Discoteca básica, fundamental
Toda vez que sai um novo CD do Miriodor.... Isso causa sismos no meu ser.
Sigo a banda desde o primeiro disco, que conheci em 1987, praticamente quando foi lançado e logo em seguida comecei a me corresponder com Pascal Globensky, tecladista e um dos compositores. A música do Miriodor tem algumas marcas que conheço e estou acostumado, e também tem suas armadilhas. Quando ouço pela 1ª vez um disco novo, acho que já sei o que vai acontecer em alguns pontos e então... bang! Eu sou pego! As surpresas são as melhores! Não é possível ouvir nenhum disco novo sem sermos pego em várias dessas armadilhas. Essas são as melhores partes. Miriodor tem a capacidade de produzir algumas das músicas mais interessantes e desafiadoras para meus ouvidos e isso me dá prazer. Provavelmente hoje, se eu tiver que rotular, no mundo do que se intitula R.I.O., das bandas ativas, Miriodor é a banda que eu mais gosto. Elements foi anunciado como possivelmente o último, espero que não, disco da banda. Para a gravação do disco apenas o trio base que está junto desde 1995 aparece. Os dois membros fundadores, Pascal Globesnky, teclados, Rémi Leclerc, bateria e percussão, e Bernard Falaise, guitarra, baixo, teclados, banjo, toca-discos e, também, ficou a cargo da mixagem. O disco foi gravado e mixado entre 2018 e 2022. A ideia foi fazer um trabalho perfeito, bem dosado, sem exageros, com seis faixas compostas, lapidadas, trabalhadas, polidas e repolidas à perfeição. Nas palavras do próprio Pascal: não foi feito para ser o disco mais vanguarda da banda, o mais beefheartiano, o mais cheio de contrapontos, o mais incompreensível, surpreendente e maluco, mas foi feito para ser bem composto, dosado e equilibrado, praticamente perfeito para os padrões da banda. Eles conseguiram, pois este CD é assim. O CD é feito de seis pérolas maravilhosas. Começa com Boomerang e Alambic que misturam motivos circenses, tarantela, atmosferas inesperadas que são unidas com contrapontos complexos em um maravilhoso quebra-cabeça. Os sintetizadores, em Boomerang, emulam sopros que me lembram passagens dos primeiros discos, reminiscências do passado, enquanto Alambic é uma das composições mais intensas do disco. Tour de Main é como uma versão insana e complexa de Gentle Giant, alternando intensos contrapontos com passagens de beleza, no melhor do estilo Miriodor. Pascal brilha na alternância de timbres, enquanto Bernard arrepia em solo alucinante. Poulet-Bicyclete tem contrapontos muito interessantes e é um labirinto para ser descoberto com fones de ouvido, pois a experiência, assim, nos leva a outro nível de percepção. Embuscade cresce aos poucos, o tema, o ritmo e dentro de nós! Gênial e com um final poderoso. Rémi mostra do que é capaz com seus oito braços. Miriodor no seu melhor. Conflict D Horaires encerra o CD. Composição trabalhada com esmero, onde fundo complexo feito com guitarra, bateria e teclado é utilizado para os solos complementares. Para completar tudo isso, em todas as faixas, sons estranhos, malucos, onomatopeias, zunidos e zumbidos, ocorrem aqui e ali, escondidos ou explícitos. Uma das marcas do Miriodor. Para serem descobertos, como Wallys musicais. Elements, o décimo primeiro álbum do Miriodor (se não levarmos em conta os dois cassetes da banda), é ótimo e perfeito. Tem todos os Elementos que conheço do Miriodor e mais a maturidade dos anos. As armadilhas, o inesperado, as surpresas. Miriodor no seu melhor e em sua maturidade plena. Espero que não seja o último, porque este disco é excelente, das composições, à execução, da gravação à mixagem. Pascal, Rémi, Bernard, quando sai o próximo?
1. Boomerang 05:15
2. Alambic 07:11
3. Tour de Main 08:03
4. Poulet-Bicyclette 05:53
5. Embuscade 08:07
6. Conflit d Horaires 08:16
Bernard Falaise – guitarra, baixo, teclado, banjo, toca-discos
Pascal Globensky – teclados, sintetizadores, piano
Rémi Leclerc – bateria, percussão, manipulações eletrônicas
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