Gong - You - Progbrasil

Gong

França
http://www.planetgong.co.uk




Titulo: You
Ano de Lançamento: 1974
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Marcello Rothery em 11/04/07 Nota: 9.5

 

Obra-prima, irretocável

Psicodelia, space-rock, experimentações, e uma história muito doida como pano de fundo. É muito difícil um artista fazer um disco louco como esse sem se perder em alguns momentos. E o Gong conseguiu.

Último capítulo da trilogia Radio Gnome Invisible, que conta a louca jornada de Zero, um anti-herói que consegue viajar para o planeta Gong, um local que não se consegue alcançar por meios convencionais. Além dos músicos citados na ficha técnica, tudo indica que este disco ainda conta com Mr. Bill Bruford nas baquetas (o Pierre toca no lado 1 do vinil, e Bill toca no lado 2 - embora Bill não seja creditado no álbum, várias fontes já confirmaram esta informação).

O título do álbum é um dos seus mistérios, e de certa forma a solução para os mesmos. A sonoridade tem de tudo : além da psicodelia, do space-rock e das inclinações jazzísticas que caracterizavam a banda nessa época, ainda há traços de música eletrônica. Tudo isso regado a muito sax, flauta, teclado, e vocais pouco convencionais.

O encarte do disco conta a história com mais detalhes. As músicas, além das letras, ainda têm textos que meio que explicam os climas criados nas músicas como parte da história. É o tipo de disco que vale muito a pena ter original. Não sei se as versões em cd têm a história toda - o meu exemplar é em vinil.

No encarte, a descrição da história começa com este texto :

"At the end of Radio Gnome 2 (ANGELS EGG) Zero has just come down from a mystical trip to the planet Gong on the other side of the sky to find himself in bed which brings us to
RADIO GNOME 3
YOU"

As três primeiras músicas são minúsculas (juntas, duram apenas 5 minutos), e só preparam o clima :

1. Thought fot Naught começa com a voz do personagem Bloomdido, chamando Zero para uma nova viagem, em direção à "pyramid of life". Ao fundo, Yoni (leia-se Gily Smith e seus "space whispers") começa uma contagem, que parece hipnotizar Zero.

2. A PHP's Advice coloca algumas "pulgas atrás da orelha" de Zero, e muda para um clima espacial após o som do gongo. No encarte, após a letra, há este texto: "Then follows two magickal formulas to relax you into the natural high which this music can bring to you if you want."

3. Magick Mother Invocation é a parte final da introdução, com um mantra cantado po várias vozes.

Só então entram todos os instrumentos, na 4ª música : Master Builder, onde o jazz rola solto com muito sax, e depois, um super solo de guitarra de Steve Hillage. A passagem de um solo para outro é uma das coisas geniais do disco, transforma um tema jazzístico em um rockão viajante cheio de punch. O encarte conta uma historinha (que não aparece na música), e que leva à letra cantada por Daevid Allen no final.

Aí vem a minha música favorita do álbum : A Sprinkling of Clouds. Viagem pura que começa conduzida por excelentes camadas de teclados, com percussão ao fundo. No encarte, a história continua sendo contada, e nela sabemos que, a esta altura, Zero já tem seu castelo construído, algo que ele conseguiu fazer sozinho. E quando a gente acha que a música fica nisso, entra a bateria, mudando o andamento, de uma forma genial. Essa entrada da bateria talvez seja, para mim, O ponto alto do disco, pois se trata de uma mudança de clima totalmente inesperada e incomum, mas que se mostra absolutamente genial, e abre caminho para outra incursão do endiabrado Hillage. Querem mais ? Até mellotron essa música tem!

No fim da história contada no encarte, Zero é orientado a partir em busca da "Isle of Everywhere". O que nos leva ao lado 2 do vinil ...


No encarte, o seguinte texto é encontrado antes de Perfect Mystery, faixa que abre o lado 2 de vinil :

"Clue 1 for mythomaniacs : Bali is everywhere"

A curta Perfect Mystery, de pouco mais de 2 minutos de duração, começa como um rock comum, em contraponto com a viagem total que foram as faixas anteriores. Mas é cheia de pequenas variações, que mesclam jazz e space rock. Brilhante participação de Gili Smith. Uma faixa mais light, se comparada às demais, apesar de várias alternâncias de andamento.

Entramos então em outro dos épicos do álbum : Isle of Everywhere. Porém, antes dela, mais um estranho texto no encarte :

"Clue 2 : Fruitcake earthling pleasures"

Isle of Everywhere, embora seja predominantemente instrumental, possui um texto longo no encarte. E esse texto conta uma história muito intrigante, difícil de decifrar, dividida em 3 partes.

A primeira confirma a aparição do "Octave Doctor", mas ao mesmo tempo, o paradeiro de Zero é ignorado. Ele desapareceu. Interessante é que a história vai sendo contada, e dentro dela estão os grandes solos de sax e guitarra que rolam nessa parte da música. Encerra com um clímax.

A segunda parte começa com uma canção de gnomo cantada pelo saxofonista (Bloomdido), e encerra com uma conversa entre Zero e PHP (mesmo personagem da segunda música deste disco), que encerra com uma constatação de que eles acabaram de perder uma passagem.

A terceira parte, com uma bela melodia, dá a entender que Zero perdeu uma grande chance de encontrar o que ele estava atrás quando veio à ilha de Everywhere. E que agora terá que esperar uma nova oportunidade.

Entra então uma melodia mais agitada. É a virada para a última e maior música do disco : You Never Blow Your Trip Forever. Após essa introdução, a história no encarte se divide em mais 7 partes (embora a melodia permaneça a mesma em algumas delas.

Muito bacana é a conclusão a que se chega no final da 5ª parte, que dá a entender que a moral da história toda pode ser bem mais simples : "You just have to be what you are my friends today ... That's what the Octave Doctor says...". Nessa hora o ouvinte percebe que Allen não está falando com Zero, mas talvez com seu próprio público que ouve o disco.

A história está se encerrando : os habitantes do planeta Gong nos deixam com uma última música. E vêm as duas partes finais : uma com uma única frase repetida várias vezes : "Why don't you try ?". A outra com o mantra final do disco.

Frases finais do encarte :

"GONG IS ONE AND ONE IS YOU

With love to all of the greater family of Gong peoples all over the world of coruse means YOU."

A conclusão final dessa história, para mim, é a seguinte : cada um de nós é um universo (algo por sinal dito, mais ou menos na mesma época, por um certo roqueiro brasileiro). E dentro de nós podem existir experiências incríveis. Cabe a cada um de nós saber canalizar essa imensa força de modo a fazer grandes coisas.

Por tudo isto (a história cheia de enigmas, doideiras, e recados escondidos, mas bonita na sua mensagem final; e a excelente música que rola em todo o disco), considero You um dos melhores discos dos anos 70. Uma obra muito importante, e que só é apreciada em toda a sua plenitude por quem acompanha a história completa do encarte, enquanto o disco rola no som.
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