Fantástico, vai rolar direto no meu som
Um forte, pulsante, e viajante som pesado. Algo entre o hard rock que estava nascendo naqueles idos de 1968, o característico rock com pitadas pop e psicodélicas da mesma época, uma pitada de space rock e outra de proto-progressivo. Este, resumindo bem, era o som do Deep Purple nos seus primeiros dias, quando ainda contava com Rod Evans nos vocais e Nick Simper no baixo, e tinha o tecladista Jon Lord na liderança da banda.
Esta formação durou pouquíssimo tempo, passando menos de 2 anos junta. Mas esse tempo foi suficiente para deixar 3 álbuns de estúdio, e mais alguns compactos com material extra, bem como apresentações em programas de rádio. Bastante material, um rico legado de uma fase que é bastante subestimada da banda, mas que tinha alguns requintes que a mesma não voltaria mais a mostrar : o gosto pelos temas instrumentais construídos (e não improvisados, como tanto fizeram as formações seguintes da banda nos anos 70); as inclinações eruditas – que fazem muita gente apontar o grupo como um dos pais do rock progressivo; a cozinha mais contida de Ian Paice e Nick Simper – que deixava o som mais limpo dava mais destaque para os vôos de Rithie Blackmore e Jon Lord; e por fim, a "cara" de anos 60 que só essa formação da banda tinha, e que continua a fascinar muita gente até os dias atuais.
Este álbum trata-se de uma caprichada coletânea desta fase do grupo. Abre com a excelente instrumental And the Address (pérola esquecida) e o classicão Hush, ambas remixadas, com o som um pouco mais limpo. E segue com a versão original de Mandrake Root e I'm So Glad, onde ganham destaque os vôos instrumentais de Jon e Ritchie, em faixas que passam dos 7 minutos de duração. A primeira parte do álbum se encerra com a pouco conhecida – e ótima - versão da banda para Hey Joe (clássico imortalizado na voz e guitarra de Jimi Hendrix), também remixada e com o som um pouco mais limpo.
As próximas músicas são de Book of Taliesyn. Um take alternativo de Kentucky Woman - que não acresenta muita novidade em relação ao original, seguido da versão original da esquisita (e na opinião deste resenhistam fraca) Listen, Learn, Read On. Destacam-se mesmo são as faixas seguintes : Shield, uma gravação de Wring That Neck para a rádio BBC, e Anthem – a primeira gravação onde o grupo mergulha de cabeça no sinfônico, com direito a um belo arranjo de cordas, além da rara presença de um mellotron (um dos únicos registros deste instrumento numa gravação do Deep Purple). 3 excelentes músicas, onde aparece não só a competência instrumental da banda, mas também as qualidades de Rod Evans como cantor – principalmente em Anthem.
O álbum se encerra com 4 canções que fizeram parte do último – e melhor – disco desta formação : Deep Purple, de 1969. Abre com a fraca Bird Hás Flown – que a despeito de ser a pior música do referido disco, foi lançada em um single que teve boa repercução, se tornando então a mais conhecida música do disco. Mas as 3 seguintes são bem melhores : Blind (comandada por Jon num cravo, uma música interessantíssima, numa abordagem que a banda nunca mais voltaria a utilizar), Why Didn't Rosemary (um contagiante rockão, com belo vocal – e boa letra – de Evans, além de ótimos solos de Jon e Ritchie em seus instrumentos), e uma versão instrumental da balada Lalena, que fecha o cd.
The Early Years foi lançado no Brasil, e se constitui numa bela porta de entrada para a primeira formação do Deep Purple. Mas também é uma bela peça para os colecionadores, dado o seu rico encarte, cheio de informações e depoimentos dos músicos. |
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