Discoteca básica, fundamental
Um dos mais sublimes sopros do rock progressivo alemão pode ser encontrado nesse exemplar do Eloy. Nesse trabalho liderado por Frank Bornemann, a banda definitivamente passou a ter sua luz própria, sacramentando de vez o exuberante resultado já alcançado no álbum anterior. A única alteração na formação, ocorreu no baixo, com a entrada do músico Luitjen Jansen que manteve a mesma excelência do anterior.
Entre inúmeras virtudes, considero "Floating" como sendo a maior performance em estúdio no que tange as guitarras de Frank Bornemman, diria que essa fera nesse trabalho tocou de forma arrebatadora, desde as variáveis em dedilhados, passando por bases extremamente criativas, empolgantes e solos fantásticos.
Esse álbum traz uma grande dose de variações rítmicas e através de um palimpsesto muito bem feito sobre o trabalho anterior, a banda novamente enveredou pelas fileiras do hard progressivo, porém dessa vez com diversas jam sessions incidentais em praticamente todas as músicas, mais notadamente em "The Light From Deep Darkness" e na deslumbrante "Plastic Girl". Acrescentam-se como ingredientes a esse tempero, altas doses de space e momentos psicodélicos exuberantes, que na medida exata traz o anticlímax necessário aos
arranjos progressivos do grupo.
O trabalho de capa também deve ser citado, segue a linha space a cargo do excelente artista francês Jacques Wyrs, famoso por desenvolver a concepção artística de alguns álbuns do mago alemão Klaus Schulze.
A introdução do "Floating" já apresenta de cara, sem muitos rodeios o poder sonoro do grupo, a música é tão intensa que dificilmente pensa-se em outra coisa durante a sua execução que não seja entoar junto com Bornemann o coro: "ô-ôô-ôôôô , ô-ôô-ôôôô...". Uma curiosidade interessante na segunda música - "The Light From Deep Darkness" - encontramos na base dos teclados de Wieczorke, onde posso citar como maior influência o hammond dos The Doors, impressionante a similaridade, aliás, consigo notar ecos do The Doors ao longo de todo "Floating", excetuando-se os momentos psicodélicos, é claro, onde a banda impõe toda sua personalidade, "Castle In The Air" não me deixa mentir, a primazia do Eloy em estado bruto, Frank Bornemman só falta fazer chover nessa música e também não posso esquecer a batera fenomenal do mestre Fritz Randow, com uma levada super variada e quebrada.
Depois do verdadeiro êxtase com "Castle In The Air", desaguamos numa das mais brilhantes composições do grupo, a magistral "Plastic Girl", uma crítica contundente a esse mundo falso em que os valores morais são deixados em segundo plano diante da superficialidade de atitudes, onde o que é mostrado por fora, vale muito mais que os valores internos de cada um, os sentimentos são fúteis e a falta de cultura é latente. A decepção fica clara quando se imagina ter encontrado alguém diferente, mas que conhecendo melhor, chega-se à conclusão que também vive num mundo de "plástico", totalmente superficial. Isso num tempo em que a cultura e a sabedoria eram muito mais valorizadas que nos tempos atuais de televisão a toda prova,
realities shows bizarros e consumismo desvairado, se "Plastic Girl" tivesse sido escrita hoje, difícil seria mensurar a decepção que já era grande trinta anos atrás. Quanto à sonoridade em si, segue o tom de melancolia das letras, com um arranjo pungente e sentimental, possuindo um solo de guitarra maravilhoso no meio da música, com passagens instrumentais vibrantes, servindo como antítese e força à alusão depressiva dos vocais.
O álbum culmina com a genial "Madhouse" que apresenta em seus versos um verdadeiro panorama do que a banda vivia naqueles tempos e milhares de outras também, um retrato fiel de uma geração extremamente criativa: "Musicians make their music, smoke, make love...". Felizes daqueles que puderam freqüentar uma autêntica
"madhouse" nos tempos de juventude!
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