Discoteca básica, fundamental
Tangerine Dream ao vivo sempre significou sinônimo de grandes espetáculos, a visão do trio conduzindo aquela imensidão de teclados e outros instrumentos ficará marcada para sempre no imaginário coletivo daqueles que são admiradores da música eletrônica de excelência e esse cd duplo lançado pela "The Bootmoon Series" em 2006, não decepciona e nem foge à regra, vale ouro puro meus amigos e com uma qualidade de mixagem excelente.
O ano de 1986 foi proeminente na carreira da banda, que contava na ocasião com a dupla central Edgar Froese(teclados, piano e guitarras) e Chris Franke(sintetizadores), aqui acompanhados pelo genial Paul Haslinger(órgão, piano e guitarras) e que tempos maravilhosos foram aqueles, como o próprio encarte do cd descreve. Esse alemães que representavam a grande urze do progressivo eletrônico mundial estavam em turnê pela América, brindando o público americano e canadense com uma série de concertos antológicos, decorrentes de uma grande produção em estúdio concebida nesse ano, tais como "Green Desert" e "Legend", entretanto o grande petardo que representava essa turnê era o trabalho de estúdio que contava com a participação de Haslinger – "Underwater Sunlight", um dos melhores disco do grupo nos anos 80 e que não deixa nada a desejar para os grandes clássicos do Tangerine Dream.
O espetáculo se inicia com "Pilots Of Purple Twilight", do álbum "Exit" e trata-se de uma introdução muito bem escolhida, com o seqüencial de sintetizadores tomando forma aos poucos, como numa onda que vem ao longe, até se concretizar por completo, em meio ao turbilhão de efeitos sonoros num segundo plano, desaguando aos cinco minutos de música numa espécie de interlúdio conduzido por percussão eletrônica e um teclado com notas suaves, produzindo a deixa para o clássico absoluto – "Stratosfear '86". Essa versão está absolutamente arrebatadora, executada com muito feeling e o destaque se impõe pela grande semelhança que a banda a executa de acordo com a versão original,
entretanto de forma mais lenta e com amplitudes de notas menos extensas, passando a impressão de que as notas principais da música estão sendo executadas por um piano(provavelmente Froese) e ao fundo a percussão eletrônica idêntica à versão de estúdio, mérito todo de Chris Franke.
Ainda no primeiro cd temos uma versão contagiante de "Zen Garden", música do pouco badalado, mas que muito me agrada "Le Parc", bela surpresa, inclusive contando com aqueles vocais bizarros e diversas sonoridades nos sintetizadores, com destaques para as que nos remetem ao timbre de harpa, algo bem característico dessa fase do Tangerine Dream.
Na seqüência temos a primeira música do trabalho que mais empresta composições nesse show – "Scuba Scuba" do irretocável "Underwater Sunlight". À essa altura já posso dizer que esse cd já tinha alcançado um alto nível, com músicas muito diversificas e bem distribuídas ao longo do show.
O segundo cd possui a encantadora e genial "Dolphin Dance", na minha opinião a melhor música do "Underwater Sunlight", já um clássico na carreira do grupo. É fechar os olhos e imaginar o movimento dos golfinhos num vasto oceano azul. Destaque para a utilização das guitarras, dando um tempero todo especial com solos belíssimos e inspirados de Paul Haslinger, que é multi instrumentista e excelente guitarrista, influenciado diretamente a música do trio com suas
incursões de guitarras e como sabemos que o Froese também não descarta completamente as guitarras, o acompanha com grande maestria. Um dos melhores momentos dessa obra, versão incrível!
"Ride On The Way", também do mesmo álbum possui ainda mais incursões de guitarras, aqui já não tenho dúvidas que posso recomendar esse cd ao vivo para aqueles que não arriscam no Tangerine Dream por não curtirem apenas formações eletrônicas de sintetizadores, teclados, órgãos e mellotron, já que o maior tempo dos onze minutos de música são preenchidos genuinamente por solos de guitarras.
O anticlímax surge com "Going West" do álbum "Flashpoint" e aqui não tem pra ninguém, é o que há de melhor em "cama de teclados". Viagem mais que garantida com notas que parecem emanar da própria natureza, sem a intercessão de seres humanos. Aqui o Tangerine Dream toma ares de mágicos sobrepondo a condição de músicos, por um motivo simples, já deixamos de apreciar música e passamos a apreciar magia, pura magia!
Emenda-se com uma música que simplesmente adoro – "Yellowstone Park", do álbum "Le Parc", numa versão que novamente faz uso de guitarras em duelos com os teclados, aqui a percussão eletrônica fica praticamente abandonada e os três músicos arrebentam literalmente nos teclados e guitarras. Outro grande momento do show!
"Underwater Twiligth" encerra as composições do disco "Underwater Sunlight" numa versão mais forte que a de estúdio, com uma percussão mais intensa e notas mais longas e climáticas nos teclados, ladeadas pela força dos sintetizadores de Franke.
Por fim, o espetáculo finda com a belíssima "Unicorn Theme" do trabalho "Legend" que possui uma concepção metafísica, fantástica e onírica, tão comum às obras do Tangerine Dream. Vale destacar que essa obra foi trilha do filme de mesmo nome, que marcou boa parte dos imberbes dos anos 80, inclusive esse que escreve a resenha.
O Tangerine Dream é uma banda especial, dessas que se destacam pela inventividade, pelo grande poder de criação, pelo domínio de sua própria música e ao vivo conseguem, apesar da proeza que possa parecer, um resultado praticamente perfeito que produz admiração nas mais distintas platéias. Vale quanto pesa adquirir algo da banda ao vivo! |
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