Wejah - Springtime - Progbrasil

Wejah

Brasil
http://www.wejah.com.br




Titulo: Springtime
Ano de Lançamento: 2006
Genero:
Label:
Numero de catalogo:

Revisto por Gibran Felippe em 19/02/08 Nota: 8.5

 

Fantástico, vai rolar direto no meu som


Conheci a musicalidade do grupo paulista Wejah, através do disco "Senda", já faz algum tempo. Na primeira audição, tal trabalho não despertou muito meu interesse, estava envolto em várias obras pra ouvir e o álbum acabou passando desapercebido em meio a esse turbilhão de novas e velhas bandas que nos atemos em audições diariamente. Um pouco depois, com calma, coloquei o "Senda" no player e o disco de certa forma foi ganhando espaço diante das minhas preferências musicais. Esse fator é muito interessante, pois sempre que ouço algo que num primeiro momento não chama a atenção, porém com o tempo produz o efeito de repararmos que se trata de algo realmente bom e atinge o nosso gosto em cheio, considero melhor que ouvir música, onde num instante inicial soa como obra-prima e mais a frente torna-se desinteressante e enfadonha.

Dez anos se passaram entre "Senda" e a última obra de estúdio do grupo: "Springtime". Nesse período a formação foi constantemente alterada, restando do time original Jorge Sanchez -baixo e voz e Wladimir Augusto – bateria, juntando-se a eles Nelson Sanchez – guitarras e teclados (participante do projeto embrionário Renascença, mas que não chegou a gravar quando a banda passou a utilizar sua denominação atual e permanente), Marcelo Perez – teclados, Luiz Fernando Piriquito – bateria (em substituição ao Wladimir durante as gravações) e Bráulio Veiga – bateria em "Insanity". O desafio aqui era não só mostrar que o Wejah ainda estava vivo e em plena atividade, como também manter o nível de qualidade do disco anterior.

"Springtime" não possui uma referência óbvia, daquelas que podemos assinalar de imediato. Trata-se de progressivo sinfônico, mas com inúmeras gretas, principalmente pela profusão de timbres utilizados nas guitarras e teclados. É possível identificar em toda obra traços relacionados ao Yes, Jon Anderson solo, Marillion, Pallas, Djam Karet e Kaseke, no caso dos grupos nacionais uma boa referência sonora são os cariocas do Aether. O Wejah coloca todos esses elementos num caldeirão e o resultado é uma iguaria fina, que pode ser degustada solo ou com um grupo de amigos, sem maiores preocupações com afetações típicas do excesso de experimentalismo, metal ou com o glacê pop que estragam muitas obras da nova geração. O grupo consegue através de um termostato muito bem regulado, o equilíbrio sonoro para agradar quem está somente atrás de um bom, escorreito e impoluto rock progressivo, nada além disso.

A composição de abertura "Beginining Of Life" é pautada na levada quebrada do Wladimir Augusto, gosto muito desse baterista, considero um dos pontos altos do grupo, possuindo uma categoria fortemente acentuada que remete ao mestre Bill Bruford, lamentável que ele tenha deixado a banda durante a concepção desse trabalho. Outro destaque é a guitarra limpa do Nelson Sanchez e também suas incursões incidentais ao teclado, vale ressaltar que o tecladista Marcelo Perez só aparece na terceira música do disco. Os vocais de Jorge Sanchez possuem um quê de Fish e também de Alan Reed, principalmente nos momentos de maior força. Na sequência, ainda com a mesma formação, temos um set instrumental "First Spring Flower" com vocais episódicos a la Jon Anderson por demais agradáveis, destaca-se também a marcação suingada no baixo, aqui em primeiro plano ante a guitarra.

"Insanity" traz a presença de um tecladista fixo e esse fator contribui para que o grupo amplie sua plataforma musical, onde a guitarra pode solar a vontade, já que a cozinha está completa. A letra é melancólica com contexto musical sinfônico, típico de grupos dos anos oitenta como Marillion e Pallas. O tecladista Marcelo Perez mostra grande talento em camas acústicas com timbres de piano, da mesma forma que sola com desenvoltura nos synths, conduzindo de forma equilibrada a alternância entre esses elementos conforme o desenvolvimento musical, trata-se de um componente que acrescentou muito durante todas as músicas que participou do "Springtime". O destaque negativo fica para a bateria do Bráulio Veiga, extremamente burocrática e pouco inspirada, chegando ao ponto de incomodar de fato, várias situações que mereciam uma boa virada, passaram em branco, dando saudades do Wladimir.

Algo que sempre noto quando ouço o ótimo álbum "Senda" é que falta uma música de referência, aquela que não seja necessariamente a melhor, mas a mais marcante, uma longa suíte ou algo parecido, que tenha um apelo forte a ponto de ficar na mente das pessoas. "Springtime" possui essa referência, é a música "North, South, East and West", sem dúvidas o ponto alto do disco, com inúmeras variações, solos de guitarra, de baixo, de teclados, a bateria de Piriquito marca adequadamente e também supera tranquilamente a anterior. Impossível ficar alheio ao dedilhado de guitarra da introdução, assim como a virada dos teclados na metade da música, responsáveis por uma guinada sonora supreendente. Mesmo com seus nove minutos, a sensação que fica é que foi interrompida antes da hora, estava fluindo tão bem que poderia continuar navegando por outros mares sonoros para regozijo dos ouvintes...

"Bragdah" e "Box Of Surprises" retoma a formação das duas primeiras músicas, sem os teclados de Perez e com o retorno do Wladimir Augusto na bateria. Com essa formação ocorre um ajuste bem distinto com relação à anterior, a marcação é mais jazzy, tanto pela bateria, quanto do baixo, permitindo alguns momentos que se aproximam de autênticas jams, onde a cada instante um instrumento perfila-se em primeiro plano, lembrando os melhores momentos do Djam Karet e da longíqua banda da Estônia - Kaseke. Esse fator é extremamente atraente, porque possibilita a fuga do lugar comum e a banda soube aproveitar de forma coerente as características de cada formação, sem passar a idéia de desarmonia ou de músicas completamente antagônicas num mesmo álbum, mesmo sendo perceptível tal distinção. O fato de não incluírem todas as músicas da formação em trio de uma só vez, foi uma sacada e tanto, ou seja, essas músicas fazem parte da abertura e depois do encerramento, caso contrário, se fossem dispostas na sequência normal, poderia soar como "banda 1" e "banda 2" no mesmo disco de um único grupo, algo que não acontece de fato durante a audição completa do "Springtime".

O grupo encontra-se numa fase promissora, buscando espaço através de shows pelo Estado de São Paulo, e também pela possibilidade de belas parcerias; e todos que curtem um autêntico rock progressivo e os que estão em busca de rock um pouco além do trivial, estão torcendo para que o esforço hercúleo de congregar esse estilo tão conspurcado pela mídia, germine frutos maduros num futuro próximo.

P.S. Resenha dedicada ao músico Jorge Sanchez, pois sem a colaboração do mesmo, não seria possível concebê-la.
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