Ótimo trabalho, disco de cabeceira
Conheci este cd após ter acesso ao excelente bootleg do grupo que comento aqui (http://www.progbrasil.com.br/ExibeResenhas.php?eID=1472). O encantamento que o bootleg me causou, e me causa até hoje, foi o que me atraiu para os primórdios do Isildurs Bane. Ao contrário da maioria de seus fãs, eu gosto mais do período antigo do grupo, principalmente a fase que este cd constituiu.
Composto pelo terceiro e o quarto LPs da carreira do grupo, este cd trás as faixas remasterizadas, mas peca pelo encarte muito simples, de apenas uma página, com uma sucinta ficha técnica dos dois álbuns e nada mais. Senti falta de mais informação, e das imagens das capas originais.
Mas vamos ao conteúdo musical, que é o que interessa. O cd apresenta os dois álbuns que marcaram a segunda fase da carreira do grupo, caracterizada por um jazz-rock melódico, alegre, e de muito bom gosto. Faixas mais curtas, sem grandes experimentações, mas com arranjos muito caprichados. É jazz-rock de qualidade, enxuto, centrado nos 3 sopristas que participam da banda a partir daqui.
A primeira parte, composta pelas faixas do Sea Reflections, é a mais jazzística. A abertura com Blizard é mais agitada, e com ótimo trabalho de sax, trombone e trumpete, além de algumas passagens muito bem colocadas de guitarra. Batseba, que vem a seguir, é um dos destaques do álbum, com um tema de guitarra muito bonito, e um pouco mais de presença de teclados.
A seguir, vem a faixa-título, dividida em duas partes bem distintas. A primeira, com pouco mais de 5 minutos, retoma o estilo da faixa de abertura. A segunda, com pouco mais de 6 minutos, é brilhante e se trata do primeiro momento mais lento do álbum, com passagens realmente muito bonitas de metais e guitarra, além de uma bela cama de teclados. Um tesouro escondido que muitos fãs não conhecem.
Poseidon retoma o jazz mais agitado, sem muitas novidades, mas agradável como a faixa de abertura. Bilbo é o outro momento mais lento, com um belo trabalho de metais e percussão. Outra bela canção, que talvez seja a única que lembra a sonoridade da fase sinfônica do grupo.
O álbum fecha com mais duas faixas de jazz-rock mais agitado : Top Secret e The Story of Chester & Silvester, mais dois números de jazz-rock de qualidade, menos melódicos do que alguns anteriores.
Sobre o áudio : não conheço a versão original deste álbum, mas esta aqui tem qualidade boa de áudio. Nada exuberante, o volume é um pouco baixo, mas aumentando o som, ouve-se tudo com muita clareza. Só senti falta de um pouco de força nos graves, que talvez a (cara) versão em vinil tenha.
Eight Moments of Eternity é mais melódico, e tem canções um pouco mais simples estruturalmente falando, embora mantenha forte presença de jazz em vários momentos. Ele abre com a linda faixa Lady in Green, de melodia cativante, e centrada em teclados melódicos, um lindo solo de guitarra, e outro igualmente belo de sax.
Factory Man, que vem a seguir, já é o jazz-rock típico de grande parte do Sea Reflections, mas com presença um pouco maior de teclados. A faixa seguinte, Ben-Oni, é uma espécie de equilíbrio entre as duas vertentes; um jazz-rock mais melódico, com boa presença de metais e percussão (e bateria, com aquele som típico dos anos 80, meio eletrônico).
The Second Step é uma página à parte neste trabalho. Ao contrário da linda interpretação que abre o bootleg do qual falei lá em cima, aqui o arranjo é 90% calcado em orquestra, de forma calma (ou, no linguajar das partituras, "piano"), que faz seu debut em gravações do Isildurs Bane. Fora algumas passagens de guitarra e percussão, a canção é toda levada em instrumentos de orquestra, um verdadeiro mergulho na música erudita. Particularmente, achei a versão ao vivo do bootleg, interpretada pela banda, superior. Mas esta versão tão diferente foi uma grata surpresa.
Happy Hip Hop retoma o estilo de Ben-Oni, com teclados e sopros na linha de frente, em outro bom momento do álbum.
In The Same Class é outro momento calmo, mais contemplativo, com discretas passagens de trumpete, violão e teclados. Outra vez venho comparar a versão daqui com a que consta no bootleg; achei a versão ao vivo superior, principalmente porque os solos de violão da segunda metade da canção, são feitos ao vivo na guitarra, ficou mais vibrante.
Gheel é outro dos grandes momentos deste cd inteiro. Mais jazz-rock melódico, bela melodia, principalmente as incursões dos metais, que são emocionantes e vibrantes. A faixa é muito bem desenvolvida, e é a mais longa deste álbum, com quase 6 minutos de duração. Uma das minhas músicas favoritas do grupo, considero-a um clássico.
O álbum se encerra com Above the Roofs, uma boa e curta faixa, de ritmo um pouco mais lento.
Sobre o áudio desta parte do cd, posso falar quase a mesma coisa. Mas achei a qualidade do áudio aqui um pouco inferior. Algumas das músicas teriam seus arranjos um pouco melhorados na turnê que se sucedeu, uma rápida conferida em um bootleg ou nos vídeos da banda desta época que podem ser encontrados no Youtube mostram isso.
Conclusão : este cd mostra uma fase esquecida, pouco valorizada, e mais simples, do grupo. A despeito da produção não ser nota 10, são dois ótimos discos, onde a banda fez realmente um som muito especial, de extremo bom gosto. Um prato cheio para quem gosta de um bom jazz-rock, sem muitas experimentações, porém com belas melodias.
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