Camel - Snow Goose - Progbrasil

Camel

Inglaterra




Titulo: Snow Goose
Ano de Lançamento: 1975
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Demetrio em 26/08/06 Nota: 10.0

 

Discoteca básica, fundamental

The Snow Goose é um dos discos da fase áurea setentista do CAMEL, uma das bandas mais seminais do rock progressivo inglês e que contava, em seus quatro primeiros discos, com sua formação classica. Trata-se de um disco conceitual, completamente instrumental (bem entendido, sem letras, mas eventualmente com vocais), inspirado em um pequeno livro, de mesmo título, de autoria de Paul Gallico (ver Informações Adicionais).

The Great Marsh inicia o disco no modo fade-in, numa música bem curta (2 minutos apenas) construída com base em teclado e coro de vozes cantando de uma forma bastante etérea, meio fantasmagórica, parecendo representar um alvorecer do dia na praia, com sons de gaivotas e outros pássaros marinhos cantando ao longe, culminando num rápido crescendo de teclado ao final, fluindo diretamente para a música seguinte, Rhayader (faixa 2), esta já bem mais ritmada, no estilo típico do Camel, começando com piano e flauta e em seguida complementada com os demais instrumentos, mas mantendo até o final a forte presença de flauta e teclados, passando-nos a impressão de que, mesmo na solidão de seu farol, Rhayader está de certa forma feliz com o modo de vida que ele próprio escolheu.

Rhayader Goes to Town (faixa 3) marca o momento em que Rhayader vai à cidade e os habitantes locais reagem friamente à sua presença. Ele, entretanto, não se deixa abater, e o que esta faixa deixa transparecer é exatamente essa atitude altiva de Rhayader enquanto na cidade, através de uma música bem alto-astral realmente, alternando momentos bem rock com passagens mais lentas, onde brilha a inconfundível guitarra de Latimer.

Sanctuary (faixa 4) traz de volta calmaria ao disco, numa música bem curta e suave construída apenas com base em guitarra acústica e elétrica e que flui suavemente para a música seguinte, Fritha (faixa 5), que mantém a mesma atmosfera calma da faixa anterior, agora com violão, flauta e teclado. The Snow Goose (faixa 6) se refere exatamente à gansa-das-neves trazida ferida por Fritha a Rhayader, e é uma música belíssima, profundamente melódica, apresentando um solo de guitarra de Latimer que é de encher a alma, além de excelentes intervenções de teclados, baixo e bateria. Com toda certeza uma das melhores faixas deste excelente disco.

Na seqüência temos Friendship (faixa 7), outra música curta construída com base apenas em sons de fagote, oboé e talvez outros dois ou três instrumentos orquestrais do gênero. Esta música flui diretamente para a jazzística Migration (faixa 8), marcando o momento em que a gansa, já totalmente recuperada e seguindo seus instintos naturais de migração para o Norte, alça vôo em direção ao seu destino. Uma música bastante ritmada também, com forte presença de bateria, baixo, teclado e vocais (sem letras).

Rhayader Alone (faixa 9) descreve com toda perfeição possível a tristeza de Rhayader diante da solidão motivada pela partida de Fritha e La Princesse Perdue, com piano, guitarra e um baixo bem suave fazendo a base musical dessa bonita faixa.

Assim como na faixa de abertura do disco, Flight of the Snow Goose (faixa 10) entra em fade-in, anunciando o regresso da gansa ao santuário e com ela também a doce presença da amiga Fritha, o que significa a volta de alegria ao lugar. Uma música realmente alegre, feliz, com forte presença de guitarra, baixo, bateria e teclados.

Preparation (faixa 11) traz de volta a melancolia ao disco, numa música construída sobre efeitos de teclados, baixo, flauta e vozes femininas num coro meio que fantasmagórico, como que antevendo os perigos inerentes à heróica missão a que Rhayader se propôs, qual seja, a de ajudar no resgate de soldados ingleses encurralados sob fogo inimigo nas praias francesas de Dunkirk, exatamente o título da faixa seguinte (12), uma das mais longas do álbum, começando com órgão e baixo acompanhados de uma batida de bateria em estilo tipicamente marcial, com eventuais intervenções de guitarra e metais, culminando em seguida num ritmo extremamente tenso e veloz, com solos arrasadores de guitarra e teclados e marcações frenéticas de baixo e bateria representando o medo, a tensão e os horrores da guerra.

Epitaph (faixa 13) anuncia a morte de Rhayader, sendo musicalmente uma espécie de continuação da faixa 11 (Preparation), com a melancolia de sinos de igreja badalando ao longe e um clima bastante sombrio, meio cósmico, proporcionado por teclados, como que indicando que a alma de Rhayader se foi.

Fritha Alone (faixa 14), como o título sugere, é uma música triste, melancólica, basicamente piano. A melodia é uma espécie de continuação da faixa 5 (Fritha), aqui representando a angustiante espera por Rhayader.

La Princesse Perdue (faixa 15) marca o momento em que Fritha pressente que Rhayader sucumbiu ao fogo inimigo e tem a certeza disso ao ver La Princesse Perdue retornar sozinha. Esta é uma música que transborda emoção em cada nota, começando com belíssimo trabalho de violinos, em seguida teclados, culminando então com solos de guitarra de encherem o coração da gente. É por solos como estes que eu admiro tanto o Andy Latimer, que o coloco como o meu guitarrista predileto dentre tantos guitarristas sensacionais que existem no universo progressivo.

O álbum termina exatamente como iniciou, com uma reprise da música The Great Marsh, só que agora terminando em fade-out (e não iniciando em fade-in) e apresentando uma atmosfera mais melancólica que a versão da abertura, parecendo transmitir um sombrio cair da noite, envolto pela tristeza da destruição do lugar, diferentemente da faixa inicial que parecia reproduzir o alvorecer.

Assim como acontece com algumas obras clássicas, neste disco também encontramos diversas músicas com melodias reprisadas ao longo da obra. "Fritha", por exemplo, tem sua melodia reprisada em "Fritha Alone", "Rhayader" em "Rhayader Alone", "The Flight of the Snow Goose" em "La Princesse Perdue", "Preparation" e "Epitaph" têm em comum alguns elementos também, "The Great Marsh I" & "The Great Marsh II" idem, dentre as que me ocorrem no momento.

Um disco belíssimo, que mesmo se tratando de um álbum totalmente instrumental, consegue transmitir ao ouvinte todas as emoções envolvidas no enredo proposto, passando da alegria de um momento especial para a profunda melancolia do momento seguinte de uma forma que você consegue efetivamente sentir essa mudança também, mesmo sem estar acompanhando a seqüência das músicas.
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