Camel - Rajaz - Progbrasil

Camel

Inglaterra




Titulo: Rajaz
Ano de Lançamento: 1999
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Demetrio em 25/02/07 Nota: 9.0

 

Extremamente bom, um clássico ro rock progressivo

O deserto, lugar de solidão e mistérios, por onde há milhares de anos caravanas vêm e vão, sempre caminhando no mesmo ritmo e compasso: o ritmo e compasso do camelo. Em tempos remotos, versos cantados na cadência desses passos ajudavam a estimular caravanas a superarem a longa e extenuante jornada através do deserto e atingirem seu destino final. A essa forma peculiar de poesia dava-se o nome de "Rajaz", ou seja, "o ritmo do camelo".

Sob a inspiração desse tema mágico da solidão do deserto e seus mistérios, o Camel (grupo seminal do rock progressivo inglês, responsável por autênticas pérolas progressivas ao longo dos últimos trinta anos, tais como Mirage, The Snow Goose, Moonmadness, etc.) chega ao seu 13º trabalho de estúdio contando apenas com o guitarrista Andrew Latimer da formação original. Neste disco,
lançado em 1999, Latimer responde pelos vocais, guitarras, flauta, teclados e percussão, contando com a colaboração dos músicos convidados Colin Bass (baixo), Tom Scherpenzeel (teclados), Dave Stewart (bateria, percussão) e Barry Phillips (violoncelo).

O disco abre com a instrumental "Three Wishes", uma faixa com introdução meio floydiana (à la "Shine on You Crazy Diamond"), evoluindo em seguida para variações canterburianas muito interessantes, bem nas características habituais do Camel, com ótima presença de guitarra e teclados (algumas reminiscências de álbuns como Mirage, Moonmadness e Breathless podem ser aqui identificadas),
além de algumas levadas flamencas em uma determinada passagem também.

"Lost and Found" (faixa 2), a primeira do disco com vocais, apresenta interessantes variações rítmicas em seu andamento, com o habitual brilhantismo dos solos de guitarra do Latimer e uma ótima presença de teclados (me lembrei de "Lady Fantasy" ouvindo esta música).

"The Final Encore" (faixa 3) começa com uma parte instrumental bem prolongada, num tom bastante soturno e misterioso proporcionado por teclado, riffs de guitarra e uma batida marcante e cadenciada (como a cadência dos passos de um camelo). Mesmo após a entrada da parte vocal, a música prossegue no mesmo ritmo cadenciado inicial, apresentando excelentes intervenções de guitarra e teclados ao longo de seu desenvolvimento, além de algumas reminiscências de música
árabe em uma determinada passagem. Uma música bastante exótica, que nos evoca a imagem mental de uma caravana através da vastidão de um grande deserto, ao "ritmo do camelo".

"Rajaz" (faixa 4) apresenta uma introdução semi-acústica, com ótima presença de violoncelo e flauta, evoluindo em seguida para algumas levadas blueseiras nos riffs de guitarra do Latimer.

Sinceramente achei a faixa 5, "Shout", um pouco inferior ao restante do álbum, mas ainda assim é uma boa faixa (certamente bem melhor do que a média contida, por exemplo, no álbum The Single Factor, de 1982).

As três últimas faixas do disco são excelentes: "Straight to my Heart" (faixa 6), com algumas levadas blueseiras, a instrumental "Sahara" (faixa 7), com suas deliciosas reminiscências jazzísticas e inspirados solos do Latimer, e finalmente a faixa de encerramento do álbum, a belíssima "Lawrence", uma música que nos evoca em determinadas passagens a doce melancolia de clássicos de
outrora como "Ice" e que parece capturar com perfeita precisão o sentimento de alguém sozinho no deserto ao fim do dia.

Este é mais um disco dentro das características atuais do Camel, notadamente no que concerne à incrível capacidade do Latimer de criar melodias belíssimas e arrebatadoras e letras de intensa carga emocional (salientando que, das oito faixas do disco, quatro são de autoria do Latimer sozinho e as outras quatro co-escritas por sua esposa Susan Hoover). Dentre as músicas prediletas, eu destacaria com especial ênfase as belíssimas "Three Wishes", "The Final
Encore", "Sahara" e "Lawrence".

A capa do disco é muito bonita e bastante simbólica, com a figura de uma caravana de camelos caminhando ao longo das dunas de um deserto, cujo desenho parece representar as cordas sinuosas de uma guitarra.

Uma curiosidade: como o Ton Scherpenzeel não gosta de viajar de avião, e tendo em vista que o estúdio da Camel Productions fica localizado nos Estados Unidos, ele contribuiu com este trabalho à distância, gravando seu material em seu próprio estúdio, na Holanda, e enviando-o para o Latimer via Internet, método este que permitiu toda a troca necessária de informações entre os dois.
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