comemorando a chegada de um novo milênio, enchendo os corações dos alemães de esperança após a queda do muro que representava tempos obscuros de divisão política de um mesmo povo e raça. A escolha por um dos ícones máximos do rock progressivo e world music em todos os tempos não poderia ter sido mais emblemática e impactante, não por acaso o evento reuniu quinhentas mil pessoas na capital Berlin e a produção foi extremamente caprichosa, alocando o staff de Oldfield num grande palco central, provavelmente esta deve ter sido a maior formação que o músico conseguiu reunir para uma apresentação ao vivo, a começar pela The State Orchestra e The Glinka State Choir of St. Peteresburg. Acompanhando o multimúsico e guitarrista principal, tivemos Robyn Smith - condutor, Adrian Thomas - teclados e guitarras, Claire Nicholson - teclados e guitarras, Carrie Melbourne - baixo, Fergus Gerrand - bateria, Jody Linscott - percussão, Pepsi Demacque - vocais, Miriam Stockley - vocais, Nicola Emannuele - vocais e David Serame - vocais. Apesar de todo este aparato, infelizmente fica-se com uma ponta de decepção ao término deste DVD, como veremos na continuidade deste texto, tendo em vista que Oldfield optou em trocar seu progressivo da fase clássica por algo mais pop e dançante.
A abertura era o prenúncio de um grande espetáculo com os acordes iniciais de 'Tubular Bells', dois tecladistas e um xilofone diferenciado davam o clima para um público extasiado em ver este monstro sagrado ao vivo. O solos executados por Oldfield foram perfeitos, mas algo soou estranho quando a música foi finalizada com míseros sete minutos, é bem verdade que os momentos principais foram devidamente revistos pelo grupo, logo este formato pocket, para uma música tão longa, passa pelo crivo até mesmo do mais fervoroso fã de Oldfield, é claro que desde que esta abreviação fosse em prol de momentos semelhantes através da execução de outros clássicos, mas isso não ocorreu. Na sequencia ainda temos 'Portsmouth' sem maiores atrativos.
O album 'Crises' aportou com duas boas músicas cantadas pelas excelentes vocalistas Pepsi Demacque e Nicola Emannuele: 'Moonlight Shadow' e 'Shadows On The Wall' em que os melhores momentos ficaram novamente a cargo da guitarra incruenta de Oldfield e mesmo que estas versões estivessem no aço, os arranjos com bateria eletrônica e uma insistente batida funkeada jogaram por terra a apreciação plena do ouvinte mais exigente. Vale ressaltar que o DVD fora dividido em duas partes, denominadas 'Classic Songs' e a íntegra do mais recente disco de Oldfield na ocasião, o próprio 'The Millenniun Bell', pois bem, aqui com menos de meia hora já se encerra a primeira parte, sem nada do 'Hergest Ridge', 'Ommadawn', 'Incantations' ou 'Platinun', ou seja, dos trabalhos clássicos da década de setenta, o dvd se resume apenas a sete minutos de 'Tubular Bells'. É pouco!
Na segunda parte, com a apresentação praticamente na íntegra do 'The Millennium Bell' restringiu muito o contexto musical de Mike Oldfield, não obstante este disco possuir momentos de rara beleza e merecer a assinatura do mestre, falta o brilho de outrora, tornando-se meio desequilibrado com a mistura de rock progressivo, pop e batida dance, o que muitos rotulam como world music. A primeira música 'Sunlight' levantou o publico e colocou literalmente boa parte dos alemães pra dançar, mas um tanto linear acaba por não trazer algo de mais interessante. Na sequencia com a orquestra no palco tem-se um dos melhores momentos do DVD, os violinos estão maravilhosos e combinam harmonicamente com a guitarra de Oldfield, pena que os dois tecladistas ficam um tanto tímidos neste número. Outro grande momento do show é quando Mike Oldfield retorna ao piano e numa execução praticamente solo de 'Broad', introspectiva e repleta de emoção, faz o público se extasiar, relembrando seus grandes momentos da década de setenta, diga-se de passagem, há grande similaridade com 'Tubular Bells'.
A música mais longa constante nesta obra é exatamente a última, título da segunda parte, numa analogia direta ao novo milênio. Ainda que a batida eletrônica dance e chata permaneça, o piano a cargo de Claire Nicholson é deslumbrante, exalando sentimentalismo, para em seguida emendar no solo de guitarra espetacular de Oldfield, na parte final da música há a completa reunião de todos os músicos com a orquestra e o coral, sem dúvida um momento apoteótico, culminando com a contagem regressiva para a virada do ano, definitivamente é contagiante ver Oldfield e banda regendo a contagem com grande vibração, para em seguida romper no ar a explosão dos fogos de artifício e a representativa alegria dos presentes no espetáculo. Talvez a escolha de Oldfield por um arranjo dançante em boa parte das músicas esteja relacionada à grandiosidade do evento, já que é preciso compreender que algo introspectivo talvez não fosse muito adequado numa reunião de grandes proporções, levando-se em consideração o frio congelante que fazia em Berlin.
Para o público mais afeito ao progressivo tradicional, o DVD resguarda uma surpresa envolvente no bônus, intitulada 'Art In Heaven', onde os efeitos de luzes e fogos conectados ao som remetem-nos aos momentos memoráveis de nomes como Pink Floyd, Genesis e Yes. Nos extras é possível conferir um breve making of, além de uma entrevista com o prórpio Oldfield na ocasião do evento, descrevendo sua preparação para a grandiosa festa e também um pouco sobre sua carreira atual, porém nada que acrescente algo de relevante para o conjunto da obra. |
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