Fantástico, vai rolar direto no meu som
Inicio dizendo que um dos grandes celeiros do rock progressivo nacional reside no Rio Grande Do Sul, trazendo à tona bandas como Apocalypse e os trabalhos solos do Eloy Fritsch, Index, o próprio Poços E Nuvens entre outras.
O trabalho sobre qual relatarei aqui é o ?Província Universo?, segundo álbum do Poços E Nuvens, sucedendo o aclamado ?Ano Veloz Outono Adentro?. É interessante notar que o Poços E Nuvens é uma banda muito admirada pelos estrangeiros, porém nem tanto no Brasil. Recordo-me que no RARF 2001 muitas pessoas não gostaram do show por conta dos vocais, em que pese o Gerson não ser um vocalista de mão cheia, também acredito que se deve um pouco de complacência nesse quesito, pois a qualidade sonora do grupo é fantástica. Ainda diria que o Gerson, na condição de vocalista tem um timbre semelhante ao mineiro Lô Borges(que também não é um super vocalista, mas é admirado pela qualidade de suas composições acima de tudo). E vou mais além, acho que os vocais de Gerson e também do Edgar se prestam adequadamente à sonoridade do grupo.
Esse álbum ?Província Universo? representa um projeto mais exuberante e ambicioso se comparado ao primeiro trabalho do grupo, com composições mais complexas com vários elementos de música clássica, sem dúvida pode ser enquadrado como uma obra de prog sinfônica, mas sem abrir mão de todos os elementos do rock, inclusive com peso nas guitarras em diversos momentos. Acredito que o grande diferencial dessa obra para a anterior reside justamente nos teclados que estão muito mais ousados e criativos, perdendo completamente a timidez e aliando-se com desenvoltura aos violões e violino. Seguem as músicas:
A primeira música que dá nome ao cd ? ?Província Universo? é uma poesia do Gerson e já apresenta o ideal filosófico do grupo em compartilhar a natureza com os caminhos da vida, sempre aludindo ao fértil interior gaúcho, pois a banda possui uma grande acentuação regional que deve emocionar fortemente os gaúchos, sem, no entanto, fugir de um contexto nacional e até mesmo universal.
?Copla? é rock progressivo genuíno, composta pelo Edgar e com destaques para os duetos de guitarra e violino, em que lembra muito outra maravilhosa banda nacional ? Quaterna Réquiem ? nas letras mais uma vez o ideal bucólico do grupo, residindo nas paisagens sulistas ? ?vento gelado na pele morna /atravesso o céu na noite escura do pampa? ? ?através da bruma meu olho inventa o vazio e inventa um sentido pro meu chimarrão?.
Em ?Vindima e Ventania?, ?Inverno? e também em ?Vega? a banda já segue uma direção mais arrojada, com passagens fortes nos teclados e flautas, lembrando muito um clássico nacional ? ?Depois Do Fim? do Bacamarte, ?Vindima e Ventania? é uma das melhores músicas do cd, muito bem trabalhada e com um arranjo muito peculiar ao grupo.
Na seqüência temos a música ?No Inverno? que funciona perfeitamente com um anticlímax, através de fraseados melancólicos no teclado entrelaça o sul com outros cantos do planeta, sempre fazendo alusão ao frio do sul, onde mesmo se dando conta de tantos lugares interessantes, Tibet, Nova Dhéli, Pequim, Máli, Paris, a bússola sempre aponta para as geadas do sul.
?Neblina? é uma composição simples, que mostra a suavidade do grupo.
Nas músicas ?Canção? e ?Poços E Nuvens? é onde estão as maiores semelhanças com os trabalhos dos mineiros do ?O Terço?, com predominância de violões e teclados ao fundo, sem falar que os vocais também lembram um pouco o Venturini. Vale ressaltar que em ?Poços e Nuvens? os violinos estão pra matar, revezando com as guitarras, grande música!
O cd se encerra com ?Universo Província?, outra poesia do Gérson se contrapondo à música inicial ?Província Universo?.
Na minha opinião esse cd representa a afirmação do estilo musical do grupo e tem tudo pra agradar aos amantes do bom prog sinfônico e principalmente àqueles que curtem Bacamarte, Quaterna Réquiem e O Terço, que são as principais referências
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