Extremamente bom, um clássico ro rock progressivo
No ano de 1984, após o término do legendário Pink Floyd, o principal nome do grupo, Roger Waters, lançou “The Pros And Cons Of Hitch Hiking”. Um trabalho que desperta controvérsias, já que muitos afirmam ser apenas uma continuação das idéias anteriores contidas no último trabalho do Pink Floyd – “The Final Cut”, sendo, portanto uma mera repetição sem muito a acrescentar.
De fato, existe uma similaridade em ambos, quer sejam pelos simples acordes, quer sejam pelo desenvolvimento musical proposto, equilibrado entre suavidade e explosões entrecortantes na força vocal e emocional de Waters. A diferença básica é que “The Final Cut” aborda tão cruamente a temática da Segunda Guerra Mundial e “Pros And Cons Of Hitch Hiking” se volta mais para os relacionamentos.
É fundamental entender e aceitar que “Pros And Cons Of Hitch Hiking” é acima de qualquer coisa um trabalho solo de Roger Waters, com todas as particularidades inerentes de sua musicalidade, não é uma obra estrita para os fãs do Pink Floyd, logo é necessário ter sabedoria para desassociar uma coisa da outra, dessa feita é possível nos depararmos com grandes momentos nessa peça engendrada por Waters, sendo mais profunda, mais melancólica, mais onírica e por fim, mais poética que “The Final Cut”.
Muitos entendem que “The Final Cut” foi concebido com a idéia de ser um álbum duplo, assim como o “The Wall”, contando também com as músicas de “The Pros And Cons Of Hitch Hiking”, o que de certa forma não creio, pois um ainda que realizado de forma turbulenta é uma autêntica obra do Floyd, também composta pelo gênio criativo do Gilmour, enquanto o outro é Waters e seus belos convivas: Eric Clapton(guitarras), David Sanborn(sax) e o magistral Michael Kamen(pianos).
“The Pros And Cons Of Hitch Hiking” segue uma cronologia que pode ser interpretada como a seqüência da própria vida em que pegamos carona nesse mundo imprevisível e surreal, com os mais estranhos personagens e por conta disso, tentamos sempre uma viagem para mais longe, para o desconhecido, para o exterior em busca de alegrias e paz, fugindo de tudo que nos cerca. As letras do Waters recheadas por uma ilusão desconcertante, metaforizam essa idéia, bem como sua interpretação emocionante ao longo de todo o trabalho.
A primeira música “Apparently They Were Travelling Abroad” é a enunciação da viagem onírica, sussurrada nas belas guitarras de Eric Clapton que se combinam com perfeição com os violões e voz de Waters, que ainda traz a bagagem folk como um camponês carregando o seu tarro de leite.
“Running Shoes” é a explosão sonora que tanto caracteriza a música de Roger Waters, com o sax rasgando a alma, de uma riqueza de detalhes incrível e culminando com os backing vocals femininos arrebentando, algo que Waters sabe utilizar como poucos e com grande maestria.
“Arabs With Knives And West German Skies” é a composição mais onírica do álbum, com narrativas teatrais, tendo a presença de atores profissionais e até mesmo a figura sempre forte do grande Jack Palance.
“For The First Time Today Part 2” possui uma melodia arrebatadora e com um Eric Clapton inspirado, arrematando o seu solo em conjunto com a entrada do sax matador em “Sexual Revolution”.
“The Remains Of Your Love” retoma o tema inicial e para aqueles que curtem a música “Mother” é um prato cheio, com belos backing vocals e um teclado muito bonito ao fundo em dueto com os extraordinários pianos de Michael Kamen, dando um show à parte.
Esse piano segue dando as cartas, com uma suavidade e beleza irretocável em “Go Fishing”. Na minha opinião a música mais bela de todo o álbum, aqui contamos com os vocais mais agressivos numa perfeita sincronia com os momentos delicados, onde se nota claramente que Waters acima de vocalista é na realidade um intérprete dos seus próprios devaneios.
A seguinte é outra que retoma ao tema inicial, sendo mais uma oportunidade de duetos entre os sintetizadores e a guitarra de Clapton.
A música tema “The Pros And Cons Of Hitchhiking” possui aquela acentuação pop na medida exata, que com certeza agrada a todos, ou seja, os fãs do Floyd, do Gilmour e obviamente do próprio Waters. É a música mais floydiana e com destaques para as guitarras e backing vocals, aliás, que primazia de backing vocals, algo de arrepiar. Acredito que se Waters não fosse tão arredio, essa música com certeza estouraria nas rádios do mundo afora, assim como “Time”, “Wish You Were Here” entre outras do Pink Floyd.
Terminamos com um anticlímax, após a euforia da música anterior com a belíssima e melancólica “The Moment Of Clarity”.
É inegável que Roger Waters, com esse trabalho conceitual, agrada aos seus admiradores natos, nesse primeiro trabalho solo, não deixando dúvidas quando à validade de sua música e poesia que ainda pulsam aqui com muita vitalidade. No meu caso particular, sempre que posso não deixo de pegar uma carona nas asas sonoras desse gênio.
Abraços.
Gibran Felippe |
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