Extremamente bom, um clássico ro rock progressivo
O grupo inglês Iona deve sua origem à iniciativa de dois músicos, David Fitzgerald e Dave Brainbridge, os quais decidiram formar uma banda com forte inspiração na música cristã das ilhas britânicas depois que David retornou fascinado de uma viagem que fez, em 1988, à pequena ilha de Iona, na costa oeste da Escócia, sede de um antigo monastério com profundo significado na história do cristianismo daquele país (e que também serviu de inspiração para o nome de
batismo da banda). Com a entrada, algum tempo depois, da vocalista e tecladista Joanne Hogg, estava constituído o núcleo básico inicial do grupo, responsável (juntamente com novos músicos que também ingressariam a partir de então) pelos dois primeiros discos da banda.
Beyond These Shores, terceiro trabalho do grupo (lançado em 1993), é inspirado na mítica viagem do monge irlandês St. Brendan através do Oceano Atlântico, séculos antes da expedição comandada por Cristóvão Colombo, durante a qual veio ele a descobrir terras exóticas e desconhecidas, conforme descrições contidas em um escrito antigo intitulado Navigatio Sancti Brendani, sendo-lhe por muitos atribuída a descoberta do Novo Mundo. Neste disco o grupo já não conta mais
com o membro fundador David Fitzgerald, o qual deixara a banda, um ano antes, a fim de dedicar-se integralmente ao seu curso de graduação em música, sendo o line-up aqui constituído por Joanne Hogg (vocais, teclados, guitarra acústica), Dave Brainbridge (guitarras, piano, teclados), Mike Haughton (sax, flauta, whistles, vocais), Nick Beggs (Chapman stick, baixo) e Terl Bryant (bateria,
percussão), contando ainda com a ilustre participação do guitarrista Robert Fripp (King Crimson) e de outros músicos convidados, dentre os quais Troy Donockley (gaita-de-foles, E-bow guitar, whistles), Petter Whitfield (violinos, viola), Frank Van Essen (violino), Debbie Brainbridge (oboé), Fiona Davidson (harpa celta) e de um grupo de cordas.
A exemplo de outros trabalhos do Iona, este também apresenta um misto bastante interessante de pop, folk-rock e progressivo à la Clannad em algumas faixas (como em "Treasure", "Brendan's Voyage", "Edge of the World", "Today", "Beachy Head" e "Brendan's Return") e de paisagens sonoras etéreas e viajantes proporcionadas por violinos, flautas, sax e teclados em outras (como em "Prayer on the Mountain", "View of the Islands", "Bird of Heaven", "Adrift", "Machrie Moor" e "Beyond These Shores"), além de belíssimas intervenções de instrumentação típica como harpa celta, gaita-de-foles e whistles ao longo de todo o álbum. As músicas, com sua atmosfera toda peculiar, têm a incrível capacidade de nos evocar paisagens imaginárias perfeitamente condizentes com o tema em questão. Dentre as melhores faixas do disco, eu destacaria com especial ênfase a instrumental "Machrie Moor" e a emotiva faixa título, a última do disco, na minha opinião uma das músicas mais bonitas já feitas pelo Iona.
Beyond These Shores é um disco que eu particularmente colocaria numa faixa intermediária entre muito bom e excelente, na verdade um disco quase tão magnífico quanto seu predecessor, The Book of Kells (1992). Só a faixa título, na minha opinião, justifica por si só a aquisição deste trabalho, pois é realmente belíssima. Mas o melhor do Iona ainda estava por vir, na forma do disco subseqüente a este, o extraordinário Journey Into the Morn, de 1995 (também contando com a ilustre participação do Robert Fripp). |
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