Discoteca básica, fundamental
Esse vídeo pode ser considerado como o registro mais espetacular, original e desconcertante da história do rock. Produzido em 1971, "Live At Pompeii" mistura história, geografia, música de vanguarda, idéias visionárias, psicodelismo e quatro personagens lendários(Roger Waters: baixo, David Gilmour:guitarras, Rick Wrigth: teclados e Nick Mason: bateria) que atendem pelo nome de Pink Floyd.
A produção dessa obra é franco-belga, dirigida por Adrian Maben e apresenta, além do show nas ruínas de Pompéia, uma série de entrevistas durante as gravações do maior épico do grupo: "Dark Side Of The Moon". Vale destacar aqui as palavras de Gilmour quando indagado sobre a quantidade de recursos tecnológicos e equipamentos inseridos na musicalidade do Floyd: "são extensões daquilo que sai de nossas cabeças, tem que ter tudo dentro da mente para poder colocar pra fora, o equipamento nunca pensa no que deve fazer, no próximo passo. Não pode se controlar sozinho". Aliado a essas palavras temos a imagem do
processo criativo de Roger Waters, invalidando por completo a idéia de que o Floyd sem aqueles recursos não seriam capazes de elaborar a sua musicalidade excelente.
Nos extras temos uma entrevista com Adrian Maben, interessante notar que sua idéia original era justamente realizar um evento que fosse a antítese de mega shows que estavam ocorrendo naquela ocasião, ou seja, o rock não poderia ser sinônimo somente de Woodstock. Havia uma outra ala, mais introspectiva, mais preocupada com a música do que propriamente com o evento em si, uma ala muito mais inventiva, que fugia completamente do lugar comum, dos refrões básicos e do rock convencional, com músicas longas, arranjos complexos e a sua percepção de convidar os jovens do Pink Floyd, mesmo antes da banda se tornar uma lenda, foi admirável e profética. Já que, após "Live At Pompeii", a banda emplacaria o maior fenômeno de todos os tempos - "Dark Side Of The Moon".
O tema inicial é nada mais, nada menos que "Echoes". A mais incrível composição do Floyd e nada poderia superar a abertura desse vídeo com essa música. A visão do anfiteatro completamente deserto, apenas com os músicos e o staff é completamente inolvidável. O teclado inicial funciona como um convite para algo de sublime e os vocais de Gilmour e Wright estão simplesmente inebriantes. Destaque para o solo de David Gilmour, com a imagem do guitarrista picotada em diversos quadros, simplesmente magnífico.
Na seqüência temos "Careful With That Axe Eugene" e aqui o realce maior recai no Waters que executa durante toda a música uma linha de baixo super quebrada e ao mesmo tempo harmônica com os seus vocais murmurantes em tons agressivos com o despertar do famoso grito. A versão dessa música registrada no vídeo é bem diferente da conhecida em estúdio.
"A Saucerful Of Secrets" apresenta uma execução que deve ter impressionado muita gente nos idos de 71. Junto ao sol escaldante das ruínas, temos um Gilmour e Wrigth com as faces queimadas em meio a muita poeira. A introdução é algo de lunática, ritmos descompassados e psicodélicos, ao fundo uma percussão marcante de Waters. Wrigth segue a orgia musical dando a impressão de que a qualquer instante pode quebrar o piano e a bateria dessa composição pode ser considerada como um dos melhores momentos de Mason na banda, através de um ostinato absurdo com a utilização de praticamente todas as caixas. Quando se imagina que vamos chegar à apoteose do delírio... a música finda num dos momentos mais sinfônicos da carreira do grupo, com um teclado perfeito e a bela voz de Gilmour num grito que mais parece um sopro de devoção.
Nesse show, pode-se dizer que as performances de Wrigth e Mason atingiram o auge, com uma inspiração única e intensa, formando uma cozinha que com o passar dos anos ficava claro que eles não conseguiam mais fazer a contento, tanto em estúdio quanto em shows, fato que só exacerbava ainda mais a genialidade do par central: Waters e Gilmour.
"Live At Pompeii" finda novamente com "Echoes", em sua segunda parte. Ao término dessas filmagens já não estávamos mais diante de um show, diante de músicos, diante de imagens, diante de equipamentos... estávamos diante de uma lenda, a maior que o rock concebeu e tão elevado quanto o vôo do albatroz diria que o Floyd de "Live At Pompeii" soa como um eco de um tempo distante, magnífico e glorioso! |
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