Discoteca básica, fundamental
Em 2013 o Univers Zero gravou seu 13º disco que saiu só em 2014, mas sob o número ARC-1313! Em 2012 a banda foi totalmente remodelada, sendo que da formação da época foram conservados o clarinestista/saxofonista e compositor Kurt Budé, o baixista Dimitri Evers e, é claro, o baterista, compositor membro fundador, Daniel Denis. Juntaram-se ao time dois músicos jovens, o tecladista Antoine Guenet (The Wrong Object e SHTGN) e Nicolas Dechéne (Turlu Tursu, Gansan, Follow the River). Phosphorescent Dreams é o resultado da nova formação. Sete composições (podiam ser 13) são assinadas por Denis e Budé, as quais que se mesclam com grande perfeição no estilo Univers Zéro, misturando climas tensos, crescendos, ataques vigorosos, solos fantásticos e ritmos impecáveis. O som está mais elétrico, sem violino, fagote ou oboé, misturando a linha composicional de Clivages, com a sonoridade da época do Uzed e Heatwave. O resultado é, como sempre em se tratando de Univers Zéro, estarrecedor! O som é enriquecido pela participação de três músicos Nicolas Denis, filho de Daniel, na bateria, Hugues Tahon, no piston e Adrien Lambinet, no trombone. Algumas das faixas foram compostas para acompanhar filmes mudos das décadas de 1920 e 1930, mas outras são apenas excelentes composições!
Shaking Hats abre o CD com energia total, andamento rápido, mas com passagens mais calmas intercaladas exploradas com primazia pelos teclados de Antoine Guenet. Budé e Dechène mostram todo o poder de seus fraseados complexos. Os climas sinistros, tensos e misteriosos estão de volta, lembrando um pouco de Uzed ou Present. Mr. Denis não está para brincadeiras e ataca sem perdão seus tambores e pratos, fazendo cozinha de qualidade impecável com Mr. Evers!
Vocation tem andamento mais lento, flerta com o minimalismo, o piano repete frases, floreadas pelo clarinete e guitarra, enquanto a percussão de fundo cria um clima psicodélico para os ataques do baixo pesado e tenso. A faixa tem seu auge com o solo torturante de Dechène, sobre clima tenso e sinistro de pano de fundo!
Très Affables tem Nicolas Denis, filho de Daniel, na bateria e como o pai, Nicolas funciona como um relógio, com senso de tempo e ritmo impressionante e impecável, explorando os pratos de forma fantástica. Dechène mostra toda sua versatilidade no uso de timbres diversos, estilos e sons da guitarra. A composição lembra algumas das melodias mais otimistas de Implosion com intercalações energéticas com a sonoridade e estilo comuns na fase The Hard Quest. Enquanto o clarinete domina o tema de boa parte da música, o solo de piano é criativo e surpreende pelo seu desenvolvimento.
Rêve Mécanique foi composta por Budé e é um dos momentos mais fantásticos do CD, contando com dois convidados no pistão e trombone. O tema principal cresce com ritmo quase jazzístico no começo, com teclados e piano e a guitarra em contraponto de minimalismo e o clarinete em longas frases até chegarem ao auge com explosão da bateria e do baixo. Os climas tensos ocorrem e vão se alternando com os desenvolvimentos delicados, misteriosos, energéticos e progressivos. A guitarra usa motivos quase que de country, em mistura criativa e interessante. Os sopros extras dão apoio às belas melodias e aos climas mais intensos.
Les Voleurs d Ombre é tensa com belas frases da guitarra e do clarinete, com a guitarra usando mais ou menos distorção para criar climas delicados ou intensos. Os ritmos pulsantes da dupla Denis – Evers são muito bons. O baixista dos últimos anos tem estilo bastante diferente do peso e do ataque que costumava ser a marca registrada de Segers ou Genet, com um som mais súbito, com grave de grande alcance, retumbante com menor ataque. Combinação interessante com a bateria de Daniel, especialmente nessa faixa.
L Espoir Perdu a faixa mais lenta e camerística do CD, a participação dos sopros adicionais é explorada no início melancólico, mas muito bonito da faixa, que cede lugar ao desenvolvimento tenso e com rufus da caixa lembrando uma marcha.
Phosphorescent Dreams fechar o CD com chave de ouro. Essa é aquela faixa tensa e explosiva que faz de todo o disco da banda algo especial. Novamente a exploração de climas tensos que em crescendo chegam ao final bombástico com participação incrível da guitarra, explorando dedilhados quase acústicos, até ataques dissonantes e distorcidos, enquanto os teclados vão alternando sons elétricos com piano e órgão quase eclesiástico. O início tocado por pistão, teclados e guitarra é fantástico, lembrando o desenvolvimento inicial de Heatwave, tenso e obscuro! O clarinete e a bateria mais calma, na parte central da faixa, dão certa serenidade à composição, que é coroada com interlúdio de órgão e o tema nas teclas graves do piano, que anunciam o final estarrecedor com a guitarra e o baixo elétrico dominando os temas, com solos poderosos da primeira. Para quem sente saudade de climas pesados e tensos de Emanations, Heatwave ou La Faulx, o próximo capítulo é Phosphorescent Dream.
A mudança da formação da banda trouxe mais energia e eletricidade ao som. Não ocorrem, ao meu ver, mudanças estilísticas marcantes, as composições de Denis e de Budé se alternam em grande harmonia, fazendo de Phosphorescent Dream um dos CDs mais impressionantes da banda. Daniel está em forma total liderando uma banda muito precisa e afiada.
faixas:
Shaking Hats (Daniel Denis)
Rêve Mécanique (Kurt Budé)
Très Affables (Daniel Denis)
Vocation (Kurt Budé)
Les Voleurs d Ombre (Daniel Denis)
L Espoir Perdu (Kurt Budé)
Phosphorescent Dream (Daniel Denis)
Kurt Budé : clarinete, clarinete baixo, saxofones alto e tenor , percussão.
Nicolas Dechêne : guitarras
Daniel Denis : bateria e percussão
Dimitri Evers : baixos
Antoine Guenet : teclados
+
Nicolas Denis : bateria e percussão em Très Affables
Hugues Tahon : pistão em Rêve Mécanique, L Espoir Perdu e Phosphorescent Dream
Adrien Lambinet : trombone em Rêve Mécanique, e L Espoir Perdu
|
|
