Ótimo trabalho, disco de cabeceira
Quando penso nesse trabalho do Yes, lembro de imediato da performance do baixo de "On The Silent Wings Of Freedom", de fato excelente. A introdução dessa música é mais uma das peças geniais relativas ao legado do grupo, figurando no mesmo nível das melhores composições do Yes; a bateria meio descompassada de White, os teclados com diversos timbres executados por Wakeman, a base solada de Howe até desembocar no mágico vocal de Anderson prenunciando o plano astral da banda com os versos: "Where I offer myself midst the balancing of the Sun". Seria difícil começar uma resenha sobre o "Tormato" que não fosse pelo fim, afinal de contas, o supra sumo desse trabalho está nessa última música. Aproveito essa deixa para afirmar que é uma das mais injustiçadas nos set lists do grupo, da mesma forma que todas as ótimas canções do "Drama", se bem que nessa segunda assertiva temos a barreira da personalidade forte de Jon Anderson que não participou desse álbum. No caso de "On The Silent Wings Of Freedom" não há justificativas plausíveis para o completo esquecimento. Difícil compreender porque essa grande música ficou totalmente relegada pela banda ao longo dos anos, são raros os concertos em que o grupo a executou.
De qualquer forma, não podemos negar que essa obra teve grandes dificuldades de assimilação por parte do público no tocante ao Yes, a maioria rilha os dentes só em pensar que o mesmo foi concebido em plenos anos 70 e após a obra-prima "Going For The One". "Tormato" foi o primeiro trabalho setentista a ser composto apenas com músicas de curta duração, fato atípico na discografia da banda até então, excetuando-se a fase inicial com Peter Banks nos comandos e principalmente pela formação clássica: Jon Anderson(vocal), Chris Squire(baixo), Steve Howe(guitarra), Alan White(bateria) e Rick Wakeman(teclados). "Tormato" apresenta a transição de um período experimental e virtuoso(anos 70) em direção a composições mais comerciais e com arranjos menos complexos(anos 80) e sabemos que um período de mudanças nem sempre é bem aceito pelo público.
Muitas dessas queixas recaem em três aspectos. A grande autoridade que
Jon Anderson exercia no grupo nessa ocasião, e de fato algumas músicas soam como algo solo dele, do que propriamente do Yes, exemplo típico está em "Circus Of Heaven", a guinada para uma sonoridade menos complexa, a música inicial "Future Times" que considero excelente, já flerta de cara com o pop rock, se distanciando dos movimentos progressivos, intricados e psicodélicos de trabalhos anteriores e a presença sem ímpeto de Squire na maior parte do álbum, em alguns momentos totalmente burocrática. Sua participação se salva na trilha final.
A produção do "Tormato" foi concluída durante um dos períodos mais turbulentos entre os integrantes da banda, Wakeman e Anderson tiveram inúmeros atritos durante as gravações e foram os membros que mais se desgastaram, não por acaso acabaram sendo preteridos no trabalho posterior - "Drama". O vocalista passava por um período de espiritualização intensa que de certo não agradava aos membros do grupo, tanto que sua saída foi inevitável. Vejo esse fato até como algo positivo para o Yes, tendo em vista que Anderson aproveitou para criar belos trabalhos com Vangelis e o Yes, por sua vez, brindou o público com o excelente "Drama", abrindo caminho para um retorno revitalizado, no vibrante "90125", três anos depois.
Nutro uma apreço especial por "Don't Kill The Whale", a guitarra de Steve Howe está perfeita, com solos encantadores, a temática ecológica é visionária, o vocal de Anderson está soberbo, um aço e os teclados de Wakeman dão um show à parte. Mesmo sendo considerada algo pop, algo comercial, ainda assim possui grandes méritos, sendo ao lado de "On The Silent Wings Of Freedom" e "Madrigal" as que mais gosto no disco. Nessa última Wakeman inovou, debulhando um autêntico cravo, perpassando por um dos arranjos mais belos criados pelo Yes, o único senão de "Madrigal" é sua curtíssima duração.
É fato que nesse álbum o grupo tentou vários estilos e direções musicais, até mesmo na busca por uma alternativa divergente de períodos anteriores, entretanto a banda não me soa muito coesa e harmônica e ainda sofreu o estigma de ter um predecessor estupendo - "Going For The One", causando até certa estranheza, já que a formação de ambos é exatamente a mesma pra tamanha diferença de qualidade em tão curto espaço de tempo. Curioso que no mesmo ano de lançamento do "Tormato", o grande par do Yes, o medalhão inglês Genesis também lançou um trabalho muito controvertido - "And Then There Were Three" que também apontava para uma nova fase menos rebuscada, nesse ponto as duas bandas traçaram autênticas linhas paralelas em suas carreiras. Em que pese os insultos dos admiradores mais antigos e exigentes, ambos os grupos obtiveram relativo sucesso e emplacaram duas grandes baladas: "Onward" e "Follow You Follow Me".
Apesar de tudo, a turnê do "Tormato" foi muito concorrida e marcante, com shows apoteóticos e músicas carregadas de emoção, tanto pelo dedilhado mágico de Howe, quanto pelos majestosos vocais de Anderson. Em 1996 essa mesma formação retornou no triunfante "Keys To Ascension" e surpreenderam o público com uma versão muito superior à original para "Onward", uma das raras composições solo de Squire no Yes.
Mesmo que essa resenha não aborde a versão remasterizada do disco, fixando-se apenas na obra original, recomenda-se a mesma já que possui nove faixas bônus apresentando números inéditos da banda, em se tratando de Yes, sempre podem agregar um algo a mais.
Ainda que bem inferior ao "Going For The One", "Tormato" possui seus momentos(solo de Wakeman em "Rejoice" e o cravo em "Madrigal", guitarra de Howe em "Don't Kill The Whale", batera de White em "Release Release", etc.) que me faz crer valer a pena, mesmo para aqueles que não sejam admiradores inveterados da banda, sendo superior a pérolas como "Big Generator" e "Union". |
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