Extremamente bom, um clássico ro rock progressivo
A revitalização do rock progressivo surgida nos anos 90 passou por esse trabalho de estréia da banda sueca Anekdoten, entre outros tão famosos quanto, nos quatro cantos do planeta. ?Vemod? possui uma sonoridade que se aproxima da segunda fase do King Crimson, porém mais ?dark?, mais angustiante, mais melancólica e mais intensa. À primeira vista esses atributos podem ocasionar calafrios para aqueles que curtem algo mais sinfônico, mas se houver a superação dessa primeira impressão é certo que esse trabalho pode também agradar a esse público.
?Karelia? abre de maneira extasiante com uma levada instrumental que se assemelha à música ?Red?, utilizada pelo King Crimson na década de 70 também como tema de abertura de um dos seus álbuns. Ouso dizer que ?Karelia? é até mais vibrante, extravagante e mais trabalhada, com mais variações que a própria música do Crimson, com utilização intensa do mellotron.
O som forte e angustiante do Anekdoten se apresenta de forma completa, com todas as suas características a partir de ?The Old Man And The Sea?, apresentando os belos e melancólicos vocais de Jan Erik Liljestrom e a atmosfera triste das letras. Deve-se dispensar especial atenção ao piano dessa música que é muito sutil e encantador, executados por um dos convidados especiais ? Per Wiberg. O solo de guitarra antes da parte final da composição também é empolgante. O tema recorre claramente à obra homônima de Ernest Hemingway, onde se obtém uma vitória pessoal, no caso da literatura, a de pescar o maior peixe possível que renderia frutos para um mês de subsistência e ao mesmo tempo chegar a terra e surgir novamente ao mundo como um fracassado, traído pela voracidade dos tubarões, exceção ao menino que tanto o admira. Assim é a filosofia da banda sueca em suas letras, ter a plena consciência de que no fim, acabamos sendo derrotados de fato, ficando apenas as nossas reminiscências, na literatura representada pelo menino que tanto ama o velho.
?Where Solitude Remains? aborda o saudosismo, a sensação do tempo perdido e da solidão atual que nos corrói, algo que tanto mexe com o imaginário dos suecos e também dos japoneses, não por acaso o público nipônico verte grande adoração pelo som e atmosfera do Anekdoten, sendo verdadeiros mecenas do grupo, até mesmo por esse motivo que os dois trabalhos oficiais ao vivo lançados pela banda foram de registros em solos japoneses. O destaque dessa música reside na bateria de Peter Nordin, absolutamente fantástica, categoria pura.
?Thoughts In Absence? é justamente o ponto de transição do ?Vemod?, o traço divisor que cativa à primeira audição, pela suavidade e por uma melodia belíssima, contrastando com a força apresentada anteriormente, funciona com perfeição como anticlímax necessário na preparação do ouvinte para a seqüência final arrebatadora com: ?The Flow?, ?Longing? e ?Wheel?, aliás, a fantástica música derradeira ?Wheel?.
?Wheel? é o verdadeiro ápice criativo dessa obra, desde a introdução com uma base de guitarras espetacular em conjunto com um mellotron bárbaro, depois temos a presença dos vocais femininos da Anna Sofi e uma linha de baixo muito inspirada do Jan Erik, com aquela categoria da batera, sutileza pura, contrastando com o peso das guitarras, mas o melhor ainda surge alguns minutos depois, a participação do segundo convidado especial Par Ekstrom, conduzindo um pistão que vai na alma, arrepia até o último fio de cabelo, de um feeling simplesmente maravilhoso.
Classificar o Anekdoten como um mero clone do King Crimson, considero extremamente iníquo e superficial, assim como também desprezo o mesmo tipo de opinião a respeito do Pendragon numa outra vertente do progressivo. Acho esse tipo de comentário uma forma de desmerecer a grande qualidade dos músicos dessas bandas, convenhamos, o baterista do Anekdoten ? Peter Nordin é um dos melhores que conheço surgido nos anos 90 e o guitarrista do Pendragon idem para os anos 80 no seu instrumento.
Não poderia deixar de dizer que o ?Vemod? foi editado também aqui no Brasil e a sua aquisição não é tão dispendiosa, recomendo tranquilamente não só para os admiradores da segunda fase do King Crimson, mas para todos que gostam do rock progressivo noventista sueco e sem falar que a passagem da banda pelo Brasil em 1999 também causou certo rebuliço na cena progressiva carioca, ao lado de outro expoente dos anos 90, os poloneses do Ankh.
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