Obra-prima, irretocável
Esse trabalho é um dos grandes petardos da primeira metade da década de 70 na Alemanha, ouso dizer que dos grandes grupos alemães, o Grobschnitt conseguiu, talvez, a estréia mais espetacular com o lançamento desse seu álbum inaugural nos idos de 72, superior às estréias de bandas como Triumviratt e Eloy e no mesmo nível de estréia do grupo Jane. A diferença para o Jane, é que esse não conseguiu manter o mesmo nível ao longo dos anos, enquanto aquele até se superou após essa estréia impressionante.
A formação nesse trabalho conta com o trio de ouro; Joachim Ehrig, o famoso Eroc(bateria principal), Stefan Danielak, o carismático Wildschwein(guitarra base e vocais) e Gerd-Otto Kühn, o fenomenal Lupo(guitarra principal e solo), além de Hermann Quettin(teclados), Axel Harlos(percursão e bateria) e Bernhard Uhlemann(baixo).
Os ecos e ironia e bom humor, característicos do grupo, já podem ser sentidos na introdução com a belíssima "Symphony", em que uma algaravia se forma, interrompida por uma voz de comando, dando início a uma sinfonia ambulante e psicodélica com um coro bizarro, sendo seguido à risca por acordes semelhantes nas guitarras. Após essa introdução lunática e clássica, segue-se o que há de bom no progressivo, riff de guitarra, hammond arrebentando e uma batera dupla pra arrepiar. Já é possível perceber nessa primeira música a orientação clássica que o grupo imprimiu nesse trabalho, com tintas inspiradas em alguns eminentes compositores alemães, principalmente Wagner. O contraponto irônico se dá pela extrema superficialidade da letra, que destoa completamente da complexidade musical e para levar os vocais com toda maestria zombeteira, só mesmo Wildschwein. Atenção para a segunda metade de "Symphony", pois temos um piano inspirado, que culmina com um solo de Lupo simplesmente arrebatador, bem ao estilo do que o Yes produziu em "Tales From Topographic Oceans".
"Travelling" possui uma conotação mais próxima do space hard, orientação musical que volta e meia a banda também andou trilhando ao longo dos anos 70, aqui temos uma similaridade com algumas músicas do Eloy contidas no "Inside" e "Floating", com destaques absolutos para a incrível variação da bateria, aliás, aqui são duas, realmente é arrasador, se Eroc já vale por três, imagina com um percusionista de alto nível lhe fazendo companhia, só poderia mesmo ter um resultado elevado. É de se destacar a perfeita harmonia da guitarra de Lupo com os vocais, algo que permeou toda a carreira do grupo.
O título da terceira música já diz tudo - "Wonderful Music" é justamente isso, uma composição com o que há de mais belo na simplicidade de uma viola bem melódica, sopros contudentes de flauta e um vocal emotivo, todos os ingredientes na medida certa. Nota-se ecos de algumas músicas do Genesis, entretanto somente ecos, pois antes de qualquer coisa, esses alemães brincavam de ser originais, impossível classificar o estilo musical do Grobschnitt referenciando-se em outra banda, fizeram a sua própria escola e criaram seu próprio perfil, que pode ir do momento mais doce ao momento mais hard. Assim é o Grobschnitt!
Por fim, desaguamos na poderosa suíte "Sun Trip", iniciando-se com uma entoação feita por Eroc em alemão, aqui não cabe muitos comentários, é preciso ouvir o que essa turma é capaz de produzir, permeia inúmeras orientações(Wishbone Ash, Caravan, Nektar, Pink Floyd, Yes, Genesis e Jethro Tull) numa suíte com arranjo clássico do sinfonismo, entretanto não posso citar o Grobschnitt influenciado por essas bandas, a rigor, ocorre de fato uma similaridade, até porque é quase inviável ter como influências bandas tão distintas, sem falar que são todas praticamente contemporâneas. O que posso afirmar, é que se o sujeito curte essas bandas citadas, com certeza terá 100% de chances de também curtir esse primeiro trabalho dos alemães. |
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