Obra-prima, irretocável
Encontramos aqui a melhor formação do Jethro Tull e ainda contando com a presença do genial David Palmer nos arranjos, o resultado se concretiza numa das mais espetaculares obras do grupo e do rock progressivo mundial. A narrativa de sobrevivência do menestrel é apresentada numa história consistente sbdividida em movimentos de êxtase e tristeza de forma muito consistente.
Apesar da sólida carreira do grupo, depois do "Ministrel In The Gallery" acredito que o Jethro Tull nunca mais conseguiu produzir uma obra nesse nível, com tamanha qualidade, onde todas as músicas são fantásticas, é muito complicado afirmar qual é a melhor. Em 1975 a banda precisava, de certa forma, fazer uma contrapartida para o pouco agraciado "War Child" de 1974 e sem dúvida o recado foi muito mais até do que o necessário, pois parece que Ian Anderson, Martin Barre e cia tomaram uma carrapateira e resolveram escrever, na minha opinião, a terceira melhor obra do grupo, atrás apenas de "Thick As A Brick" e "A Passion Play".
Muitos fãs da fase inicial do grupo podem até achar esse trabalho pomposo demais, clássico demais, progressivo demais, alegando que a verve hard rockeira se perdera, mas não tenho dúvidas em afirmar que o Jethro Tull se sai muito melhor em composições mais complexas. Se pegarmos as linhas de bateria do Barriemore Barlow nesse trabalho e compararmos com o Clive Bunker do "Aqualung", a distância é grande, é fácil perceber, basta colocar uma obra e depois a outra e atentar para a bateria.
O disco é composto por sete canções, na última edição em cd ainda conta com mais 5 faixas bônus que sinceramente não acrescentam nada a mais. O próprio set-list da obra original já passa tudo, já lava a alma completamente.
A primeira música dá nome ao álbum e começa altamente acústica com a bela voz do Ian Anderson acompanhada por violão e flauta, entretanto em fração de minutos a música vira completamente com uma quebradeira fantástica, como só o Jethro Tull sabe fazer, é a música mais forte do cd, com vários elementos hard que sempre marcaram o trabalho do grupo e sem os violinos que se fariam presente em todas as outras composições. Um clássico absoluto, um dos grandes abre-alas do grupo, não tão forte quanto "Aqualung", mas sem dúvida tão genial quanto. Destaque para a guitarra irada de Martin Barre que alia técnica, poesia e pegada nas doses certas.
"Cold Wind To Valhalla" já apresenta o quinteto formado por violinos que enriquecem muito as composições do Ian Anderson, passando o lirismo que o tema proposto no álbum solicita, é uma das músicas favoritas de boa parte dos fãs do grupo contido na obra, dessa vez o destaque segue para o Barriemore Barlow que verdadeiramente dá um show nas baquetas, simplesmente brilhante, ele não sossega um minuto.
O álbum segue com uma balada de tirar o fôlego, "Black Satin Dancer", que possui no piano do John Evan seu momento mais soberbo, vale ressaltar os belos vocais do Ian Anderson que em todo o trabalho canta com uma alma incrível. O arranjo dessa música é fenomenal, as entradas dos violinos imediatamente após o fraseado de guitarra do Martin Barre são muito bem postas.
"Requiem" como o nome antecipa representa o momento de melancolia, o anti-clímax acompanhado por voz, violão e muitos violinos. Música belíssima, que acredito era pra ser a derradeira, mas o Anderson inverteu por questão de roteiro, já que o álbum aborda uma das suas histórias fantásticas.
Em seguida temos mais uma grande balada "One White Duck / O10=Nothing At All" representando toda a escola e influência folk do grupo, afinal cd do Tull sem uma boa seqüência folk não é cd do Tull, e aqui nessa música temos essa seqüência para alegria dos admiradores do grupo, que se sentem prestigiados com a pureza musical do Ian Anderson ainda muito bem guardada.
O momento apoteótico do "Ministrel In The Gallery" se dá com "Backer St Muse", quem não conhece? Uma das grandes suítes do grupo com 17 minutos de puro delírio, que infelizmente ficou relegada com o passar dos anos, mas é sempre assim com os grandes medalhões, sempre uma coisa ou outra acaba ficando pra trás. Sorte de quem tem o cd e pode ouvi-la a hora que lhe aprouver, pois é absolutamente magistral, possuindo todos os atributos que fizeram com que a banda se tornasse uma das maiores de sua geração: folk, hard, progressivo, geniais guitarras, belos pianos, batera fenomenal, Jefrey Hammond-Hammond arrebentando, belíssimos acompanhamentos de violinos e claro as flautas e os vocais inconfundíveis e geniais do Ian Anderson, que aqui exercita seu grande monólogo de forma virtuosa. Uma verdadeira jóia na extensa produção do Jethro Tull.
Por fim, terminamos com "Grace" com a suavidade que o momento pede para uma bela finalização.
Se você curte Jethro Tull e nunca teve a oportunidade de ouvir "Ministrel In The Gallery", com certeza vai passar a gostar muito mais da banda depois disso e claro, esquecer completamente o "War Child" que prejudicou a seqüência de ouro do grupo, a qual responde pela sua mais sublime formação: "Thick As A Brick", "A Passion Play" e "Ministrel In The Gallery", nessa ordem. |
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