Klaus Schulze - Kontinuum - Progbrasil

Klaus Schulze

Alemanha




Titulo: Kontinuum
Ano de Lançamento: 2007
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Gustavo Jobim em 29/04/11 Nota: 6.0

 

Gostei, mas poderia ser melhor

"Kontinuum", álbum de 2007 de Klaus Schulze, foi lançado no ano em que o compositor completou 60 anos de idade. Talvez por isso o álbum carrega um título pomposo e suas faixas parecem dispostas a mudar o mundo: "Sequencer (From 70 to 07)", "Euro Caravan" e "Thor (Thunder)". Mas mudar o mundo o Schulze já fez, ainda nos anos 70, e infelizmente este é mais um disco manchado pela mesma sequência de acordes que assombra a maior parte da produção schulziana desde 1995, diluindo sua qualidade.

A primeira faixa mostra o que pode ser o título mais megalomaníaco que já vi numa obra de Schulze - "Sequencer (From 70 to 07)". "70" representa o início da carreira de Schulze, haja vista que participou do primeiro álbum do Tangerine Dream, "Electronic Meditation", lançado em 1970. E "07" é o ano 2007 de "Kontinuum".

Porém a música em si nunca se levanta dum patamar introdutório. É uma bela sequência que na sua qualidade transparente lembra "Crystal Lake" da obra-prima "Mirage" (1977), mas esta sequência não vai a lugar nenhum e, pra piorar, na segunda metade da faixa vai dando lugar à temida sequência de acordes mencionada antes. Parece algo que Schulze programou num computador durante 5 minutos e mandou executar. Tudo é de uma beleza frágil, é como observar durante 25 minutos uma pirâmide de cristal girando na ponta de um dos vértices. A decepção é da magnitude do título que esta música carrega. Este título é, sim, digno de várias peças que o mesmo Schulze criou nos anos 70, como "Bayreuth Return", de "Timewind" (1975).

Já a segunda, "Euro Caravan", é a mais interessante e dramática, e digna da tradição que o mestre representa. Tem diversos elementos que vão se combinando em diferentes arranjos. Cada elemento deste leva alguns minutos pra se apresentar, quando então chama outro, enriquecendo o arranjo. Estas variações são igualmente divididas ao longo dos 20 minutos da peça. O disco começa aqui.

A terceira, "Thor (Thunder)", novamente um título pesado, começa com uma assinatura: é uma nova instância do mesmo solo que Schulze vem tocando ao longo de toda a carreira. É quase como que o músico piscasse um olho pra quem o acompanhou até aqui. É como ouvir J.S.Bach: com 10 segundos já se sabe quem é o músico. Mas lamentavelmente "Thor (Thunder)" também decepciona pois apresenta uma evolução semelhante à faixa anterior, sem acrescentar algo que a torne única dentro do disco. O ouvinte habituado com o estilo Schulziano espera que ele toque um solo ao longo da seção central, de andamento mais rápido, que dura 12 minutos com variações tão extremamente sutis que na verdade talvez nem existam.

É verdade que a música "Ludwig II von Bayern", da obra-prima "X", de 1978, tem exatamente a mesma coisa, uma seção central que fica apenas repetindo sem qualquer evolução. Em "Ludwig" ainda tem o diferencial deste trecho ser pontuado por efeitos sonoros. Porém esta seção central é apenas o recheio de uma música que, na sua mistura de orquestra com sons eletrônicos, é uma das maiores obras-primas da música eletrônica de todos os tempos.

No caso de "Ludwig" a soma é muito maior que as partes, mas isto não acontece em "Thor (Thunder)". Na marca de 23 minutos o arranjo se desfaz para os 7 minutos finais, onde ouve-se, para meu desespero, a mesma velha sequência de acordes, uma verdadeira praga, e os outros sons dando suas declarações finais.

Talvez seja injusto comparar as obras de um mesmo músico em períodos tão distantes, mas a escolha dos títulos deste álbum leva inevitavelmente a isso. Ele evidentemente faz referência a essa história, nos títulos e nas músicas. O álbum tem qualidades e mostra que seu compositor realmente é um mestre da forma e de texturas sonoras, como sempre foi, mas os elementos melódicos e harmônicos que ele costumava também apresentar para enriquecer suas obras estão se esvaindo.

Antes Schulze apresentava grandes mudanças dramáticas e chocantes ao longo de suas peças, como nos primeiros acordes de órgão em "Mindphaser" de "Moondawn" (1976), ou até mesmo em "Yen" de "Royal Festival Hall Vol.1" (1993), pra não ficar nos exemplos dos anos 70. Mas onde antes era assim, agora tudo é de uma suavidade tão homogênea e sem cor que muito facilmente cai pra música de fundo.

"Kontinuum", de qualidade sonora cristalina, realmente não esconde o que é: mostra um compositor muito prolífico que, após quase 40 anos de trabalho incansável, já entrando na terceira idade, mostra sinais de esgotamento, mesmo enquanto é capaz de produzir obras dignas de sua história - no caso da faixa central, "Euro Caravan".
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