Obra-prima, irretocável
A banda Emerson, Lake And Palmer figura entre aquelas que já começaram grandes, por vários motivos, mais principalmente pelas experiências musicais anteriores de seus integrantes: Keith Emerson, oriundo do The Nice e que já trazia uma proposta musical muito interessante, fundindo jazz, rock e música clássica, Greg Lake que um ano antes havia participado de um projeto exuberante e arrebatador ao lado de grandes músicos, chamado King Crimson e Carl Palmer já conhecido em circuitos jazzísticos pela sua convivência e amizade com Buddy Rich, um autêntico ás das baquetas.
Diante disso, o resultado não poderia ter sido outro, um álbum de estréia que causou furor pela proposta musical altamente virtuosa e na primeira turnê o grupo já fora convidado para cruzar o oceano e se apresentar na América, algo restrito apenas a bandas já consagradas como Led Zeppelin, Rolling Stones e The Cream. Acredito que, em detrimento do The Cream, o conceito de power trio surgiu de fato com o advento do ELP, através da fusão de virtuose, elaboração musical, originalidade e quebradeira e ainda existem incautos que acreditam piamente que o grande precursor do formato power trio no rock foi o Rush, enquanto no meu canto, considero o Rush apenas como mais um bom power trio pós ELP.
Para várias pessoas “Brain Salada Surgery” representa o apogeu do ELP, como disse anteriormente, se analisarmos a estréia da banda, ela já começou no ápice, logo é complicado exprimir que a banda só atingiu o auge três anos depois. Na verdade coloco o “Brain Salad Surgery” como o divisor de águas do grupo, já que após esse trabalho, a banda jamais atingiu um resultado semelhante.
A abertura da obra se dá com um clássico na voz extasiante de Greg Lake, uma das menores e mais belas gravações do grupo – “Jerusalém” (poema de William Blake musicado por Hubert Parry em 1916, e depois orquestrado em1922 por Sir Edgard Elgar).
Em “Toccata”, Keith Emerson dá as cartas com uma infinidade de sons e timbres nos seus teclados mágicos, usando órgão, piano, moog e vários sintetizadores, outro clássico absoluto do grupo.
As duas composições seguintes são menos inspiradas: “Still...You Turn Me On” e “Benny The Bouncer”. Esse é no meu modo de ver o único pequeno problema do ELP, em todos os seus álbuns, à exceção do primeiro, temos músicas “medíocres”, que perfazem um contraste muito grande com as outras, principalmente as suítes.
A seqüência final de “Brain Salad Surgery” é matadora, nos brindado na minha opinião com a melhor composição do grupo: “Karn Evil 9”, uma verdadeira sinfonia ambulante. Todos os quatro movimentos são impressionantes e intensos, destacando os trabalhos do Carl Palmer, a bateria em momento algum apenas acompanha, na verdade com uma agilidade e técnica assustadora, Carl Palmer segue o frenetismo de Keith Emerson e Greg Lake integralmente.
Na versão remasterizada que saiu no Brasil ainda temos três bônus que só valem mesmo por “When The Apple Blossoms In The Windmills Of Your Mind I’ll Be Your Valentine” (single), o restante é pra encher lingüiça mesmo.
Dois aspectos são interessantes citar: o primeiro é que pela primeira vez Carl Palmer utilizou sintetizadores e segundo que Peter Sinfield participou da elaboração de “Karn Evil 9” (alguns dizem até que esse título se deve a ele), devido à sua grande afinidade com Greg Lake, existente desde os tempos de Crimson.
É importante ressaltar que a distribuição do álbum ficou a cargo da Manticore Worlwide que fez um excelente trabalho de divulgação para o grupo, com vários shows e eventos importantes. Por conta disso, tivemos nos anos 90, uma belíssima homenagem da banda húngara After Crying para com o ELP através da música “Arrival OF Manticore”.
Considero “Brain Salad Surgery” o segundo melhor trabalho do grupo, perdendo apenas para o primeiro que é absolutamente inigualável – “Emerson, Lake And Palmer”.
Abraços.
Gibran Felippe |
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